O Globo, n. 32028, 15/04/2021, País, p. 7

 

Bolsonaro troca almirante por coronel da PM na comunicação

Jussara Soares

Daniel Gullino

Marlen Couto

15/04/2021

 

 

O almirante Flávio Rocha deixará o comando da Secretaria Especial de Comunicação (Secom), que vem chefiando interinamente há um mês. Um dos principais auxiliares do presidente, ele seguirá apenas à frente da Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE). A Secom, por sua vez, deverá ser comandada pelo coronel da Polícia Militar André Costa, que atualmente é assessor especial da Presidência.

A mudança na Comunicação, de acordo com o colunista Lauro Jardim, tem influência do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), que vinha reclamando do almirante no posto, alegando que o governo está sob ataque, em função do agravamento da pandemia de coronavírus, e não tem conseguido se defender.

Em ocasiões anteriores, como nos episódios em que os ministros Gustavo Bebianno (SecretariaGeral) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo) deixaram o governo, a atuação de Carlos foi decisiva para a saída dos auxiliares, que começaram a gestão, em 2019, como nomes de confiança de Bolsonaro.

Integrantes do governo, no entanto, evitam relacionar a mudança ao filho do presidente e dizem que Bolsonaro queria o almirante mais focado nas funções ligadas à Secretaria de Assuntos Estratégicos, em que desempenha um papel mais próximo ao presidente. Por isso, teria sido aconselhado por assessores do gabinete a fazer a alteração.

INDICAÇÃO DE OLIVEIRA

Costa, o provável sucessor, foi levado para o governo por Jorge Oliveira, ex-chefe da SecretariaGeral e hoje ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Os dois são amigos e da mesma turma da Academia da Polícia Militar no Distrito Federal, segundo informou a colunista Bela Megale.

A sugestão de indicá-lo para a chefia da Secom teria partido de outros assessores do gabinete que também são ligados Oliveira, nome próximo da família Bolsonaro — Costa é visto como alguém com bom trânsito no Palácio do Planalto. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, ainda vai conversar com Costa antes de tomar a decisão — a estrutura da Secom é vinculada à pasta comandada por Faria.

A Secom é responsável por gerenciar a comunicação do governo, o que inclui relacionamento com a imprensa, os posicionamentos institucionais e o direcionamentos das verbas de publicidade.

Ontem, Rocha acompanhou Bolsonaro em uma visita à embaixada do Reino Unido, ao lado de ministros. Depois, participou de um seminário online promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mas deixou o evento antes do fim, minutos antes de sua saída do governo ser anunciada.

Flávio Rocha assumiu a Secom substituindo o exsecretário Fabio Wajngarten, que deixou o cargo após acumular atritos no governo. A ida de Rocha para Secom foi costurada durante uma viagem com Faria, em um roteiro que passou por Suécia, Finlândia, Coreia do Sul, Japão e China, para visitar empresas de tecnologia 5G, em fevereiro. O almirante, que é militar a ativa, já chefiou a Comunicação da Marinha.

COTADO PARA O ITAMARATY

O militar chegou ao Planalto no início de 2020 para assumir a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos e se tornou um dos principais auxiliares de Bolsonaro. Em pouco tempo, Rocha passou a ser apontado como um “administrador de conflitos” no governo e tem atuado também como uma espécie de relações públicas, organizando encontros do presidente com parlamentares e integrantes de outros poderes. A ascensão rápida, no entanto, gerou ciúmes no governo.

Em meio ao desgaste com o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, Rocha chegou a ter o nome cotado para assumir o Itamaraty. Quando a crise com o Senado tornou a permanência de Araújo insustentável, no entanto, o escolhido para o posto foi o embaixador Carlos França.

Rocha havia assumido a função após os atritos que causaram saída de Wajngarten