Correio Braziliense, n. 21.138, 09/04/2021. Brasil, p. 5

 

Novo recorde de mortes em apenas 24h: 4.249

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

09/04/2021

 

 

Pela segunda vez nesta semana, país ultrapassa a marca das 4 mil vidas perdidas para a covid-19 em um único dia. Desde o início da pandemia, são 345.025 vítimas, de acordo com os números coletados pelo Ministério da Saúde

Com novo recorde registrado nas últimas 24 horas, a cada minuto duas pessoas morrem vítimas da covid-19 no Brasil. Com longas filas por um leito de unidade de terapia intensiva (UTI) e sistema de saúde colapsado, a tendência é de que o intervalo de perdas se torne ainda mais curto ao longo do mês de abril, que, em pouco mais de uma semana, somou 23.510 novas fatalidades ao balanço da pandemia. Ontem, o Brasil contabilizou 4.249 óbitos, somando 345.025 vidas perdidas desde o início da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus.

Segunda vez na semana que o Brasil registrou mais de 4 mil mortes em um único dia, a média móvel continua crescendo e chegou a 2.820 perdas, no cálculo que considera os últimos sete dias, segundo a análise do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). A partir da média, que permite fazer considerações mais apuradas ao dissolver os números represados ao longo da semana, é possível calcular que, a cada 30 segundos, um brasileiro morre em decorrência da doença.

As atualizações colocam o Brasil como líder mundial dos incrementos negativos, concentrando mais de um terço das novas mortes. De acordo com a plataforma estatística Our World in Data, a covid-19 mata mais brasileiros que a soma de todos os habitantes de um mesmo continente. Na Europa, por exemplo, a atualização está em torno de 3,1 mil mortes por dia, enquanto a América do Norte registra metade desse número. No cálculo absoluto, o Brasil possui 345.025 mortes, atrás apenas dos Estados Unidos, com quase 560 mil óbitos, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins.

Não há expectativa para que as mortes diminuam a curto prazo. Sobretudo pela atualização de casos, em altos patamares. A média móvel de infecções no Brasil é de 62.859. Desde 6 de março, o número é maior que 60 mil. Ontem, foram acrescentados 86.652 casos ao balanço nacional, que já soma 13.279.857 de positivos desde o início da pandemia.

Lockdown nacional

Diante dos números, entidades de saúde que compõem o Conselho Nacional de Saúde (CNS) recorreram ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que medidas mais restritivas de circulação sejam impostas pelo governo federal. A proposta é de lockdown por 21 dias ainda este mês, acompanhada por auxílio emergencial “adequado para a população”. Com as medidas, as entidades esperam que ao menos 22 mil vidas sejam preservadas em abril, conforme levantamento de especialistas da área.

Sem elas, a previsão é de que o país encerre o mês com quase 420 mil brasileiros mortos, segundo estimativa da Universidade de Washington. O estudo, que leva em consideração as atualizações do Ministério da Saúde, esperava pico de óbito de 4 mil apenas para o dia 24, número que já foi superado no início do mês.

Uma nota técnica de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgada ontem indica que o distanciamento social precisa ser mantido no município do Rio de Janeiro. A nota técnica "Indicadores de Covid-19 e distanciamento social na cidade do Rio de Janeiro", do Observatório Covid-19 Fiocruz, analisou distanciamento social, casos e óbitos na capital fluminense de 26 de março a 2 de abril. Os pesquisadores responsáveis pela pesquisa ressaltam que o efeito positivo do distanciamento social só pode ser observado após no mínimo 14 dias de adoção das medidas. Segundo eles, ainda é cedo para se propor qualquer medida de flexibilização. Pelo contrário, os indicadores mostram que é fundamental intensificar a fiscalização nas áreas de lazer e praias — prorrogando a restrição em sua forma mais rígida —, assim como realizar o controle efetivo de entrada de pessoas em farmácias, mercearias e supermercados. Outra medida fundamental é acelerar a vacinação.

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou ontem que o Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), instaure a “CPI da Covid”, que mira ações e omissões do governo Jair Bolsonaro no combate à pandemia. A Corte também decidiu, por 9 a 2, que prefeitos e governadores podem proibir a realização presencial de missas e cultos em um esforço para evitar a propagação da covid-19 no país.