Valor Econômico, n.5214, 24/03/2021. Brasil, p.A7

 

Marcelo Queiroga assume o cargo no ministério em cerimônia fechada

Matheus Schuch

Fabio Murakawa

24/03/2021

 

 

Planalto não explicou por que não houve solenidade na posse do novo ministro da Saúde

Uma semana depois de anunciar o cardiologista Marcelo Queiroga como novo ministro da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro deu posse ao médico, ontem, em uma cerimônia reservada, no gabinete presidencial. O ato não foi anunciado antecipadamente. Um dos objetivos foi garantir a presença de Queiroga, já no cargo, na reunião de hoje com os presidentes dos outros Poderes e governadores.

Bolsonaro tem sido pressionado por aliados no Congresso, ministros do STF e diversos setores da sociedade a mudar o rumo do combate à covid-19. A troca na pasta da Saúde é uma sinalização, embora a escolha tenha gerado desgaste junto a integrantes do Centrão, que defendiam o nome da médica Ludhmila Hajjar.

O Planalto não esclareceu o motivo da posse ter ocorrido a portas fechadas. Mesmo com a recomendação de especialistas para que eventos presenciais sejam evitados, o Planalto tem realizado cerimônias nos últimos dias e havia previsão de posse com a presença de convidados no salão nobre do palácio.

Queiroga assumiu a pasta no dia em que o país registrou recorde de mortes por covid, com 3.158 óbitos em 24 horas, diante de filas de espera por leitos de UTIs; de preocupação nos Estados com a falta de medicamentos necessários para a intubação de pacientes; e da pressão por mais agilidade na disponibilização de vacinas.

Nos últimos dias, o cardiologista já estava atuando ao lado de Pazuello para conhecer os processos do ministério e fazer o processo de transição. Nos pronunciamentos após ser confirmado por Bolsonaro, Queiroga defendeu a importância das “evidências científicas” em futuras ações da pasta, mas indicou que dará continuidade ao trabalho que já vinha sendo realizado.

“A política é do governo Bolsonaro, não é do ministro da saúde. A saúde executa a política do governo”, afirmou a jornalistas, na semana passada. “Pazuello tem trabalhado arduamente para melhorar as condições sanitárias do Brasil e eu fui convocado pelo presidente para dar continuidade a esse trabalho”.

 

 

Sem entrar em detalhes sobre a adoção de lockdown, ele também mostrou preocupação com os impactos da pandemia na economia, na linha dos discursos do presidente, e evitou comentar o chamado “tratamento precoce” para a doença, que passou a ser recomendado pelo Ministério da Saúde na gestão Pazuello diante da pressão de Bolsonaro. O uso de medicamentos sem comprovação científica para covid-19, como hidroxicloroquina e ivermectina, estiveram no centro de divergências com os outros dois ministros que comandaram a pasta, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.