O Globo, n. 32015, 02/04/2021, País, p. 8

 

Exército se mantém distante da política, afirmam analistas

Gustavo Schmitt

02/04/2021

 

 

As indicações do presidente Jair Bolsonaro para a nova cúpula das Forças Armadas reforçam a distância do Exército da política. Para analistas, Bolsonaro saiu enfraquecido do episódio, já que as dispensas dos chefes de Exército, Marinha e Aeronáutica foram provocadas pela recusa de seus então líderes de aderirem à politização, como queria o presidente da República.

Para especialistas, a escolha do general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira como novo comandante do Exército é sintomática de que o presidente não terá o controle que gostaria sobre a Força. O general mostrou um posicionamento divergente do presidente no combate à pandemia em entrevista ao jornal “Correio Braziliense”. Na publicação, Paulo Sérgio apontou a possibilidade de uma terceira onda da Covid-19 e defendeu o isolamento social.

— Ele (Bolsonaro) achou que ia mostrar controle sobre as Forças Armadas e colheu o reverso. Não tem controle nenhum. O sinal de que o comandante do Exército vai ser o general Paulo Sergio é demolidor. —afirma o cientista político Carlos Melo, do Insper. — Ele (Bolsonaro) fica falando “meu Exército”. Mas ficou claro que o exército é do Estado brasileiro.

FORA DA CRISE

Ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, Alcides Vaz avalia que Bolsonaro buscou uma acomodação para a crise e acabou cedendo a nomeação do general Paulo Sergio.

— Ele não parece ser esse nome subserviente, como queria o presidente. Sua indicação reforça a perspectiva das Forças Armadas se afastarem do epicentro da crise política.

Professor de ciência política da FGV, Marco Antonio Teixeira vê o presidente isolado em meio à crise com as Forças Armadas.

— Embora os militares não sejam coesos, a sinalização de momento é que há hoje no Exército um grupo que quer distância da política partidária. E outro recado dessas mudanças é que Bolsonaro não é tão forte quanto se imaginava.