Valor Econômico, n. 5201, v.21, 05/03/2021. Política, p.A7

 

 

 

Defesa de Lula envia mensagens ao STF que citam Cármen

 

Material traz troca intensa entre procuradores sobre habeas corpus no dia 8 de julho de 2018

Por Isadora Peron — De Brasília

 

A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou, ao Supremo Tribunal Federal (STF), uma nova leva de conversas apreendidas pela Operação Spoofing. O material mostra um intensa troca de mensagens entre os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato em 8 de julho de 2018, quando houve uma batalha jurídica entre integrantes do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) em torno de um habeas corpus para soltar Lula.

 

No início daquele domingo, o desembargador plantonista Rogério Favreto acatou o pedido de liberdade e determinou que o petista fosse solto.

 

Para a defesa do ex-presidente, Lula só não saiu da cadeia aquele dia porque houve uma “atuação conjunta de diversas autoridades (...) para impedir que a ordem de soltura exarada por um magistrado com plena jurisdição para atuar no caso fosse bloqueada e revertida por meio estranho ao sistema recursal previsto em lei”.

 

Uma das conversas anexadas ao processo mostra o então coordenador da Lava-Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, afirmando que a ministra Cármen Lúcia, que presidia o STF, teria ligado para Raul Jungmann, que era ministro da Justiça e Segurança Pública, e mandado a Polícia Federal (PF) não soltar Lula.

 

“Carmem [sic] Lúcia ligou pra Jungmann e mandou não cumprir e teria falado tb com Thompson. Cenário tá bom”, escreveu Deltan para seus colegas da força-tarefa.

 

Pelas conversas transcritas no documento, a avaliação dos procuradores é que seria necessário que o então presidente do TRF-4, Thompson Flores, derrubasse a decisão do colega - o que acabou acontecendo.

 

As mensagens também mostram Deltan afirmando que ligaria para a PF para manter o petista preso. “Vou ligar pra PF pra pedir pra não cumprir”, disse.

 

Cármen Lúcia não se manifestou sobre o episódio. Jungmann, por sua vez, disse que conversou com a ministra naquele dia, mas apontou que Deltan mentiu ao afirmar que a então presidente do STF pediu para que a soltura de Lula não ocorresse. "Ele está acusando a ministra de ter cometido um crime de obstrução de Justiça. Vou interpelá-lo judicialmente. A PF estava sob o meu comando, mas eu não poderia interferir em algo assim.”

 

Em nota, os procuradores da Lava-Jato voltaram a afirmar “que não reconhecem o material criminosamente obtido por hackers, que tem sido editado, descontextualizado e deturpado para fazer falsas acusações”.