Estado de São Paulo, n. 46438, 08/12/2021. Metrópole, p. A13

 

Após pressão, Ministério da Saúde negocia 70 milhões de doses da Pfizer

Mateus Vargas

08/12/2020

 

 

Em SP, Doria prevê início da vacinação em 25 de janeiro e recebe pedidos de governadores para compra da Coronavac

 

Após pressão sobre o governo federal para acelerar os planos de começar a vacinação no País, o Ministério da Saúde informou na noite de ontem que avançou em negociações de 70 milhões de doses do imunizante desenvolvido pela farmacêutica americana e a alemã Biontech. O total, previsto para 2021, é suficiente para 35 milhões de brasileiros – são necessárias duas doses para cada pessoa. A Pfizer relatou 95% de eficácia do produto em testes.

"Os termos já estão bem avançados e devem ser finalizados ainda no início desta semana com a assinatura do memorando de intenção", disse o ministério, que se reuniu com representantes do laboratório para tratar do memorando ontem. Não há detalhes sobre o preço.

A gestão Jair Bolsonaro anunciou semana passada que previa iniciar a vacinação só em março, o que motivou críticas. Mas na Europa e até mesmo em países da América Latina, autoridades têm previsto o início das campanhas ainda este ano. O Reino Unido inicia hoje.

O governo têm apostado na vacina da Universidade de Oxford, que têm parceria com a Fiocruz (100,4 milhões de doses). Mas os cientistas admitiram erros e a necessidade de ampliar testes para medir a eficácia, o que deve atrasar o registro. A pasta conta ainda com doses para 10% da população pela Covax (42,5 milhões de doses), consórcio liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas ainda sem prazo.

O ministério vinha sinalizando que a temperatura de 70 graus negativos para armazenamento da vacina da Pfizer era uma barreira. Mas a empresa diz ter plano para armazenamento – uma embalagem para 5 mil doses, com temperatura controlada, que usa gelo seco. A vacina duraria 15 dias.

As quatro fases iniciais do plano de vacinação anunciado pelo governo incluíam idosos, indígenas, trabalhadores da área da saúde, professores do ensino básico, entre outros grupos. O governo estima, ao longo de 2021, imunizar 51 milhões de brasileiros – ou seja, as doses da Pfizer não seriam suficientes para concluir este plano.

O ministério já investiu cerca de R$ 2 bilhões para receber e produzir doses de vacina da Oxford. Tambémreservou R$ 2,5 bilhões para receber doses para 10% da população pelo Covax. Nas redes sociais, Bolsonaro disse ontem que irá imunizar toda a população de graça e sem obrigatoriedade, horas após o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu adversário político, anunciar um cronograma de vacinação no Estado. O ministro Eduardo Pazuello deve se reunir hoje com governadores para tratar de vacinas.

 Congresso. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), disse que espera votar até quinta medida provisória pela qual a Casa poderá participar da definição da estratégia de vacinação. Não citou qual seria a MP, mas uma das medidas que aguardam deliberação é a 1.003, que libera a adesão ao consórcio Covax. "Vamos avançar de qualquer jeito (no debate sobre vacinação) até porque o STF também vai avançar."

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Lentidão provoca corrida de estados e cidades por vacina

Fabiana Cambricoli

Gonçalo Junior

08/12/2020

 

 

Parte dos gestores recorre à gestão João Doria (PSDB), de São Paulo, para obter doses da Coronavac

Diante da demora do governo federal de fechar acordos de compra ou antecipar a campanha de vacinação contra a covid-19, prevista para começar em março pelo Ministério da Saúde, governadores e prefeitos têm se mobilizado por conta própria para conseguir imunizantes. Parte dos gestores recorre à gestão João Doria (PSDB), de São Paulo, para obter doses da Coronavac, desenvolvida em parceria com o grupo chinês Sinovac. O plano paulista é iniciar a imunização em 25 de janeiro . Outros governos já preveem negociação direta com a Pfizer, se fracassar o negócio com a União.

O governo vinha resistindo à compra de outras vacinas, como a da Pfizer, que deu prazo até esta semana para ter resposta. Para especialistas, governos locais podem ter programas próprios de imunização, desde que haja aval da Anvisa. Doria disse que serão oferecidas 4 milhões de doses a outros Estados, para profissionais de saúde. A Coronavac, porém, ainda não teve resultados de testes sobre eficácia divulgados e ainda depende de registro da Anvisa.

Segundo Doria, oito unidades da federação já manifestaram interesse pela Coronavac.

O governador Camilo Santana (PT), do Ceará, escreveu nas redes sociais que conversa com João Doria desde novembro. João Azevêdo (Cidadania), da Paraíba, disse ter liberado sua equipe para negociar com São Paulo. "É uma ação paralela ao plano do Ministério da Saúde, para nos anteciparmos e começarmos a vacinação o quanto antes", disse, também nas redes.

Já o secretário da Saúde do Maranhão, Carlos Eduardo Lula, confirmou à reportagem que deve receber doses. Ele não informou o total nem quem serão os primeiros grupos vacinados.

O prefeito Rafael Greca (DEM), de Curitiba, celebrou em vídeo um acordo que garante "reparte de vacinas para os profissionais de Saúde" da cidade no começo do ano. O consórcio de municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre marcou encontro esta semana em São Paulo. O grupo reúne prefeitos da capital gaúcha e de 15 cidades do entorno.

"Esse movimento de descentralização da compra de vacinas não é comum, mas é válido. Não está claro o plano de aquisição de vacinas do governo federal", disse Natan Katz, secretário de saúde adjunto de Porto Alegre. Adversário político de Doria, Bolsonaro teme que a Coronavac dê força ao tucano na eleição de 2022.

 Pfizer. Outros Estados se prepararam até para negociação direta com a farmacêutica Pfizer, se a conversa não avançar com o ministério. O Espírito Santo já calculou investir entre R$ 370 milhões e R$ 400 milhões em 6 milhões de doses do imunizante, que será usado a partir deste mês na Europa e no México.

Esse total de doses seria suficiente para imunizar todos os capixabas (menos o público infantojuvenil), começando pelos grupos de risco, que somam 1 milhão. "Estabelecemos negociação com a Pfizer para o Estado. Não avançamos por causa da prerrogativa do ministério", afirmou Nésio Medeiros, secretário de Saúde. "Se não for aceita pelo governo federal, a proposta da Pfizer talvez possa interessar aos governos estaduais."

A Bahia faz cotações de cem freezers especiais para guardar a vacina da Pfizer, que precisaria ficar a -70ºc. "Se a apresentação comercial for semelhante às vacinas da influenza (gripe), considerando a dose de 0,5 ml, cada frasco com 10ml teria 20 doses. Cada freezer armazenaria 1,5 mil frascos, em um total de 30 mil doses cada", disse o secretário de Saúde, Fábio Villas-boas. Mato Grosso também não descarta a compra direta.

A Pfizer diz ter solução para armazenar: uma embalagem para 5 mil doses, com temperatura controlada e gelo seco. A vacina duraria 15 dias. A necessidade de baixíssimas temperaturas era argumento para a resistência do ministério ao negociar.

Espera. Mas negociações isoladas não são a aposta de todos os governos. Procurados, Rio, Pernambuco e Tocantins disseram ainda aguardar uma definição federal.