Correio Braziliense, n. 21130, 01/04/2021. Cidades, p. 16

 

Novo recorde de mortes: 117

Samara Schwingel

Ana Isabel Mansur

Cibele Moreira

01/04/2021
 
 

Pelo segundo dia seguido o Distrito Federal bateu o recorde de registros de mortes por covid-19 em um período de 24 horas. Segundo o boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde, foram 117 óbitos notificados — destes, 11 ocorreram apenas ontem, 105 ao longo de março e uma em fevereiro. O valor é o maior desde o início da pandemia. A média móvel de mortes também alcançou um novo recorde e chegou a 68, um aumento de 165% em relação a 14 dias atrás. Enquanto isso, parlamentares do DF que visitaram o Hospital de Ceilândia relataram um cenário de guerra na unidade, e a rede pública de saúde chegou a 97% de ocupação dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) voltadas para o tratamento da covid-19.

Também nas últimas 24 horas, o DF registrou 1.253 novos casos do novo coronavírus. Com as atualizações, a capital federal chegou a 344.364 casos confirmados e 6.029 mortes desde o início da crise sanitária. A média móvel de casos chegou a 1.573,7 — 5% menor do que há duas semanas — e a taxa de transmissão do vírus ficou em 0,93. Ontem, por volta das 19h, de acordo com o InfoSaúde, site de transparência da Secretaria de Saúde, a rede pública operava com 97,05% de ocupação das UTIs voltadas para o tratamento de covid-19. Na rede particular, esse índice era de 97,9%.

Além da situação alarmante em todo o sistema de saúde, segundo parlamentares do DF que visitaram o HRC, bem como um ofício elaborado pelos membros da Câmara Legislativa (CLDF) e da Câmara dos Deputados, há problemas graves na unidade. Falta de equipamentos para servidores, pacientes atendidos em locais improvisados, além da situação crítica dos corpos no Serviço de Verificação do Óbitos (SVO), responsável pelas mortes ocorridas sem assistência médica, como em casa ou na rua. A denúncia foi encaminhada à Procuradoria-Geral de Justiça do DF para que se tome providências quanto à situação.

Infectados

Em nota técnica divulgada ontem, um grupo de oito pesquisadores de universidades brasileiras e de Portugal apontou que 39% da população do DF foi infectada pelo vírus causador da covid-19 desde o início da pandemia. O valor está muito abaixo da chamada imunidade coletiva — quando entre 60% e 80% da população contraiu a doença. A taxa da capital federal é a mesma do estado do Rio de Janeiro. Juntas, as duas unidades federativas ocupam o 3º lugar da lista, liderada por Amazonas (46%). Mato Grosso (44%) aparece em seguida. "Permitir que a pandemia se alastre até atingir a imunidade coletiva seria desumano e antiético, e implicaria em um número de mortes muito maior do que o já observado até hoje", defende a equipe.

O trabalho também mostra a taxa de transmissão da doença no DF por meio de dois modelos de cálculo: a partir dos casos confirmados (0,97) e por meio do número de mortes (1,36). A grande diferença entre os resultados ocorre por conta da subnotificação de casos e da baixa testagem. "É importante ressaltar que o valor obtido com a série de mortes é muito mais confiável do que o obtido com a de casos", explica a nota. Para que o cálculo por meio do número de casos fosse próximo do real, seria necessário esperar ao menos duas semanas para consolidar os dados. O tempo inclui a procura por atendimento médico, a realização do teste e o resultado. Os pesquisadores ressaltam a situação "extremamente grave" do DF e sugerem a implementação imediata de "medidas duras de distanciamento social''.