O Estado de São Paulo, n. 46440, 10/12/2020. Política, p. A8

 

Maia diz que governo age 'pesado' a favor de Lira

Anne Warth

10/12/2020

 

 

Presidente da Câmara anuncia apoio de 157 deputados e seis partidos a seu candidato

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou ontem que o governo Jair Bolsonaro vai "jogar pesado" para eleger o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL) como seu sucessor e está disposto até mesmo a "rasgar o próprio discurso" econômico. A menos de dois meses do término de seu mandato à frente da Casa, Maia expôs todas as divergências com Bolsonaro e disse que o Palácio do Planalto trabalha para derrotá-lo na eleição, marcada para fevereiro de 2021.

"O governo está desesperado para tomar conta da presidência da Câmara, para desorganizar de uma vez por todas a agenda do meio ambiente, para flexibilizar a venda e entrega de armas neste País, entre outras agendas que desrespeitam a sociedade brasileira e as minorias", afirmou o deputado. "A gente sabe que o governo vai rasgar o seu próprio discurso para derrotar o presidente da Câmara e jogar pesado para eleger o seu candidato".

Lira lançou ontem sua candidatura (mais informações nesta página). Horas depois, Maia anunciou um novo bloco parlamentar, com seis partidos (DEM, MDB, PSDB, Cidadania, PSL e PV) e 157 deputados. O grupo apoiará o candidato à sua sucessão, que deve ser anunciado hoje.

Na prática, o bloco ainda pode ser engordado com outras siglas, principalmente de oposição. São cotados para a cadeira de Maia os deputados Elmar Nascimento (DEM-BA), Aguinaldo Ribeiro (Progressistas-pb) e Baleia Rossi (MDB-SP). O vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira, (Republicanos-sp) decidiu deixar o grupo por achar que não teria apoio ali e agora quer entrar no páreo como um nome da "terceira via". Ribeiro, por sua vez, é do mesmo partido de Lira.

Maia fez questão de carimbar Lira como "candidato do Bolsonaro". A ideia é impedir que a oposição avalize a campanha do rival. As estocadas do presidente da Câmara, em entrevista coletiva, foram dadas pouco antes de Lira anunciar oficialmente sua candidatura. Desde domingo, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) barrou a possibilidade de recondução de Maia ao comando da Câmara e de Davi Alcolumbre (DEM-AP) à presidência do Senado, as negociações entre os partidos se intensificaram e o Planalto entrou no jogo com mais "tinta na caneta".

Além de mudanças na equipe, como a iniciada ontem com a demissão de Marcelo Álvaro Antônio no Ministério do Turismo, a liberação de parte das emendas parlamentares está condicionada ao apoio a Lira. A pasta será ocupada por Gilson Machado, que estava na Embratur.

Sem esconder a contrariedade com o governo, Maia lembrou, porém, que "a toda ação corresponde uma reação". Disse que, dependendo de como a articulação política do Planalto "operar", a oposição pode passar dos atuais 130 deputados para 230. "Para que o presidente quer interferir no processo? Precisa de um presidente da Câmara patrocinado por ele para que possa avançar em outras pautas", observou o deputado, citando a agenda de costumes. "Eu discordo e não pautei".

Em mais de uma ocasião, Maia criticou o que chamou de falta de compromisso do governo com a vacinação contra o coronavírus e expôs as divergências com a equipe conduzida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. "Não tem agenda para vacina, não tem agenda para os mais pobres, não tem agenda para a recuperação econômica, para a geração de empregos", atacou o presidente da Câmara. "Tem muita promessa. Você consegue fazer um livro com três volumes das promessas que a equipe econômica fez e não botou de pé nenhuma, até hoje".

A demora para aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) destinada a regulamentar "gatilhos", que devem ser acionados caso haja ameaça ao limite de despesas do Orçamento, também mereceu tom irônico de Maia. "Estou pensando, para dar um alerta ao governo, em trazer um bolo amanhã para comemorar um ano da promessa de votar a PEC Emergencial no Senado", disse.

Logo depois, o deputado avisou que não vai pautar a prorrogação da PEC do Orçamento de guerra nem do decreto de calamidade pública. As duas medidas, que valem apenas para este ano, liberaram o Executivo do cumprimento de metas, em razão da pandemia. "O governo que trabalhe para organizar seu Orçamento dentro das regras fiscais", afirmou.

