Valor Econômico, n. 5203, v.21, 09/03/2021. Empresas, p.B1

 

 

 

Governo indica seis nomes para compor conselho da Petrobras

 

Colegiado vai ser parcialmente renovado em assembleia de acionistas em abril

Por André Ramalho e Gabriela Ruddy — Do Rio

 

 

O governo deu mais um passo para efetivar a troca no comando da Petrobras ao apresentar, ontem, seis dos oito nomes que devem compor a chapa da União para a eleição do conselho de administração da estatal. O colegiado será parcialmente renovado na próxima Assembleia Geral Extraordinária (AGE), que será convocada possivelmente para abril, com o objetivo de eleger o general da reserva, Joaquim Silva e Luna, como conselheiro da petroleira - pré-requisito para que o diretor-geral de Itaipu Binacional assuma a companhia no lugar de Roberto Castello Branco, como quer Jair Bolsonaro.

 

O conselho da Petrobras é composto, hoje, por onze membros. Oito dessas cadeiras estarão em jogo na próxima assembleia de acionistas, depois que o governo pediu a troca no comando da empresa. Isso porque Castello Branco foi um dos conselheiros eleitos em 2020, ao lado de outros sete nomes, pelo voto múltiplo - ferramenta prevista na Lei das SA que permite distribuir os votos em assembleia por “cabeça” (candidatos). Pelas regras, a saída de qualquer membro eleito por esse mecanismo implica numa nova eleição para escolha de todos os demais integrantes escolhidos pelo mesmo processo.

 

Para a AGE, a União deve apresentar uma chapa com oito nomes. A lista inicial, com os seis primeiros indicados, tem três novidades, além do próprio Silva e Luna, em relação ao atual conselho: Márcio Weber (ex-executivo da Petroserv e BOS Navegação) e Murilo Marroquim (ex-presidente da Devon Energy do Brasil), ambos oriundos do setor de óleo e gás e com passagens pela própria Petrobras; e Sonia Villalobos, oriunda do mercado de capitais e que foi conselheira da estatal entre 2018 e 2020. Ruy Schneider e Eduardo Bacellar concorrem à reeleição.

Os nomes foram apresentados pelos ministérios de Minas e Energia e da Economia. O Valor apurou que as duas indicações pendentes ainda vão passar por análise de empresas especializadas em recrutamento de executivos. Segundo fontes, a conselheira Leila Loria chegou a ser sondada para o cargo, mas as tratativas não prosperaram. Outro nome que circula no mercado é o de Guilherme Albuquerque Santos, conselheiro da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Codin).

 

Existe, porém, a chance de que a chapa proposta pela União seja desfeita, caso algum acionista que reúna pelo menos 5% do capital da empresa peça eleição por voto múltiplo. Quando esse mecanismo é acionado, novos candidatos podem ser sugeridos em alternativa à chapa apresentada pelo governo. Em 2020, os minoritários conseguiram emplacar Leonardo Antonelli, no lugar de um dos nomes da União, e, com isso, ampliaram de dois para três cadeiras a representatividade no colegiado - os dois demais representantes foram eleitos por voto em separado do controlador. Fontes apostam que, desta vez, há espaço para que os minoritários consigam ocupar duas, e não uma, das oito cadeiras em jogo na próxima AGE.

 

As indicações da União foram apresentadas após quatro conselheiros terem manifestado a intenção de não serem reconduzidos. João Cox Neto, Nivio Ziviani, Paulo Cesar de Souza e Silva e Omar Carneiro da Cunha Sobrinho - todos indicados pela União no ano passado - não disputarão o pleito em meio ao aumento dos riscos associados à intervenção do governo na empresa. Leonardo Antonelli também informou que não pretende integrar a chapa da União, mas vai disputar novamente pelos minoritários, pelo voto múltiplo. A expectativa é que, com as indicações da União oficializadas, a AGE para eleição dos conselheiros seja convocada nos próximos dias.

 

A apresentação de seis nomes da União não foi suficiente para eliminar inseguranças sobre as mudanças na gestão da petroleira. “A incerteza pode continuar até que o novo presidente tome posse e anuncie seus planos para a política de preços, venda das refinarias e alocação de capital, entre outros temas”, cita o Goldman Sachs.

 

De acordo com fontes próximas à Petrobras, o aumento dos riscos associados à interferência do governo na empresa dificulta a atração de “conselheiros mais maduros”. Na avaliação de uma das fontes, à exceção de Sonia, há dúvidas sobre o grau de independência dos novos nomes sugeridos. Não está claro, por exemplo, se os ex-funcionários da estatal agora indicados vão se alinhar a eventuais mudanças no atual plano estratégico da petroleira, focado em venda de ativos e na disciplina de capital.

