O Estado de São Paulo, n.46431 , 01/12/2020. Política, p.A6

 

DEM se divide entre projetos de Doria e Huck

Vera Magalhães

01/12/2020

 

 

Sigla convida apresentador para seu quadro, mas mantém acordo com governador de SP

Está avançada a divisão interna dos principais líderes do DEM, partido que cresceu nas eleições de 2020, entre o apoio ao projeto presidencial do apresentador de TV Luciano Huck e o do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), em 2022. Não são poucos os interesses em jogo, e cada lado tem apoiadores de peso para seu projeto, além de argumentos sólidos e que envolvem a geopolítica estadual em sua ponderação.

Neste momento, e diante do avanço das duas opções, o "namoro" com Ciro Gomes (PDT) é a hipótese menos avançada, embora tanto o presidente nacional da sigla, ACM Neto, quanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, mantenham uma ponte estendida rumo ao pedetista. Avançou muito nos últimos meses a aproximação de Huck com o DEM.

O partido passou a ser o destino mais provável do apresentador de TV caso ele decida se lançar num projeto presidencial. Neste caso, ele faria isso como candidato do DEM, e não do Cidadania, como chegou-se a ventilar. O partido de Roberto Freire, embora tenha em sua órbita os chamados movimentos de renovação, plataforma do projeto de Huck, vem perdendo fôlego eleitoral, ao passo que o DEM vem crescendo. Maia, ACM Neto e o prefeito eleito do Rio, Eduardo Paes, compõem a tríade que conversa com Huck, e espera uma resposta dele até março do ano que vem.

As conversas começaram no meio do ano, e já evoluíram muito. O convite para filiação foi feito sem rodeios, e está subentendido que Huck já está convencido de que, se for mesmo candidato, terá de ser por um partido estruturado como o DEM. A hesitação do apresentador ainda é de se apresentar como um candidato de centro-direita, quando prefere ser classificado como progressista. Mas os aliados têm alertado que esse campo já está congestionado e que, nele, Huck tem poucas chances.

Para tê-lo no time, o DEM aceita fazer uma revisão programática que contemple a defesa de um liberalismo nas duas pontas: na economia e também na pauta de costumes, o que o afastaria do reacionarismo bolsonarista e daria discurso a Huck.

O namoro cada vez mais sério acendeu o alerta na seção paulista do DEM e no PSDB. O vice-governador, Rodrigo Garcia DEM), fechou aliança com Doria de que, caso o tucano concorresse à Presidência em 2022, ele seria o candidato ao governo, numa inédita cessão de lugar do PSDB no Estado que governa desde 1995.

Acontece que a cúpula do DEM fora de São Paulo não acredita que o PSDB vá abrir mão de ter candidato em São Paulo, ainda mais depois de uma eleição municipal em que encolheu no resto do Brasil e cresceu no Estado.

Além disso, o DEM do Nordeste teme repetir 2018, quando, mesmo dividido, saiu em aliança com o PSDB pela sétima vez e Geraldo Alckmin sequer foi para o segundo turno. Dirigentes do DEM argumentam que Doria tem perfil muito "arrumadinho", difícil de emplacar fora de São Paulo, ainda mais diante de uma disputa que vai ter Jair Bolsonaro e o PT.

Mas o apresentador do Caldeirão não é igualmente janota, além de ser ingênuo e pouco versado nas artes da política? A essa pergunta os partidários de sua filiação ao DEM respondem que ele tem inserção nacional que precede a política, e, graças ao seu programa na TV, é identificado com preocupações sociais.

O que mais seduz o DEM, para além dessas questões de imagem, é a possibilidade de ter candidatura própria pela primeira vez desde 1989, quando se chamava PFL e concorreu com Aureliano Chaves.

