O Globo, n. 32029, 16/04/2021, País, p. 6

 

Ex-superintendente foi cotado para o Meio Ambiente

Marlen Couto

16/04/2021

 

 

Responsável pela notícia-crime contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o agora ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas Alexandre Saraiva já foi cogitado para cargos importantes do governo do presidente Jair Bolsonaro, mas não foi escolhido. Em 2018, Saraiva chegou a ser sondado, inclusive, para o posto de ministro do Meio Ambiente. Em dezembro daquele ano, ele falou com o presidente por telefone e em seguida o encontrou para uma conversa. Foram duas horas de diálogos obre temas ligados a questões ambientais. No fim das contas, Ricardo Salles se tornou o ministro.

Em 2019, Saraiva foi convidado pelo ex-ministro da Justiça Ser gio Moro para assumira presidência da Funai, órgão vinculado à pasta, mas a indicação não se confirmou, apesar de o delegado ter aceitado o posto. A aproximação com Moro e o convite ocorreram após uma visita do ex-ministro a Manaus, em meio à crise penitenciária do Amazonas.

Saraiva é amigo do diretor geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, quem Bolsonaro tentou emplacar na diretoria da PF no ano passado no lugar de Maurício Valeixo. Saraiva foi superintendente da PF em Roraima e chefe imediato de Ramagem, que foi delegado no estado. A indicação acabou suspensa por decisão do Supremo Tribunal Federal.

Saraiva também já participou da live de Bolsonaro, a transmissão ao vivo pela internet que o presidente faz semanalmente. O ex-superintendente do Amazonas era a escolha de Bolsonaro para comandar a Superintendência do Rio, centro da crise que levou à saída de Moro do governo. Na ocasião, em depoimento prestado no inquérito que apura se Bolsonaro tentou interferir na PF, Saraiva afirmou não ter qualquer proximidade com o presidente e sua família e que não teria aceitado o cargo, se tivesse sido efetivamente indicado.

Em novembro passado, Saraiva participou de uma das lives semanais de Bolsonaro, em que falou sobre o trabalho da PF para identificar fraudes em processos administrativos para autorizar o desmatamento. Na transmissão, Bolsonaro em diversos momentos questionou Saraiva sobre a responsabilidade de países europeus e dos EUA sobre o problema.

Saraiva é natural do Rio e começou a carreira em 2003 na delegacia da PF de Nova Iguaçu, onde atuou no combate a milícias.