O Estado de São Paulo, n. 46441, 11/12/2020. Internacional, p. A11

 

Comitê autoriza vacina da Pfizer, que aguarda aval final de agência nos EUA

Beatriz Bulla

11/12/2020

 

  
Painel consultivo recomenda uso emergencial e aprovação do imunizante passa a ser mera formalidade; se trâmite seguir dentro do previsto por especialistas, governo americano pode começar a vacinação em massa da população no início da semana que vem

O comitê consultivo da Food and Drug Administration (FDA), agência americana que regula medicamentos e alimentos, autorizou ontem o uso emergencial da vacina contra covid produzida pela Pfizer e pela BioNTech. A recomendação, feita após reunião que durou mais de 8 horas, coloca os EUA mais perto do início da vacinação em massa. Agora, a FDA está pronta para dar a palavra final sobre a vacina, o que pode acontecer entre hoje e amanhã.

Os EUA dizem estar preparados para distribuir a primeira leva de 2,9 milhões de doses da vacina da Pfizer e da BioNTech nas 24 horas seguintes à autorização da FDA. No total, há 6,4 milhões de doses no país prontas para serem enviadas aos postos de vacinação. Segundo orientação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), os primeiros a receber a vacina nos EUA serão profissionais da saúde, moradores de casas de repouso e clínicas médicas.

Na terça-feira, a FDA já havia confirmado a eficácia e a segurança da vacina da Pfizer e da BioNTech, em avaliação preliminar. Ontem, a maioria do comitê que assessora a agência recomendou o uso emergencial do imunizante por 17 votos a favor, 1 abstenção e 4 votos contrários.

Após o aguardado aval da FDA, as doses poderão ser distribuídas para cerca de 600 centros de vacinação nos 50 Estados americanos, que serão responsáveis pela aplicação do imunizante. Para começar a vacinar os americanos, o CDC ainda precisa formalizar a autorização em novas reuniões, uma agendada para hoje e outra para domingo. A expectativa é de que, no início da semana, a vacinação tenha início nos EUA.

A corrida pela autorização e distribuição da vacina no país acontece em meio a um novo pico de disseminação do coronavírus. Apenas ontem, os EUA tiveram 3.124 mortes por covid-19 e 221 mil novos casos da doença. Segundo o CDC, outros 70 mil americanos podem morrer de covid antes do fim do ano com o avanço descontrolado da pandemia.

Segundo Robert Redfield, diretor do CDC, os americanos correm o risco de conviver diariamente com a perda de 3 mil pessoas pelos próximos três meses, o que seria equivalente a um atentado terrorista de 11 de setembro por dia – nos ataques, em 2001, 2.977 pessoas morreram.

A vacina da Pfizer e da BioNTech já recebeu a autorização de autoridades reguladoras do Reino Unido, onde a vacinação começou nesta semana, e no Canadá. Ontem, a Arábia Saudita também deu aval à vacina. O processo de avaliação, no entanto, é mais demorado nos EUA, onde as autoridades de saúde fazem uma análise independente dos dados. Nos outros países, a análise é feita com base nos dados divulgados pelas farmacêuticas.

Objetivo. Os EUA prometem vacinar 20 milhões de americanos até o final de dezembro, o que exige 40 milhões de doses disponíveis. Para isso, o governo conta com uma futura autorização da FDA para uma segunda vacina, a produzida pelo laboratório Moderna. A reunião do comitê consultivo da agência para concluir a nova avaliação está marcada para o dia 17 de dezembro.

Em julho, os EUA fecharam acordo de US$ 2 bilhões para a compra antecipada de 100 milhões de doses da vacina da Pfizer e da BioNTech. Isso garante a imunização de pelo menos 50 milhões de americanos. Em 18 de novembro, as duas farmacêuticas concluíram os estudos da fase 3, que é atualmente o mais avançado no mundo com testes de eficácia feitos em larga escala.

As empresas foram as primeiras a protocolar pedido de avaliação para uso emergencial nos EUA, após divulgarem que o imunizante desenvolvido é seguro e tem 95% de eficácia. Há cerca de um mês, a União Europeia fechou um acordo com a Pfizer para comprar 200 milhões de doses.

Pressionado pelo avanço das autorizações para vacinação em outros países, o governo brasileiro informou nesta semana que está em tratativas com a Pfizer e com a BioNTech para compra de doses da vacina. Até agora, o Ministério da Saúde vinha sinalizando que a temperatura exigida para o armazenamento (de -70 °C) seria uma barreira para a distribuição em um país das dimensões do Brasil.

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mortes por covid-19 foram registradas ontem nos EUA, número superior ao do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, quando 2.977 pessoas morreram