O Globo, n. 32027, 14/04/2021, Economia, p. 21

 

Seis de cada 10 famílias não têm garantia de comida na mesa 

Carolina Nalin

14/04/2021

 

 

Mais da metade dos domicílios no país (59,4%) apresentaram algum grau de insegurança alimentar entre agosto e dezembro de 2020. Na prática, isso significa que seis em cada dez famílias não tinham garantia de ter comida no prato, o equivalente a mais de 125,6 milhões de pessoas que não se alimentavam como deveriam ou já conviviam com a incerteza quanto ao acesso à comida no futuro.

Desta parcela da população, 44% ainda diminuíram o consumo de carnes, e 41%, ode frutas. Os números são da pesquisa “Efeitos da pandemia na alimentação ena situação da segurança alimentar no Brasil”, coordenada pelo Grupo de Pesquisa Alimento para Justiça da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria coma Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de Brasília (UnB).

O estudo, divulgado ontem, foi realizado entre novembro e dezembro do ano passado. Cerca de duas mil pessoas que fizeram parte da amostra relataram sua situação de segurança alimentar a partir do mês de agosto.

Do percentual de domicílios brasileiros que estavam em situação de insegurança alimentar, 31,7% relataram insegurança leve; 12,7%, moderada; e 15%, grave — quando há falta de alimento.

Nas casas em que há crianças de até 4 anos, os índices de insegurança são ainda mais críticos do que na média do país: apenas 29,3% destes domicílios têm acesso à quantidade e à qualidade ideais. Entre os 70,6% que vivem algum nível de insegurança alimentar, 20,5% passam fome.

A situação mais grave é no Nordeste, onde 73,1% dos lares registraram situação de insegurança alimentar. Em seguida, aparece a Região Norte, com 67,7%. A melhor situação foi encontrada na Região Sul. Mesmo assim, metade dos domicílios (51,6%) estava em insegurança alimentar. Centro-Oeste (54,6%) e Sudeste (53,5%) também registraram números preocupantes.

A pesquisa mostrou que os beneficiários do Bolsa Família enfrentam os maiores níveis de insegurança alimentar no país, com 88,2%. Deste grupo, 35% passam fome, e outros 23,5% convivem com um nível moderado de insegurança alimentar.

Nos domicílios que receberam pelo menos uma parcela do auxílio emergencial, a insegurança alimentar grave chegou a 77,4%. Segundo o estudo, 63% dos lares que tiveram acesso ao benefício usaram o recurso para comprar alimentos. Por isso, o fim do benefício em dezembro e a nova rodada com valores menores causam preocupação entre especialistas.

Já nas casas em que há recursos de aposentadoria ,46% dos domicílios estão em situação de segurança alimentar, indicando um nível melhor do que aquelas que receberam auxílio emergencial ou Bolsa Família.