O Globo, n. 32015, 02/04/2021, País, p. 8

 

Para políticos, manifesto marca aproximação do centro

Gustavo Schmitt

02/04/2021

 

 

Embora digam que ainda é cedo para falar em candidatura única para a Presidência, nomes do centro afirmam que o manifesto em defesa da democracia, divulgado anteontem, foi um importante gesto de aproximação desse campo. Líderes partidários e alguns dos signatários ouvidos pelo GLOBO dizem que o documento cumpriu o papel de fazer contraponto ao aniversário do golpe militar de 1964 e ao presidente Jair Bolsonaro. Segundo eles, a iniciativa recebeu ontem apoio de líderes políticos, do empresariado e personalidades da cultura.

Um dos seis signatários, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), avalia que o momento é de diálogo entre as forças políticas do centro, mas adota cautela ao tratar de composições para 2022.

— Tudo tem sua hora. Agora é a hora da defesa da democracia, da Constituição, da liberdade e da Justiça —afirmou Doria.

Com projetos antagônicos para o país, os presidentes do PDT, Carlos Lupi, e do Novo, João Amoêdo, veem como “difícil” uma possível aliança entre os signatários. Em entrevista à colunista Vera Magalhães, outro dos signatários, Ciro Gomes (PDT), disse não ter ilusões de que sairá uma chapa do grupo:

— Trata-se de um gesto, concreto, no sentido de que, colocadas de lado nossas divergências, algumas inconciliáveis, temos o consenso possível a favor da democracia, da Constituição e contra um claro surto autoritário de Bolsonaro.

Já o ex-ministro Henrique Mandetta (DEM) afirmou ao jornal “Valor Econômico” que pode abrir mão de sua pré-candidatura pela construção de um polo de pessoas que tenham como ponto comum valores como a democracia:

— É a única coisa que posso oferecer. Inclusive o meu não oferecimento. Inclusive a minha não candidatura para que haja uma unificação do país.

O presidente do DEM, ACM Neto, porém, disse não acreditar que o manifesto altere o cenário para a próxima eleição ao Planalto, mas diz não ter dúvidas do seu “peso simbólico”.

Ao organizar o manifesto, o grupo não chamou o PT. Ontem, em entrevista à Rádio Band News FM, o ex-presidente Lula parabenizou a iniciativa, mas lembrou que parte do grupo ajudou a eleger Bolsonaro:

— Todos tiveram a chance de garantir a democracia em 2018 votando no (Fernando) Haddad.