Correio Braziliense, n. 21.140, 11/04/2021. Brasil, p. 7

 

Brasileiros vacinados no exterior: alívio

Maria Eduarda Cardim

11/04/2021

 

 

Enquanto o Brasil presencia um cenário de caos, ansioso para engatar uma vacinação contra covid-19 mais célere e, assim, conseguir viver tempos mais calmos, alguns dos 3,6 milhões de brasileiros que moram no exterior, segundo estimativa do Itamaraty, vivem um quadro totalmente diferente. Já vacinados, eles veem a vida retomar a normalidade, comemoram a rápida imunização, mas não deixam de se preocupar com os parentes que ficaram na terra natal e ainda sequer têm previsão de receber a primeira dose da tão sonhada vacina.

É o caso do engenheiro de produção Victor Spach, 26 anos, que mora em Israel há três anos e já tomou as duas doses da vacina da Pfizer, a Comirnaty, ainda em fevereiro. "Quando começaram a surgir as vacinas, não esperava ser vacinado tão rápido, mas os avanços dos acordos das vacinas foram feitos de forma surpreendente. Então, Israel conseguiu adquirir muitas vacinas", lembra.

Atualmente, Israel é o país que mais imunizou a população. Segundo o site Our World in Data, desenvolvido pela Universidade de Oxford, 61,29% dos israelenses já receberam pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19. Victor observa que a maioria das pessoas do convívio dele já foi protegida.

O morador de Israel afirma que a vacina representa esperança, já que, com ela, as coisas podem voltar ao menos "um pouco ao normal". "Foi um privilégio ter tomado essa vacina tão cedo, porque vejo as condições dos outros países, inclusive do Brasil, que são, realmente, muito preocupantes", lamenta.

Assim como Victor, Carlos Wesley Silva, 37 anos, morador de Chicago, nos Estados Unidos, já tomou as duas doses da vacina da Pfizer. Sem pagar pela vacina, o motorista de aplicativo utilizou o sistema público para receber o imunizante. "Não esperava ser vacinado tão rápido, mas fui porque sou trabalhador essencial, então consegui me encaixar em um dos requerimentos do governo", contou.

O imunizante da Pfizer é um dos aplicados na população americana. No Brasil, apesar de já ter registro definitivo concedido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ele não está disponível para a população. Isso porque o governo federal chegou a recusar ofertas da Pfizer em 2020, em razão das cláusulas contratuais, segundo o Ministério da Saúde.

Com a legislação flexibilizada pelo Congresso Nacional, a pasta, no mês passado, fechou contrato para compra de 100 milhões de doses da Comirnaty. No entanto, apenas 1 milhão de unidades chegarão neste mês ao Brasil, segundo a Pfizer. Outros 2,5 milhões serão enviados em maio e o restante será entregue até setembro.

Preocupação
Wesley, que aos 37 anos está imunizado, se preocupa de longe com a mãe, de 57 anos, que ainda não tomou nem a primeira dose no Brasil. "É muito triste, porque os governantes não se preocuparam em fazer o que estão fazendo agora, que já é um pouco tarde", critica. O sentimento de preocupação com familiares e amigos que moram no Brasil é comum entre os brasileiros que vivem no exterior.

Para a estudante Camilla Almeida, 27 anos, que mora em San Diego, na Califórnia, a preocupação é um pouco menor. Os pais que foram visitá-la nos Estados Unidos e acabaram sendo imunizados lá. "Eu não imaginava que seria vacinada tão cedo, quanto mais meus pais, que não moram aqui", disse. Ela, o pai e a mãe receberam a vacina da Janssen, que requer dose única.

A mãe de Camilla, Mônica Almeida, 55 anos, foi passar o Natal de 2019 com a filha e, com o surgimento da pandemia da covid-19, adiou a volta ao Brasil. Por isso, Mônica precisou estender o visto por duas vezes. "Vou entrar na minha terceira extensão para esperar a situação no Brasil melhorar um pouco. Por mais que eu tenha sido vacinada, tenho medo das variantes do vírus que surgiram no país", disse.

O governo brasileiro também comprou a vacina da Janssen, empresa farmacêutica da Johnson & Johnson, mas as 38 milhões de doses do imunizante só devem começar a ser aplicadas no braço dos brasileiros em julho. O contrato foi fechado mês passado. "Eu me sinto privilegiada por ter recebido essa vacina aqui. Quando olho para o Brasil, penso que estava no lugar certo na hora certa", avalia Mônica.

Os 10 países que mais aplicaram

Ainda com uma vacinação considerada lenta, o Brasil vê outros países avançarem na imunização dos cidadãos

País Percentual da população que recebeu a 1ª dose
Israel 61,29%
Estados Unidos 33,50%
Bahrein 32,45%
Hungria 27,84%
Uruguai 22,97%
Alemanha 14,57%
Turquia 12,60%
Brasil 9,12%
Índia 5,98%
Rússia 5,58%
» Na comparação por números relativos, Israel continua como o primeiro lugar da lista. O Brasil fica na 18ª posição.

Países que mais aplicaram pelo menos a primeira dose por grupo de 100 habitantes
Israel 118,13 doses a cada 100 habitantes (1º lugar)
Estados Unidos 53,47 (6º lugar)
Brasil 12,11 doses (18º lugar)
Fonte: Our World in Data (dados até 9 de abril)