Garcia, sempre cauteloso na articulação política, tem se mostrado internamente disposto a bancar a briga, mesmo se tiver de ficar em lado oposto de seus aliados Neto e Maia. Se, ainda assim, for derrotado, tem dito que se filiará a outro partido para apoiar Doria e disputar o governo. O destino pode ser o próprio PSDB, o que não interessa tanto a Doria, pois deixa de somar tempo de TV, o PSD do antigo aliado Gilberto Kassab (com quem rompeu há alguns anos, e voltou a ter boa relação) ou o MDB, que se aproximou do Palácio dos Bandeirantes na sucessão paulistana.

E a opção Ciro? Deixou de ser tão sedutora aos olhos do DEM. Isso porque o mapa do Brasil após as eleições se mostrou ainda inclinado à centro-direita, com os partidos da política tradicional voltando a mostrar força. A avaliação interna do DEM é que o caminho para vencer Bolsonaro é por aí, e não pela centro-esquerda.

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Republicanos ganha espaço entre partidos da direita

Felipe Frazão

01/12/2020

 

  


Legenda sofreu reveses no Rio e em São Paulo, mas elegeu 211 prefeitos e entra para a lista dos dez maiores do País

O xadrez partidário nacional tem uma nova força na direita. Com 211 prefeitos eleitos neste ano, o Republicanos entrou na lista dos dez maiores do País, sendo o mais conservador deles. Das grandes cidades, o partido vai governar Vitória, Campinas e Sorocaba, conquistadas no segundo turno, mas já havia expandido sua atuação como força eleitoral com conquistas no primeiro turno em pequenos e médios municípios, tendo ainda 2.572 vereadores que podem facilitar seu plano de fundo: ampliar a bancada federal no Congresso.

Já no primeiro mandato como deputado, o presidente do partido, Marcos Pereira (SP), chegou ao cargo de vice-presidente da Câmara e agora almeja suceder ao presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A eleição interna do Congresso é o próximo tabuleiro da política.

Os prefeitos eleitos pelo partido superam, por exemplo, os 183 vitoriosos do PT. Foi um ganho de mais de cem prefeituras.

Sem amarras ideológicas e com apetite por espaços no governo, o Republicanos apoiou os últimos três presidentes da República: Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer. Atualmente abriga, ainda que "de passagem", dois dos filhos parlamentares de Jair Bolsonaro: o vereador no Rio Carlos Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro (RJ).

Na bolsa de apostas, é um dos partidos aos quais o presidente pode escolher se filiar para a reeleição em 2022. Diferentemente do fracassado plano de criar o Aliança pelo Brasil, no Republicanos o clã Bolsonaro não teria o controle de verbas, nem poder de vetos, avisou a cúpula da legenda, vacinada pelas brigas que o presidente e seus filhos causaram no PSL.

Origem. O Republicanos foi criado há 15 anos com incentivo de líderes evangélicos. O partido surgiu em 2003, tendo como maior nome o ex-vice-presidente José Alencar. Desde 2011, a legenda é dirigida por Pereira, bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e ex-diretor da Record TV.

O cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getúlio Vargas, considera que o Republicanos está "bem encaminhado" para crescer novamente em 2022. "Está provado cientificamente que quanto mais vereadores e prefeitos melhor é sua eleição para a Câmara dois anos depois", disse Praça.

Por outro lado, o Republicanos esforça-se para se desvencilhar de reveses na sua maior vitrine até agora, a prefeitura do Rio de Janeiro, administrada pelo prefeito Marcelo Crivella, bispo da Universal e sobrinho de Edir Macedo, o fundador da igreja.

Derrotas. As pesquisas internas que o partido encomendava já mostravam dificuldades no Rio e em São Paulo, o que faria a direção nacional resistir às candidaturas de Crivella e do deputado Celso Russomanno. As duas derrotas são atribuídas mais à má gestão do prefeito e erros de estratégia e comunicação de Russomanno. "As pessoas não rejeitaram o partido, mas sim os candidatos. Tanto que elegemos sete vereadores no Rio e quatro em São Paulo", afirmou Pereira.

 Prefeituras

211

número de cidades que serão administradas nos próximos quatro anos por prefeitos filiados ao partido Republicanos, entre elas Sorocaba (SP), Campinas (SP) e Vitória (ES)