O Estado de São Paulo, n. 46468 , 07/01/2021.  Política, p. A12

 

Candidato, Baleia diz que ‘Câmara não pode ser submissa’

Anne Warth

Camila Turtelli

07/01/2021

 

 

Com apoio de 11 partidos, deputado do MDB se lança à presidência da Casa com discurso em defesa da vacina e do auxílio emergencial


Bloco. Maia durante lançamento da candidatura de Baleia Rossi à presidência da Câmara  

No lançamento de sua campanha à presidência da Câmara, ontem, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP) fez críticas ao governo e imprimiu tom de independência em relação ao Palácio do Planalto, escolhendo a defesa da vacina contra o coronavírus e do auxílio emergencial como suas principais bandeiras. Baleia chegou a dizer, ontem, que o Congresso poderá até mesmo se reunir em caráter extraordinário, no recesso parlamentar, caso seja preciso votar alguma medida para que a vacina se torne realidade.

"Nós temos o dever de fiscalizar e acompanhar as ações do Executivo. Exatamente por isso, a Câmara não pode ser submissa. Se for submissa, não fiscaliza e não acompanha", afirmou o deputado, que é presidente do MDB, fazendo mais um aceno aos partidos de esquerda.

A eleição que vai renovar o comando da Câmara e do Senado ocorrerá em 1.° de fevereiro. O principal adversário de Baleia, que conta com o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), líder do Centrão. Lira tem o aval do presidente Jair Bolsonaro.

Na tentativa de se diferenciar do rival, Baleia pregou a prorrogação do auxílio emergencial ou o aumento do Bolsa Família. Foi uma forma de se contrapor a Bolsonaro, que afirmou não ter recursos para mais nada porque o Brasil está "quebrado". O benefício foi pago no ano passado a 67,8 milhões de pessoas, como forma de ajudar no enfrentamento dos efeitos econômicos da pandemia. Custou R$ 322 bilhões, mas terminou em 31 de dezembro.

"Parecia que íamos virar o ano e a pandemia ia acabar. Essa não é a realidade. Hoje temos milhões de brasileiros que vão deixar de receber o auxílio emergencial e voltar a ter grandes dificuldades do mais básico, que é ter alimento na sua mesa", argumentou o deputado. "Entendo que temos de buscar uma solução: ou aumentando o Bolsa Família ou buscando novamente um auxílio emergencial para os mais vulneráveis".

A campanha de Baleia apresentou um vídeo para destacar o que a Câmara fez no ano passado. "Todo mundo sabe o que foi 2020. Você já parou para pensar o que seria do Brasil na pandemia se a Câmara não fosse livre e independente?", pergunta o narrador, citando votações importantes na Casa, como a aprovação do próprio auxílio emergencial e a ajuda financeira para Estados e municípios. Muitas das propostas mencionadas ou não tiveram respaldo do Planalto ou foram modificadas pela Câmara.

Baleia tem aval de 11 partidos, do centro à esquerda – incluindo o PT – que somam 278 deputados. Lira, por sua vez, tem o respaldo de dez partidos, que reúnem 203 parlamentares.

União. "Vivemos um momento histórico, sim, e vale esse registro porque desde a redemocratização não tínhamos a união de partidos que pensam diferente formando uma frente ampla", argumentou o candidato do MDB. "A sociedade quer mais união e compaixão, respeito, igualdade", afirmou. O vídeo exibido antes do discurso de Baleia vai na mesma linha. "Somos muitos. Pensamos e agimos diferente, mas somamos força para manter a democracia viva e a Câmara livre", diz trecho da peça, na qual aparecem deputados de oposição.

Baleia lembrou a aprovação do Fundo Nacional da Educação Básica (Fundeb) e deu uma estocada em Lira ao dizer que partidos do Centrão fizeram obstruções no plenário.

Além de Baleia e Lira, há na disputa pela cadeira de Maia deputados que ameaçam entrar no páreo sem o respaldo de seus partidos e, com isso, podem levar a decisão para o segundo turno. Estão nessa lista Fábio Ramalho (MDB-MG) e Capitão Augusto (PL-SP). Novo e PSOL ainda discutem se lançam candidaturas independentes.

Fiscalização

"Se a Câmara for submissa, não fiscaliza e não acompanha o Executivo."

Baleia Rossi (MDB-SP)

DEPUTADO FEDERAL