Correio Braziliense, n. 21.139, 10/04/2021. Brasil, p. 5

 

Queiroga: Saúde não tem vara de condão para tudo

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

10/04/2021

 

 

Diante da interrupção na vacinação em alguns municípios, ministro culpa a desorganização na distribuição local, os atrasos na importação e a escassez global de imunizantes. Mortes no país em 24 horas foram 3.693, segundo dados do Conass

A pandemia da covid-19 continua, dia após dia, somando notificações de perdas de vidas e uma fila de pessoas infectadas à procura por atendimento hospitalar no Brasil. Com mais 3.693 mortes por covid-19 e 93.317 infecções registradas ontem, o país acumula 348.718 óbitos e 13.373.174 casos confirmados, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). É nesse cenário que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou não ter "vara de condão" para resolver a falta de vacinas em alguns municípios, que chegaram a paralisar a imunização contra o novo coronavírus. Ele atribuiu o problema à desorganização de governadores e prefeitos na distribuição das doses, aos atrasos na importação e à escassez global de fármacos.

"O Ministério (da Saúde) não tem vara de condão para resolver todos os problemas. A gente trabalha todos os dias para trazer alternativas para a população. Se, eventualmente, há um problema com um município, é porque essa logística precisa ser mais bem coordenada. A pasta atua em parceria com as secretarias estaduais e municipais de Saúde", afirmou, ontem, quando foi questionado sobre a paralisação da imunização em algumas capitais.

Pouco mais da metade das doses distribuídas aos estados e municípios chegou aos brasileiros. O motivo: medo de que não haja garantia do reforço, fazendo com que os gestores locais não sigam a recomendação de liberar todo o estoque. Dos 47,5 milhões de doses entregues pelo ministério, 29,2 milhões foram aplicadas, segundo dados do Painel Covid-19 – Estatísticas do Coronavírus.

O ministro visitou as instalações da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável por produzir a vacina de Oxford/AstraZeneca. Antes de ouvir as perguntas dos jornalistas, o ministro, para exemplificar a carência de imunizantes, citou o atraso nas entregas aos países que aderiram ao consórcio Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS). "Há atrasos na entrega dessas vacinas porque é um problema mundial. Isso não é algo só do Brasil", disse.

O Brasil recebeu pouco mais de um milhão de doses do Covax quando o esperado, para março, eram 2,9 milhões de unidades — uma redução de dois terços em relação àquilo que estava programado. A defasagem, no entanto, não foi corrigida no cronograma do ministério, atualizado pela última vez em 19 de março.

Queiroga admitiu que as mudanças no cronograma de entrega do ministério independem da vontade do governo brasileiro. Para solucionar a questão a curto prazo, a pasta conta com apoio do Itamaraty nas negociações diplomáticas. "Temos conversado diariamente com os embaixadores da China, da Índia e de outras indústrias farmacêuticas que produzem vacina para trazer uma solução dentro de um prazo mais rápido possível", indicou.

Questionado pelo Correio sobre as atualizações nas previsões de recebimento de vacinas, o ministério respondeu que ainda não sabe se manterá as mudanças nos números à medida que os imunizantes forem chegando, pois, nos últimos meses, as frequentes projeções para baixo na quantidade disponível frustraram as expectativas.