Valor Econômico, n.5208, 16/03/2021. Política, p.A10

 

Para governadores, troca na Saúde não resolve problemas

Renan Truffi

Vandsons Lima

16/03/2021

 

 

Eduardo Leite, João Doria, Flávio Dino e Renato Casagrande responsabilizaram Bolsonaro poraumento no número de vítimas

Governadores do Rio Grande do Sul, São Paulo, Maranhão e Espírito Santo responsabilizaram ontem o presidente Jair Bolsonaro pelo recrudescimento da pandemia de covid-19. Os quatro representantes participaram de audiência pública na comissão temporária que acompanha as ações contra a covid-19 no Senado. Eles mostraram ceticismo com a possibilidade de a troca no Ministério da Saúde resolver o problema. No início da noite de ontem, o presidente Jair Bolsonaro confirmou que o médico Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, aceitou convite e substituirá Eduardo Pazuello no cargo.

Antes do anúncio da troca, os governadores se pronunciaram sobre a situação. “Eu ouvi o senador perguntando como os governadores enxergam a troca do ministro. Eu não me arvoro aqui a tratar desse tema, porque o que eu vi, depois de três trocas de ministros que o presidente já fez, é que o problema está nas orientações que o presidente [Bolsonaro] dá. Não há ministro que consiga trabalhar com a sabotagem feita pelo próprio presidente da República às medidas necessárias para o combate ao coronavírus. É muito importante, portanto, que o Congresso ajude a colocar para o presidente a importância não só de ter ministro que tenha o conhecimento, que possa colaborar”, disse Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul.

Segundo Leite, Bolsonaro não ajudou em dois problemas centrais: a articulação internacional para a compra de vacinas e o apoio para as medidas de distanciamento. “O ministro Eduardo Pazuello, eu quero dizer aqui, foi sempre gentil, atencioso, nos disponibilizou equipamentos, nos disponibilizou ferramentas, enfim, mas, quando a gente precisa avançar nos dois pontos que eu acabei de dizer aqui, que é a articulação internacional para a vacina e apoio para as medidas de distanciamento, esses são dois problemas em que o presidente da República não tem ajudado”, argumentou.

Neste sentido, o governador gaúcho finalizou dizendo que o ideal seria termos um presidente “sensibilizado”. “Se não for para oferecer ajuda, que seja para parar de oferecer ataques, agressões e atrapalhar o processo do enfrentamento da pandemia”, defendeu. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também culpou o “negacionismo” de Bolsonaro pelo “mar de mortos” que assola os Estados.

“O Brasil é hoje um oceano de incompetência, tendo o capitão, o mito Jair Bolsonaro neste comando. Meu repúdio a esse homem, meu repúdio aos negacionistas, que seguem essa orientação e seguem esse comportamento. Não vou me render ao negacionismo nem às ameaças que recebo. Assim como os demais governadores e muitos que estão no Poder Executivo”, disse. “Está na hora, sim, de fazermos uma grande frente nacional pela vida, pela democracia, pela liberdade e pelo fim desse negacionismo sórdido que já levou a vida de 278 mil brasileiros”, complementou Doria.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), por sua vez, acrescentou que o “retardamento” na compra de vacinas levou ao quadro atual de infecções. “Há, aparentemente, agora, no presente momento, uma correção de rumos na direção correta, ou seja, no sentido de que haja pluralidade de fornecedores de vacinas, uma vez que um país com 212 milhões de pessoas não pode ficar como cliente de apenas um ou dois fornecedores. Lamentavelmente, os desacertos do segundo semestre de 2020 levaram a esta situação de um cronograma insuficiente”, analisou.

Dino disse que, apesar do esforço conjunto de governadores para viabilizar a compra de vacinas sem a intermediação do Executivo, a prioridade continuará sendo o Programa Nacional de Imunizações (PNI). “Quero desde logo sublinhar que, no âmbito do Consórcio de Governadores do Nordeste, que também integro, nós reafirmamos a posição de prioridade ao Programa Nacional de Imunizações, ou seja, mesmo aquisições que possam ser negociadas por Estados e municípios, na nossa visão, primacialmente devem ser destinadas ao PNI”, disse.

Já o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), defendeu que o Congresso lidere um grupo de trabalho para acompanhar o cronograma de vacinação. “Eu propus que o Congresso Nacional pudesse liderar um grupo de trabalho que envolvesse governadores, que envolvesse outras lideranças, como o Supremo Tribunal Federal e o Ministério da Saúde, que envolvesse outras figuras importantes da nação brasileira, e esse grupo pudesse acompanhar o cronograma de vacinação, e esse grupo pudesse atuar na diplomacia, pudesse atuar com os embaixadores, pudesse atuar com as farmacêuticas, para fazer cumprir o cronograma”, defendeu.