O Estado de São Paulo, n. 46451, 21/12/2020. Política, p. A4

Propostas para a saúde ainda não saíram do papel
21/12/2020



A desconexão entre as promessas do governo e a gestão também vão além da economia. O presidente Jair Bolsonaro tem se afastado da maneira como prometeu lidar com o que chamava de "velha política". Hoje, ele estende a mão para a mesma ala que quer aumentar gastos públicos e não se constrange ao se aliar a líderes do Centrão, como o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL).

Na avaliação do Palácio do Planalto, investir na candidatura de Lira para comandar a Câmara de 2021 a 2022 significa poupar Bolsonaro de eventuais processos de impeachment. Para ter alguém de sua confiança na Câmara, o presidente recorre ao modelo do toma lá dá cá que sempre criticou, com oferta de cargos e emendas em troca de apoio.

A ineficiência do Executivo muitas vezes passa despercebida diante das polêmicas ideológicas. Com a média de um ministro por semestre, o Ministério da Educação, por exemplo, ficou fora de uma das mais importantes discussões desse biênio: a renovação do Fundeb, principal fonte de financiamento da educação básica.

O governo agiu para desconstruir a proposta e o Congresso avocou o tema para si. "Ninguém estava esperando um MEC progressista, mas que no mínimo olhasse para as questões essenciais ao desenvolvimento, e não para temas irrelevantes", afirmou Rafael Parente, PHD em Educação pela Universidade de Nova York.

A Saúde era uma das poucas áreas para as quais o plano de governo de Bolsonaro trazia propostas concretas, como prontuário eletrônico interligado, credenciamento universal de médicos e dentista para gestantes no prénatal. Tudo continua no papel.

Desde o início da pandemia do coronavírus, que já matou mais de 180 mil pessoas, o Brasil teve três ministros. Dois deles (Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich) deixaram a pasta impedidos por Bolsonaro de agir conforme as diretrizes científicas. Por motivos mais ideológicos do que técnicos, o programa Mais Médicos foi desfigurado. A alternativa, o Médicos pelo Brasil, não emplacou.

No Meio Ambiente, o movimento para esvaziar os órgãos de proteção pôs em alerta até mesmo exportadores. "São dois anos de retrocesso", avaliou Virgílio Viana, PHD por Harvard.

Ele ressalvou, porém, que as possibilidades de avanço na política de carbono representam uma esperança.

No campo da energia, Bolsonaro prometeu transformar o setor em "um dos principais vetores de crescimento" do País. O governo aposta suas fichas na usina nuclear de Angra 3, ainda inoperante.