Valor Econômico, n. 5203, 09/03/2021. Brasil, p.A4

 

 

 

Parcela de famílias com dívida cresce pelo 3º mês

 

Fatia de endividados foi a 66,7% em fevereiro, segundo CNC

Por Alessandra Saraiva — Do Rio

 

A parcela de famílias que se declararam endividadas cresceu em fevereiro pelo terceiro mês consecutivo, segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

 

A fatia de endividados no mês passado ficou em 66,7%, sendo superior a de janeiro (66,5%) e de fevereiro do ano passado (65,1%), de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). Em contrapartida, houve melhora nos indicadores de inadimplência em fevereiro, ante janeiro, no mesmo levantamento.

 

Uma diferença de postura de gastos entre famílias ricas e pobres explica patamar em alta de famílias endividadas com quadro favorável em inadimplência, afirmou Izis Ferreira, economista da CNC.

 

Enquanto os mais ricos voltam a gastar, tendo poupado em meio à pandemia, os mais pobres se tornaram mais cautelosos, comprando menos e quitando mais as dívidas. Entretanto, segundo ela, a manutenção do atual quadro favorável, de indicadores de inadimplência observado em fevereiro, depende de evolução da pandemia e seu impacto no mercado de trabalho.

 

Ao detalhar melhora de indicadores de inadimplência, a especialista informou que, na Peic, a parcela de famílias que se declaram endividadas e com obrigações em atraso foi menor em fevereiro, de 24,5%, ante 24,8% em janeiro, mas ainda superior a fevereiro de 2020 (24,1%).

 

Os endividados sem condição de quitar empréstimos tiveram participação de 10,5% na pesquisa do mês passado, ante 10,9% em janeiro, porém, também acima de igual mês no ano passado (9,7%).

 

Para a especialista, os próximos resultados de endividamento e de inadimplência dependerão do avanço da covid-19 no país, bem como impacto no emprego. “Temos hoje compasso de espera com mercado de trabalho, aguardando que se recupere” afirmou ela, ressaltando a necessidade de se controlar avanço da covid-19 com vacinação. Isso impulsionaria a economia de serviços, que representa maior parte das vagas em mercado de trabalho, bem como maior parcela do PIB, lembrou ela.

 

Sem melhora no mercado de trabalho, acrescentou Izis, isso acaba por levar a cenário de menor renda - o que afeta margem de manobra de gastos das famílias mais pobres. Estas então poderiam começar a acessar mais crédito e a descumprir pagamentos, pontuou a especialista. “A questão da vacinação em massa é principal iniciativa econômica para que possamos voltar a ter confiança dos agentes e também para melhora desempenho da economia", afirmou ela.

 

Na pesquisa, a CNC informou ainda que a proporção de famílias endividadas que utilizam o cartão de crédito como principal modalidade de dívida, em fevereiro, se manteve em 80% do total, após máxima histórica de 80,5%, em janeiro.