Correio Braziliense, n. 21.143, 14/04/2021. Opinião, p. 11

 

Fausto Pinato: a união de todos, pelo bem de todos

Fausto Pinato

14/04/2021

 

 

A pandemia da covid-19 convocou mais uma vez a humanidade para um esforço conjunto e solidário pela vida. Em meio aos impactos sociais no mundo e, sobretudo, no Brasil, a ciência foi a nossa protagonista — e marchou unicamente rumo à concepção de vacinas em tempo recorde para salvar vidas. Agora que as temos, precisamos fazer a nossa parte, como lideranças, cidadãos e humanos.

O Brasil até hoje paga um alto preço pela ingerência na gestão nacional da pandemia. Sob forte interferência ideológica, o governo federal jogou fora o que ainda é mais precioso nessa batalha: tempo. Protelou o que pode para entrar na fila de fornecimento dos laboratórios internacionais, fechou portas para importantes parceiros, tomou decisões técnicas com supostos fundamentos ideológicos, deixou estados e municípios carregarem, quase sozinhos, a tarefa de combate à pandemia. Em diversos momentos este governo cruzou os braços e apontou culpados, tentando se eximir de suas responsabilidades. Crises após crises, o resultado não poderia ser outro. Chegamos à trágica marca média de 3,5 mil a 4 mil mortes diárias por covid-19, com mais de 350 mil brasileiros perdidos.

Uma recente pesquisa da Fiocruz indicou a existência de 92 cepas da covid-19 circulando entre nós. Os cientistas seguem descobrindo novas variantes, agora, nas regiões do interior, onde o vírus se espalha com mais velocidade e mata mais. O Brasil, lamentavelmente e como alertado, tornou-se um 'covidário' mundial.

Além das medidas de cuidados básicos, a vacina é a medida mais eficaz para estancar o avanço da pandemia. Entretanto, nós não superaremos os efeitos da pandemia se o Brasil continuar dependendo das remessas de vacinas do exterior. Temos um calendário lento de importação, que coloca o nosso país em um trágico compasso de espera. À medida que a pandemia também recrudesce nos países produtores de vacinas ou em países parceiros fiéis destes, naturalmente o Brasil perde cada vez mais prioridade para as remessas de doses.

Com as recentes mudanças nos comandos das pastas ministeriais, notadamente Saúde e Relações Exteriores, a história começou a mudar. O Brasil voltou a avançar, aproximando-se de grandes parceiros internacionais, como a China, parceiro histórico que sempre manteve suas portas abertas ao nosso país. O diálogo com outras nações também está progredindo, como com a Rússia, cujo acordo recente entre os presidentes Jair Bolsonaro e Vladimir Putin nos deixa na expectativa de parceria na compra da Sputnik V, já em produção em larga escala no Brasil.

No entanto o tempo é curto, e ainda há muito o que fazer. O Brasil precisa ampliar mais o seu escopo de parcerias internacionais. Que fique claro: enquanto a grande maioria dos brasileiros economicamente ativos não forem imunizados, a economia não voltará ao ritmo de antes.

Já há algum tempo, venho dizendo: o Brasil ainda pode virar esse jogo. Há empresas farmacêuticas genuinamente brasileiras preparadas para produzir mais do que vacinas. Elas podem fabricar a matéria-prima, conhecida como IFA — Insumo Farmacêutico Ativo. A mudança do patamar de importador para fabricante de vacinas seria a chave para o Brasil tornar-se autossuficiente em todo o processo de imunização, somando esforços aos projetos já em andamento na Fiocruz e no Instituto Butantan para produzirem IFA. Essa também seria uma oportunidade para ajudarmos outros países da América Latina e do continente africano.

A Agência Nacional de Vigilância Nacional (Anvisa) conhece bem o potencial brasileiro, afinal, o órgão emitiu certificação a uma farmacêutica brasileira sediada em meu estado, São Paulo. O parque fabril desta empresa tem capacidade para produzir, anualmente, 450 milhões de doses de vacinas. A expectativa é de que, em 10 meses, a população brasileira esteja imunizada contra a covid-19.

Diante da possibilidade de tornar o Brasil mais eficiente na luta contra a pandemia, estou buscando apoio aos governos dos países do Brics, como China, Rússia e Índia, os três países do bloco produtores de vacinas para o mundo, a fim de viabilizar tratados de cooperação internacional com transferência tecnológica junto aos laboratórios internacionais. O diálogo, via embaixadas, e com o envolvimento de autoridades brasileiras e estrangeiras, está avançando rapidamente.

Os erros e acertos no combate à pandemia mostraram que somente com a união de todos é que conseguiremos vencer aquilo que é o nosso único inimigo neste momento. (...)

Fausto Pinato

Deputado federal, presidente das frentes parlamentares Brasil-China e dos Brics do Congresso Nacional.