 

O analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, diz que os novos nomes têm perfil diferente dos conselheiros que estão de saída. Cunha, Cox e Silva foram presidentes de grandes companhias, respectivamente da Shell Brasil, Claro e Embraer. “[Os novos nomes] São mais técnicos, ligados às questões operacionais [do petróleo] do que mercadológicas, o que talvez trace perfil de algo novo que o governo queira”, disse, em referência a possíveis mudanças na política de preços (Colaborou Juliana Schincariol)

 

 

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Sonia Villalobos quer reaproximar estatal e mercado

 

Sonia foi conselheira da Petrobras de maio de 2018 até julho de 2020, eleita por acionistas detentores de ações preferenciais

Por Ana Paula Ragazzi — De São Paulo

 

 

Após oito meses, Sonia Villalobos, que tem mais de 30 anos de experiência no mercado de capitais brasileiro, deverá retornar ao conselho de administração da Petrobras com a expectativa de reconstruir as pontes entre a estatal e os investidores. Ela aceitou o convite do Ministério da Economia após conversas com o almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, presidente do conselho da Petrobras.

 

“No contexto atual, acredito que o governo teria dificuldades em achar pessoas que aceitassem esse desafio. Eu deixei a Petrobras há 8 meses, conheço a empresa, já vivenciei experiências com esse governo. Por isso, avaliando os riscos, entendo que a experiência será válida para mim e para a companhia”, afirma a experiente conselheira.

 

Na manhã de ontem, a Petrobras divulgou uma lista de seis nomes indicados pelo governo para compor o novo conselho da petroleira, depois que quatro integrantes informaram que não desejavam continuar no colegiado. Eles estavam descontentes com a possibilidade de maior interferência do governo na petroleira. Contrariado com a política de preços da companhia, que adota a paridade internacional, o presidente Jair Bolsonaro indicou um novo presidente para a estatal, o general Joaquim Silva e Luna.

 

Sonia foi conselheira da Petrobras de maio de 2018 até julho de 2020, eleita por acionistas detentores de ações preferenciais, após indicação da gestora Leblon Equities. Não continuou no cargo porque houve uma disputa entre minoritários pela vaga e saiu vencedor o candidato da gestora Dynamo, o advogado Rodrigo de Mesquita Pereira.

 

“Espero poder ser uma ponte entre a empresa e o mercado de capitais, que ficou muito machucado com episódios recentes”, diz. Segundo ela, algumas iniciativas do presidente Castello Branco, que está deixando a Petrobras, são importantes e devem ser mantidas, como o plano de desinvestimento e o foco no pré-sal. “Vou poder dar minha contribuição nesse sentido. Concordava com essas iniciativas na época em que estive no conselho e continuo concordando. Vou fazer o meu melhor, pela empresa e pelo país”, afirma Sonia.

 

O convite para retornar ao colegiado da estatal veio a partir de sondagem do almirante Bacellar. “Tenho grande admiração por ele e isso também ajudou para que eu tivesse essa vontade de ajudar a maior empresa do Brasil e as pessoas que estão lá, conselheiros e gestores, que passaram por uma situação muito difícil nos últimos dias”, afirma.

 

Num momento como esse, trazer alguém que já conhece o funcionamento da empresa pode ajudar a dar melhor andamento aos trabalhos. “A Petrobras é uma empresa enorme. Seja no conselho, seja na gestão, quando você chega, leva pelo menos três meses para entender o funcionamento da empresa. Eu tenho a vantagem de ter saído há pouco tempo e já poder voltar entendendo tudo”, diz.

 

Em relação ao momento escolhido para a volta, em que a continuidade da política de paridade de preços vem sendo colocada em dúvida pelos investidores, Sonia avalia que a confiança do mercado na capacidade da empresa estatal manter a paridade internacional “é algo que só pode acontecer com o passar do tempo, não há nada a ser feito neste momento”.

 

Essa não é a primeira vez que um conselheiro inicialmente indicado por acionistas minoritário volta à Petrobras por indicação do governo - aconteceu com Walter Mendes, ex-Itaú e Petros.

 

No mercado, a imagem de Sonia é de uma profissional “inteligente, dedicada e detalhista”, segundo fontes ouvidas pelo Valor. Na passagem anterior pela petroleira, ela foi presidente do comitê de auditoria da estatal.

 

Sonia tem mestrado em administração de empresas com especialização em finanças, ambos na Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP-FGV). Foi a primeira pessoa na América do Sul a receber a credencial CFA (entidade global de profissionais de investimento), em 1994. De 1989 a 1996, foi chefe de análise no Banco Garantia. Trabalhou ainda, de 1996 a 2002 na Bassini, Playfair & Associates como responsável por private equity no Brasil, Chile e Argentina. De 2005 a 2011, trabalhou para Larrain Vial como gestora de fundos. Em 2012 fundou a Lanin Partners, gestora de fundo de ações na América Latina, onde ficou até 2016. Ela é professora do Insper e integra o conselho de administração da Telefônica do Brasil e da Latam Airlines Group.