O Globo, n.32012, 30/03/2021. País, p.7

 

Bancada da bala na esplanada

Renata Mariz

30/03/2021

 

 

LINHA DURA, TORRES PODE REAPROXIMAR GOVERNO DAS POLICIAS

O rearranjo promovido pelo presidente Jair Bolsonaro no primeiro escalão do governo abriu espaço para um pleito antigo de um grupo próximo ao Palácio do Planalto: a presença de uma liado da bancada da bala no Ministério da Justiça e Segurança Pública. O novo titular do cargo, Anderson Torres, que deixa a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, teve, na visão de interlocutores, “paciência para esperar sua vez”. No caminho traçado até alcançar o posto, o delegado da Polícia Federal foi resiliente para lidar com indicações que acabaram frustradas e conquistou participação ativa na “cozinha” de Bolsonaro.

Torres é amigo de fiéis escudeiros do presidente, como Jorge Oliveira, que era secretário-geral da Presidência e hoje está no Tribunal de Contas da União (TCU), e o ex-deputado Alberto Fraga, além de cultivar relação pessoal também com dois filhos de Bolsonaro, o senador Flávio (Republicanos-RJ) e o deputado Eduardo (PSL-SP).

O novo ministro, aliás, conhece Bolsonaro desde a época da Câmara. Ele trabalhou como assessor do ex-deputado federal Fernando Francischini, período em que se aproximou de Bolsonaro por conta das pautas defendidas pela chamada Frente Parlamentar da Segurança Pública, nome formal da bancada da bala. Já durante o governo, chegou a trocar farpas com o então titular da Justiça, Sergio Moro, após o governo federal determinar a transferência de Marcos Camacho, o Marcola, chefe da organização criminosa que atua em São Paulo e em outros estados, para o presídio federal de Brasília.

Torres é considerado um policial com visão linha dura, na linha do bolsonarismo, mas envolvido com as pautas corporativistas das polícias, o que pode reaproximar do governo as categorias — uma base de apoio importante para o Bolsonaro, mas que dá sinais de insatisfação.

Em outra frente, o novo ministro terá a missão de mostrar serviço na área da segurança pública, além de embasar os movimentos do presidente em torno do tema espinhosos, como liberação de armas e uso da Lei de Segurança Nacional contra adversários, caso tenha de seguir alinha de André Mendonça, que deixou a pasta para voltara comandara Advocacia-Geralda União.

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Delegado já tinha sido cotada para a PF

30/03/2021

 

 

A chegada de Anderson Torres, delegado da Polícia Federal (PF), ao Ministério da Justiça é o resultado de uma empreitada liderada pela “bancada da bala” desde a época em que o governo de Jair Bolsonaro estava sendo formado, ainda em 2018.

Ligado ao ex-deputado federal Albeto Fraga (DEM-DF), um dos principais nomes relacionados à atuação política em prol do armamentismo no país, Torres teve o nome ventilado no período de transição, mas acabou preterido por Sergio Moro.

Já com o governo em andamento, no fim de 2019, foi citado como um possível substituto de Maurício Valeixo na Polícia Federal —Moro, no entanto, sempre resistiu à ideia de nomear o então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. Outra tentativa da bancada da bala de emplacar o aliado consistiu na defesa da divisão entre Justiça e Segurança Pública —tese que Moro também sempre combateu. A interlocutores, o então ministro creditava o frequente ressurgimento do nome de Torres nos bastidores a tentativas de enfraquecê-lo.

Depois da saída do exjuiz do governo, o caminho de Torres ficou mais livre —e agora vai comandar o “superministério” que ele, defensor da divisão entre Justiça e Segurança Pública, chegou a criticar.