Valor Econômico, n. 5205, v.21, 11/03/2021. Brasil, p.A20

 

 

 

Tendência é de aceleração na maior parte do país

 

Crescimento de casos se intensifica no NE, Centro-Oeste e Sul

Por Ana Conceição — De São Paulo

 

 

 

Há 49 dias, o Brasil registra média móvel diária de mortes por covid-19 acima de mil. São 12 dias de recordes consecutivos de óbitos pela doença. E a tendência da pandemia é de aceleração em boa parte do país, segundo Isaac Schrarstzhaupt, coordenador de modelagem de dados da Rede Análise Covid-19, que reúne pesquisadores para divulgar dados e combater a desinformação sobre a pandemia.

 

O crescimento dos casos se intensifica no Nordeste, no Centro-Oeste e no Sul, com destaques para os dados de Maranhão, Distrito Federal e todos os Estados da região Sul, respectivamente.

 

As variantes do coronavírus com maior potencial de transmissão e possivelmente mais letais já dominam seis Estados do país, além do Amazonas, de acordo com um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O estudo avaliou cerca de mil amostras do vírus coletadas em oito Estados brasileiros de Nordeste, Sul e Sudeste: Alagoas, Ceará, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

 

O aumento mais rápido no número de pessoas contaminadas implica pressão adicional sobre o sistema de saúde, em especial o hospitalar, nos próximos dias. Assim, o cenário de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) lotadas pelo país deve permanecer por mais algum tempo diante do aumento de contaminações que já aconteceu. De acordo com dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de terça-feira, das 27 capitais, 25 apresentavam taxas de ocupação de UTIs para covid-19 iguais ou superiores a 80%. Em 15 delas a taxa superava 90%.

 

Segundo números compilados por Schrarstzhaupt com base em informações do Ministério da Saúde, a média móvel de sete dias de casos notificados no país vinha em alta desde o início do ano, cedeu no fim de janeiro, mas a partir de fevereiro voltou a ganhar força.

 

No início desta semana, essa média móvel indicava 0,56% casos a mais por dia, vindo de alta de 0,46% em meados de fevereiro. “A média móvel aponta uma tendência. Assim, a taxa de crescimento, que já era positiva, começou a crescer mais a cada semana”, afirma.

 

Esse movimento tem certa sincronia com o pequeno aumento no índice de isolamento social do país entre o fim de dezembro e início de janeiro, período em que, na média, do país ficou ligeiramente acima de 50%, segundo dados de geolocalização da InLoco. Em fevereiro, esse indicador voltou a cair.

 

No Norte, depois da crise em Manaus e outros municípios, o ritmo de crescimento de casos no Amazonas desacelerou. Ali, a média móvel saiu de alta de quase 1% em fevereiro para 0,36% em 7 de março. Ainda um aumento, mas numa magnitude bem menor. A região, contudo, ainda vive uma situação grave, com aceleração de casos em Tocantins e Rondônia.

 

No Sudeste, depois de uma desaceleração no aumento de casos a taxa de crescimento de casos se estabilizou em torno de 1,8%. Ou seja, continua a aumentar de forma importante, mas sem acelerar. No Estado de São Paulo, a média móvel oscila em torno de alta de 0,50% por dia. No Nordeste, onde a média cresceu de 3,40% para 4,25% entre fevereiro e o início de março, o Maranhão, com crescimento de 0,15% para 0,26%, e o Piauí, de 0,28% para 0,43%, mas ainda com números baixos.

 

No Sul, a média móvel de sete dias saiu de alta de 1,34% para crescimento de 2,6% entre fevereiro e março, com todos os Estados em aceleração. É a pior região no país. O Centro-Oeste, o crescimento da média móvel passou de 1,50% para 2,1% de fevereiro para março.

 

Schrarstzhaupt pondera que com maior ou menor aceleração, o alarmante é que em nenhuma região há uma taxa negativa na média diária de sete dias, o que indicaria queda na disseminação da doença. “Entre os Estados, a única coisa que muda é a velocidade [da contaminação]. Em alguns lugares, ela é bem maior que em outros”, diz.

 

O analista diz que não é possível, a partir desses dados, inferir quando será o pico dessa tendência. “Não dá para saber, porque não sabemos a quantidade de pessoas suscetíveis e há, ainda muitas outras variáveis, como o impacto de variantes do vírus, medidas de distanciamento.”