O Globo, n. 32022, 09/04/2021, Economia, p. 22

 

Em carta, presidente do IBGE defende Censo e diz que ele é fundamental

Cássia Almeida

Carolina Nalin

09/04/2021

 

 

A presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, despediu-se ontem dos funcionários do IBGE por meio de uma carta. Hoje és euúlt imo diaà frente do órgão, e seu sucessor ainda não foi escolhido. A economista—quepe diu demissão um dia depois de o Congresso ter reduzido drasticamente averbado Censo, previstopara aconteceres teano, a R$ 71 milhões, inviabilizando o levantamento decenal — afirmou que o Censo “mais do que nunca será fundamental para o futuro do Brasil.”

No e-mail aos servidores, ela diz: “A importância do Censo é reafirmada pelo próprio contexto de pandemia, que coloca ao país uma ampla gama de profundos desafios. O Censo é crítico nesse processo, uma vez que só ele será capaz de revelar, com precisão, essa realidade.”

O sucessor de Susana não deve ser escolhido tão cedo. Segundo fontes do Ministério da Economia, a indicação não está na lista de prioridade do ministro Paulo Guedes, que está com as atenções voltadas para o impasse do Orçamento.

Susana é funcionária do Banco Mundial cedida ao governo brasileiro. Segundo fontes ligadasàp residente, o passo natural seria voltara o banco, masa decisão ainda não está tomada.

Na carta, em que discorreu sobre seu trabalho à frente do instituto durante um ano e sete meses, agradeceu e enaltecer o trabalho dos servidores. Logo que assumiu, houve críticas sobre a falta de reconhecimento do trabalho da equipe. Ela encerra acarta afirmando que o IBGE “é uma verdadeira joia no serviço público brasileiro, uma instituição da qual todos devemos nos orgulhar, como cidadãos brasileiros, a cada dia de nossas vidas.”

DESTAQUE PARA PNAD-COVID

Até o momento, não está garantida a verba para realizar o Censo. O IBGE cancelou a prova para contratar os cerca de 200 mil recenseadores e agentes necessários para visitar os mais de 70 milhões de domicílios brasileiros. O impasse entre Legislativo e Executivo sobre o Orçamento da União ainda não foi resolvido.

Na carta, apesar de ressaltar a importância da realização do Censo, Susana não citou os cortes de orçamento que o inviabilizaram nem a polêmica sobre a redução do questionário, que provocaram protestos de funcionários e de pesquisadores.

Indicada pelo próprio Guedes para o cargo, Susana não recebeu apoio público do ministério quando o relator do Orçamento, senador Marcio Bittar (MDB-AC), reduziu em 96% a verba para o Censo.

Quando Susana anunciou sua saída, o sociólogo e ex-presidente do IBGE Simon Schwartzman afirmou que ela havia passado 40 dias tentando negociar em Brasília a realização da pesquisa este ano, mas que havia fica completamente sozinha, e não havia mais o que fazer.

A economista disse aos funcionários que deixou as bases para a realização do Censo, levantamento que atualiza as amostras das pesquisas domiciliares como a Pnad Contínua, a fim de retratar com fidelidade as características da população brasileira.

“Tenho a convicção de que conseguimos lançar bases sólidas para que a operação censitária seja implementada. O próximo Censo terá, como lastro, o aprendizado e os avanços técnicos viabilizados nos últimos meses, mas também se apoiará na expertise e na experiência construídas pelos ‘ibgeanos’ ao longo de décadas”, diz a carta.

O sindicato dos funcionários, no entanto, não aprovou a gestão da economista. Para Luanda Botelho, coordenadora do Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE, Susana não ouviu o corpo técnico do instituto e aceitou um orçamento cada vez menos até chegar a um quadro que inviabilizou a pesquisa.

A presidente do IBGE destacou as pesquisas Pnad Covid-19, que acompanharam o mercado de trabalho, divulgando resultados semanais sobre o impacto da quarentena, com o afastamento dos trabalhadores e o acesso ao auxílio emergencial. A pesquisa foi viabilizada no auge do isolamento social. Elas foram interrompidas em dezembro, assim como a Pulso Empresa, que acompanhou o fechamento de companhias na pandemia.

“A quarta linha de ação envolveu a implementação das primeiras pesquisas de pulso na história do IBGE, que tinham como principal objetivo capturar, em tempo hábil, os impactos da pandemia na economia nacional.”

Em seu último dia na presidência do IBGE, Susana assinou três acordos — dois com a Organização das Nações Unidas (ONU) e um com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) —, a fim de acelerar a agenda de modernização pela qual passa o instituto nos últimos anos.

Susana disse ao GLOBO que não quer falar neste momento sobre sua saída, mas ressalta que entregou melhorias para o instituto até o fim do mandato:

— Trabalhei até o último dia. Emplacamos três acordos que são estruturantes para o órgão num momento muito importante.