Valor Econômico, n. 5200, v.21, 04/03/2021. Brasil, p.A6

 

 

 

 

Pazuello autoriza compra de vacina de Pfizer e Janssen

 

Decisão ocorre em meio a uma forte pressão sobre o governo devido à escalada das mortes por covid-19

Por Fabio Murakawa, Matheus Schuch e Rafael Bitencourt — De Brasília

 

 

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, deu sinal verde ontem para a compra de 100 milhões de doses da vacina da Pfizer contra a covid-19. O ministério também passará a negociar a compra de 38 milhões de doses do imunizante produzido pela Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson.

 

As compras serão feitas sem licitação, conforme aviso publicado na noite de ontem no “Diário Oficial da União”. O prazo de entrega é dezembro deste ano.

 

A decisão ocorre em meio a uma forte pressão sobre o governo devido à escalada das mortes provocadas pelo coronavírus no país. Governadores e empresários vêm sinalizando a intenção de comprar vacinas à revelia de Brasília, queixando-se da velocidade da vacinação no país, considerada lenta.

 

O presidente Jair Bolsonaro também tem sido criticado por sua postura negacionista, além de não haver fechado acordo com diversos fabricantes no ano passado, quando já era sabido que a única saída para a pandemia era a vacinação em massa da população.

 

O aval de Pazuello ocorre um dia após a aprovação, pelo Congresso, de uma lei que autoriza União, Estados e municípios a assumir responsabilidade por eventuais evento adversos causados pela vacina.

 

Essa exigência da Pfizer vinha sendo criticada por Bolsonaro e era citada por ele como um entrave à aquisição do imunizante.

 

Até o ontem, o governo federal havia fechado acordo apenas para a compra da vacina de Oxford/ AstraZeneca e a Coronavac, produzida pela chinesa Sinovac. Outras 10 milhões de doses da vacina russa Sputnik devem ser entregues pela União Química até 31 de maio.

 

Ontem, Pazuello divulgou vídeo falando do avanço das negociações com a Pfizer. A gravação foi feita durante videoconferência com executivas do grupo farmacêutico americano, que confirmaram as declarações do ministro.

 

O ministro informou que será feita a divulgação conjunta de documento sobre a fase de negociação com a Pfizer. Segundo Pazuello, está na mesa uma “boa proposta” de cronograma de entregas da vacina, que ele não detalhou.

 

Bolsonaro comentou ontem o pedido de secretários de Saúde para que haja um “toque de recolher” em todo país. A jornalistas o presidente reclamou de só ter sido chamado a coordenar uma ação nacional um ano após o início da pandemia. Ele garantiu que teria um plano para colocar em prática caso o Supremo Tribunal Federal (STF) garanta a ele autonomia para decidir por Estados e municípios.

 

“Se eu tiver poder para decidir, eu tenho o meu projeto pronto para botar em prática no Brasil”, afirmou. “Agora, preciso de ter autoridade. Se o Supremo Tribunal Federal achar que pode dar o devido comando desta causa ao poder central, que eu entendo ser legítimo, eu estou pronto para colocar o meu plano.”

 

O presidente disse que os secretários estão pressionados pela população. E voltou a defender que as medidas mais restritivas adotadas por governadores e prefeitos não podem ser mantidas para não inviabilizar o país economicamente.

 

“Alguns falam que eu não estou preocupado com mortos. Estou preocupado com mortos, mas emprego também é vida”, explicou.

 

Depois de o governo divulgar dados com recursos repassados a Estados na pandemia -contestados por governadores-, o presidente disse que “recurso não falta para a gente atender as questões nessa área de saúde” e voltou a sugerir que a verba foi mal aplicada.