Ao se declarar "perplexo" com a decisão do governo de isentar os impostos de importação sobre a compra de armas e pistolas (mais informações na pág. A10), Maia também disse que a sociedade está em "pânico" com o aumento de casos e de mortes decorrentes da covid-19. "No momento em que falamos em vacinas, o governo isenta a compra de armas", observou ele.

'Desesperado'

"O governo está desesperado para tomar conta da presidência, para desorganizar a agenda do meio ambiente, para flexibilizar venda de arma."

Rodrigo Maia (DEM-RJ)

PRESIDENTE DA CÂMARA

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Alcolumbre se movimenta para apoiar nome fora do MDB

Daniel Weterman

10/12/2020

 

 

Senador, que é do DEM, se reúne com Bolsonaro e alinha com Planalto candidatos para sua sucessão na Casa

Perfil. Alcolumbre busca candiatos pró-agenda de reformas

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), se movimenta para escolher um candidato fora do MDB à sua própria sucessão. Alcolumbre se reuniu anteontem com o presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, e avisou estar disposto a definir nos próximos dias um nome que não seja do MDB, a maior bancada da Casa.

A eleição da cúpula da Câmara e do Senado está marcada para fevereiro de 2021. Alcolumbre disse a aliados que o Planalto não se posicionará contra o seu "plano B" após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter barrado a possibilidade de ele próprio concorrer à reeleição, impedindo também a recondução de Rodrigo Maia (DEM-RJ) ao comando da Câmara.

O vice-presidente do Senado, Antonio Anastasia (PSD-MG), o líder do DEM na Casa, Rodrigo Pacheco (MG), e os senadores Marcos Rogério (DEMRO), Kátia Abreu (Progressistas-to) e Daniela Ribeiro (Progressistas-pb) são alguns dos nomes na lista do presidente do Senado para a sucessão.

Kátia e Daniela, no entanto, são do mesmo partido do deputado Arthur Lira (AL), que concorrerá à presidência da Câmara e é rival de Maia. Daniela é irmã de Aguinaldo Ribeiro (PB), nome que é do grupo de Maia e também está cotado para ser candidato à presidência da Câmara.

A intenção de Alcolumbre é escolher alguém favorável à agenda de reformas e que não seja uma surpresa desagradável para o Palácio do Planalto. Antes da definição, o presidente do Senado pretende conversar com todos os aliados. Além de conversas individuais, Alcolumbre deve se reunir com bancadas e blocos partidários na semana que vem. A preferência será por aqueles que apoiaram e articularam a tentativa de reeleição, que foi derrotada. A Constituição proíbe a recondução ao cargo na mesma legislatura.

Na prática, a bancada do MDB, com 13 integrantes, começou a se movimentar para a disputa antes mesmo da decisão do STF. Os líderes do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDBTO), e do Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), continuam cotados para ocupar o cargo. O líder do MDB, Eduardo Braga (AM), também se apresenta como candidato. Corre por fora a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Simone Tebet (MDBMS), mais afastada do círculo de Alcolumbre.

Espólio. Partidos aliados disputam o espólio eleitoral de Alcolumbre no Senado após a decisão do STF contra a reeleição. Na disputa estão MDB, PSD e DEM, além de outros nomes com proximidade ao atual ocupante da cadeira. Alcolumbre é apontado como importante cabo eleitoral na sucessão, especialmente pelos acordos com o Palácio do Planalto para distribuição de verbas.

O senador sofre forte resistência do "Muda, Senado", grupo que reúne 19 integrantes, e de outros parlamentares que o apoiaram em 2019, mas que se afastaram ao longo do mandato, como Simone Tebet e Tasso Jereissati (PSDB-CE). Os dois abriram mão da disputa em favor de Alcolumbre, no ano passado, mas acabaram acumulando insatisfações com ele.

Na semana passada, Tasso chegou a assinar uma nota contra a possibilidade de reeleição. O tucano é citado por colegas de bancada como possível candidato. Tebet, por sua vez, deve repetir a tentativa de superar os adversários internos no MDB para chegar ao comando do Senado, mas a possibilidade, no atual cenário, é considerada difícil.

Bancada

13

senadores tem o MDB, a maior bancada da Casa. No partido, estão cotados para disputar a presidência os senadores Eduardo Gomes, Fernando Bezerra Coelho, Eduardo Braga e Simone Tebet