Valor Econômico, n.5209, 17/03/2021. Brasil, p.A4

 

Queiroga prega ‘continuidade’ e diz que política é do governo

Fabio Murakawa

Matheus Schuch

17/03/2021

 

 

Planalto ainda procura cargo para oferecer a Eduardo Pazuello

Indicado para ser ministro da Saúde, o médico Marcelo Queiroga disse ontem que foi convocado pelo presidente Jair Bolsonaro para “dar continuidade” ao trabalho feito até o momento no combate à pandemia. Ele fez a afirmação horas antes de o Brasil registrar 2.798 mortes pelo coronavírus, recorde absoluto na pandemia, que já deixou 282.400 mortos no país.

Queiroga será o quarto ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro. Substituirá o general Eduardo Pazuello. Quando o militar assumiu o posto, em 15 de maio do ano passado, o coronavírus havia matado 14.817 pessoas no Brasil. No ritmo atual, essa cifra será atingida em apenas cinco dias.

Pazuello montou uma espécie de gabinete de transição para Queiroga, que começou a funcionar ontem. Bolsonaro disse que a passagem de bastão pode levar até duas semanas. Mas fontes da Saúde afirmam que a mudança pode ocorrer em menos de sete dias.

O governo procurava ontem um cargo para acomodar Pazuello. Uma hipótese é que ele assuma a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) no lugar de outro militar. O almirante Flávio Rocha acumula essa função com a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) desde a semana passada.

Fontes do governo afirmaram ao Valor, no entanto, que o martelo ainda não está batido. E que outras posições podem ser oferecidas ao general, como a de assessor especial da Presidência ou até mesmo algum outro ministério.

Queiroga falou ontem com jornalistas ao chegar para o primeiro dia de trabalho, embora ainda não tenha sido oficialmente nomeado.

“A política é do governo Bolsonaro, a política não é do ministro da Saúde. O ministro da Saúde executa a política do governo”, disse.

Cercado por jornalistas, Queiroga advertiu que os repórteres estavam causando “aglomeração”.

“O ministro Pazuello tem trabalhado arduamente para melhorar as condições sanitárias do Brasil”, disse. “Eu fui convocado pelo presidente Bolsonaro para dar continuidade a este trabalho e conseguirmos vencer essa crise na saúde pública brasileira.”

Ele negou-se a julgar o trabalho do general à frente da pasta, criticado pela lentidão no ritmo de vacinação, pela falta de diálogo com governadores e o desconhecimento técnico para comandar a pasta durante a pandemia.

“Não vim aqui para avaliar a gestão Pazuello. Vim aqui para trabalhar pelo Brasil”, disse. “Juntamente com o general Pazuello e com outros ministros do governo. O presidente está muito preocupado com essa situação.”

Queiroga e Pazuello passaram o dia reunidos na sede da pasta. No fim da tarde, ambos fizeram um rápido pronunciamento à imprensa, sem responder perguntas.

Queiroga, defendeu que é necessário reforçar medidas de higiene, como uso de máscaras e lavagem das mãos, para que se evite “paralisar a economia do país”.

Ele disse que não mudará o quadro da pandemia sozinho e convocou secretários estaduais e municipais de Saúde a agirem em harmonia “Quero conclamar à população que use máscara, que lave as mãos, medidas simples e importantes”, afirmou. “Com estas medidas a gente pode evitar ter que parar a economia do país. É preciso unir os esforços de enfrentamento da pandemia com a preservação da atividade econômica, para garantir emprego, renda e recursos”.

As medidas sugeridas pelo futuro ministro não são adotadas por Bolsonaro e pela maioria de seus auxiliares, que costumam circular sem máscara em toda a Esplanada e no Palácio do Planalto.

Presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Queiroga disse que aceitou a “convocação” de Bolsonaro para o cargo e espera o apoio da população porque sozinho não vai fazer “mágica” para vencer a pandemia.

Também falando à imprensa, Pazuello prometeu distribuir 5,6 milhões de doses de vacinas contra covid-19 nesta semana.

Ele disse que o trabalho desenvolvido até agora terá sequência e poderá ser aperfeiçoado diante da qualificação do sucessor, “um médico, com toda a sua experiência, para ir além”.

“Não é uma transição, é um só governo, continua o governo Bolsonaro”, afirmou.