Valor Econômico, n.5211, 19/03/2021. Política, p.A16

 

Major Olimpio morre de covid-19

Cristiane Agostine

Carolina Freitas

19/03/2021

 

Parlamentar foi um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro, rompeu com o presidente

Vítima da covid-19, o líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP), com 58 anos, teve morte cerebral ontem. O senador estava internado desde o dia 2 no Hospital São Camilo, em São Paulo, depois de ter sido diagnosticado com a doença.

A morte foi divulgada na conta do parlamentar no Twitter. “Com muita dor no coração, comunicamos a morte cerebral do grande pai, irmão e amigo, senador Major Olimpio. Por lei, a família terá que aguardar 12 horas para confirmação do óbito e está verificando quais órgãos serão doados. Obrigado por tudo que fez por nós, pelo nosso Brasil.”

Olimpio é o terceiro senador da República morto por covid-19. Em outubro do ano passado, a doença matou Arolde de Oliveira (PSD-RJ), que também havia sido eleito na onda do bolsonarismo. Em fevereiro, morreu José Maranhão (MDB-PB).

Com a morte de Olimpio, quem assume a cadeira no Senado é o suplente Alexandre Luiz Giordano (PSL), empresário de 47 anos.

Dias antes de ser diagnosticado com covid, Olimpio participou de um protesto em Bauru (SP), contra as medidas restritivas determinadas pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Ao lado de bolsonaristas como o empresário Luciano Hang, a prefeita da cidade, Suéllen Rosim (Patriota), Olimpio defendeu a reabertura imediata do comércio e serviços. Em fevereiro, esteve em outra aglomeração, em Brasília, em “romaria” de prefeitos no Congresso por recursos para emendas.

O senador, no entanto, era crítico das ações do presidente Jair Bolsonaro para combater a pandemia e defendia a celeridade na vacinação. Em dezembro, escreveu: “Em um país sério, o ministro já teria caído e o presidente sofrido processo de impeachment. Ficaremos na história como o país que negligenciou e riu dos mortos por covid-19.”

Olimpio foi eleito para o Senado em 2018, com 9 milhões de votos, e seu mandato se estenderia até 2027. Então aliado a Bolsonaro, presidiu o PSL em São Paulo, ajudou a consolidar a legenda e foi um dos coordenadores da campanha presidencial, participando do “núcleo duro” da candidatura vencedora. Em maio de 2020, os dois romperam e Olimpio chamou Bolsonaro de “traidor”. Segundo o senador, o presidente pediu que ele deixasse de defender a instalação da CPI da Lava-Toga, para investigar integrantes do Judiciário, e Olimpio se negou. Um dos principais focos da divergência com Bolsonaro, no entanto, eram os filhos do presidente. Olimpio era crítico às ações de Carlos, Eduardo e Flávio - e a proteção de Bolsonaro a eles.

Nascido em Presidente Venceslau (SP), Olimpio atuou por 29 anos como policial militar. Como senador e, antes, como deputado federal e estadual, tratou da pauta da segurança pública, pela perspectiva de defender o armamento da população e a morte de “bandidos”.

Além do desafeto com Bolsonaro, Olimpio divergia do governador João Doria (PSDB) e do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). O major acusava os tucanos de não valorizarem os policiais militares. O senador ingressou com dois pedidos de impeachment de Doria.

Olimpio era casado e pai de dois filhos. Formou-se em ciências jurídicas e sociais, jornalismo, educação física, defesa pessoal e tiro. Antes do PSL, foi filiado ao PV, PDT, PMB e Solidariedade.

Entre políticos e jornalistas, Major Olimpio era conhecido por sua cordialidade, boa educação, bom humor e espontaneidade. Ontem, parlamentares e lideranças políticas lamentaram a morte do senador.

O presidente nacional do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), afirmou que a morte de Olímpio deixa a todos da legenda “sem chão”. “Essa morte precoce de nosso amigo, colega e fraterno Major Olímpio, que sempre esteve ao lado de nossa causa política por um Brasil melhor, deixa todos nós sem chão”, disse.

Para o líder do PSL na Câmara, Major Vitor Hugo (GO), é “irreparável perda”. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), registrou “profundo pesar” e “sinceros sentimentos”. Coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública, deputado Capitão Augusto (PL-SP), afirmou que a sociedade “perde um legítimo agente público, que nunca se desviou de suas bandeiras e ideais”. Adversário, Doria prestou solidariedade.” Infelizmente mais uma vítima da covid-19”, disse o tucano.