O Globo, n. 32026, 13/04/2021, País, p. 6

 

Com popularidade em queda, Bolsonaro mantém engajamento

Marlen Couto

13/04/2021

 

 

Aqueda de popularidade de Jair Bolsonaro na crise associada à Covid-19, captada por recentes pesquisas de opinião, não impactou o desempenho do presidente nas redes sociais, meio de comunicação central para sua eleição em 2018. A constatação é de uma análise feita pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV), a pedido do GLOBO, que comparou a capacidade de engajamento dos perfis de Bolsonaro à de possíveis presidenciáveis em 2022.

O desempenho de Bolsonaro coloca o presidente, segundo o levantamento, com vantagem em relação aos potenciais concorrentes. Entre 11 de março e 5 de abril, período em que o país atingiu pico de mortes diárias pela doença, Bolsonaro liderou com folga o ranking de compartilhamentos, comentários e visualizações no Twitter, Facebook, Youtube e Instagram, ficando à frente, inclusive, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aparece em segundo lugar, no momento em que o petista ganhou destaque com a anulação de suas condenações na Lava-Jato.

O impacto digital de Bolsonaro também foi maior que o do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). No Twitter, por exemplo, o presidente atingiu em média mais que o dobro dos retuítes de Lula.

O sociólogo Marco Aurélio Ruediger, diretor da DAPP/ FGV, chama a atenção para a resiliência de Bolsonaro nas redes em um momento de crise. Enquanto o país ultrapassa a marca de 350 mil mortes na pandemia, a avaliação de que a gestão de Bolsonaro na área é ruim ou péssima cresceu. Segundo o Datafolha, chegou a 54%, ante 48% em janeiro. A taxa de quem considera o governo ótimo ou bom tem se mantido na faixa de 30%.

— Numa situação de máxima pressão, Bolsonaro não diminuir seu impacto nas redes éumf eito considerável. Significa que,p assada apressão,po decrescer rapidamente. O eleitorado de Bolso naroé muito fielp orque não estáv in cula doàperspectiv ar acional. Ele opera no campo emocional — diz Ruediger.

A DAPP/FGV analisou ainda mais de 18,3 milhões de menções no Twitter aos cotados para disputar as eleições. Ainda que estejam em desvantagem frente à oposição, os apoiadores deBol sonar o mantiveram o nível de engaja mentonas três semanas analisadas, somando entre 38,6% e 44% das interações. Já a oposição concentrou entre 57% e 58,8% do debate.

No período, o país também viu Bolsonaro promover trocas em ministérios, entre eles o da Saúde e da Defesa, e entrou em crise com as Forças Armadas.

Estudioso do bolsonarismo, o professor da Universidade da Virgínia David Nem er considera que o alto engajamento de Bolsonaro é fruto do investimento do presidente em uma narrativa de “nós contra eles ”, com ataques a opositores eàim prensa, que serve para motivarem antersu abas e unida. O bom desempenho de Bolsonaro é também, na sua avaliação, ainda fruto do legado construído antes da eleição de 2018, com uma infraestrutura organizada para compartilhar conteúdos.

— Quando Bolsonaro sofre pressão, essa infraestrutura construída em 2018 já está pronta para agir.

Um caso raro de organização da oposição, segundo Nemer, foi a campanha “BolsoCaro”. Sem indicação de autoria e impulsionado por influenciadores, o vídeo faz críticas ao desempenho ruim da economia no governo Bolsonaro.