Valor Econômico, n.5215, 25/03/2021. Brasil, p.A8

 

Queiroga promete triplicar a vacinação

Fabio Murakawa

Andre Jubé

Matheus Schuch

Mariana Ribeiro

25/03/2021

 

 

 

 

Ministro diz ter autonomia e sinaliza desmilitarização da pasta

 O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prometeu ontem que o Brasil conseguirá triplicar o ritmo de vacinação para 1 milhão de pessoas por dia “no curto prazo”. Depois de sinalizar nos bastidores que pretende promover uma “desmilitarização” da pasta, ele disse que o presidente Jair Bolsonaro lhe deu autonomia para montar sua equipe e que criará uma secretaria especial voltada especificamente ao combate à pandemia.

Queiroga concedeu ontem no Palácio do Planalto sua primeira entrevista coletiva como ministro empossado. Foi acompanhado dos ministros Fernando Azevedo (Defesa), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Fábio Faria (Comunicações).

“Ninguém quer ‘lockdown’. Temos do ponto de vista prático que adotar medidas sanitárias eficientes”

 

Ele assume o cargo no lugar do general Eduardo Pazuello e em um momento de descontrole da pandemia, com falta de vacinas e os sistemas hospitalares em colapso em diversos Estados. O país ultrapassou nesta semana a marca de 3 mil mortes diárias por causa do coronavírus. Ontem, o total de mortos no país chegou a 300 mil.

“Temos condições de vacinar muitas pessoas. Atualmente nós vacinamos 300 mil indivíduos todos os dias”, disse Queiroga. “O ministro da Saúde e o governo assumem o compromisso de, no curto prazo, aumentar pelo menos em três vezes essa velocidade de vacinação para 1 milhão de vacinas todos os dias. É uma meta que é plausível, eu digo que é plausível.”

Queiroga afirmou que 95% da população quer ser vacinada. E, em linha com o que parece ser uma nova diretriz do governo, ele enfatizou a importância do uso das máscaras. Queiroga, Tarcísio, Azevedo e Faria usaram a proteção durante toda a coletiva.

Questionado por jornalistas, no entanto, ele evitou entrar em choque com a postura do presidente Jair Bolsonaro de se opor ao lockdown, embora tenha defendido medidas de isolamento social.

“Eu pergunto a você: quem quer um ‘lockdown’? Ninguém quer ‘lockdown’. O que nós temos do ponto de vista prático é adotar medidas sanitárias eficientes que evitem o ‘lockdown’. Até porque a população não adere a ‘lockdown’. Vacina é importante, mas o uso de máscaras é fundamental, precisamos usar máscaras, precisamos manter um certo distanciamento”, afirmou. “Vamos procurar uma maneira de disciplinar essa movimentação social, esse distanciamento, para que se evite a figura do ‘lockdown’.”

Queiroga enfatizou o papel do SUS e prometeu guiar-se pela ciência. Mas tergiversou ao ser instado a se posicionar sobre o uso de medicamentos sem comprovação científica, como a cloroquina, defendida por Bolsonaro.

“Os instrumentos que usamos para a medicina são a ciência e o humanismo. Essa não é uma tarefa só para um ministério, mas interministerial”, disse

Nomeado para o cargo na terça-feira, Queiroga já definiu os principais nomes para a sua equipe. Seu secretário-executivo será Rodrigo Cruz, servidor do Ministério da Economia e que atua como secretário-executivo adjunto do Ministério da Infraestrutura.

Queiroga anunciou que a partir de agora o ministério terá uma secretaria especial voltada para o combate à covid-19. “A população requer que o Ministério da Saúde fique 24 horas de prontidão para cuidar da pandemia.”

Mais cedo, na reunião de Bolsonaro com os chefes dos outros Poderes e governadores, Queiroga havia anunciado que convidaria cientistas e especialistas da área para integrar sua equipe.

O ex-ministro Eduardo Pazuello havia deflagrado um processo de militarização dos postos-chave do ministério, desfalcando a pasta de especialistas sanitários num cenário de agravamento da pandemia.

Queiroga informou durante o encontro desta manhã que vai se reunir nesta quinta-feira com o reitor da Universidade de São Paulo (USP), o engenheiro Vahan Agopyan, para pedir indicações para formar sua equipe.

Um dos primeiros militares a ser substituído deve será o número dois na pasta, o secretário-executivo e coronel do Exército Élcio Franco. Desde maio de 2020, quando assumiu o ministério ainda interinamente, Pazuello nomeou mais de 20 militares para os cargos estratégicos da Saúde, como secretarias, subsecretarias e chefia de departamentos.