O Globo, n.32012 , 30/03/2021. País, p.6

 

Lira emplaca aliada

Julia Lindner

Jussara Soares

Natália Portinari

30/03/2021

 

 

CASADA COM Ex-GOVERNADOR DO DF, DEPUTADA ESTA NO Iº MANDATO

A nomeação da deputada federal Flávia Arruda (PLDF) como nova ministra-chefe da Secretaria de Governo, responsável pela articulação política junto ao Congresso, sacramenta a entrada do Centrão no Palácio do Planalto. A deputada é casada com o exgovernador do Distrito Federal José Roberto Arruda, que ficou inelegível após ser condenado por corrupção e que chegou a ser preso no exercício do cargo, em 2010, no escândalo que ficou conhecido como Mensalão do DEM.

Sob a justificativa de ser um nome político que tem bom trânsito entre os pares, a nova ministra substituirá o general Luiz Eduardo Ramos, que, por sua vez, ocupará o lugar de Walter Braga Netto no comando da Casa Civil.

Flávia estreou na política em 2014, como candidata a vice-governadora do Distrito Federal na chapa de Jofran Frejat, após Arruda, seu marido, ter o registro cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os dois acabaram perdendo a disputa para Rodrigo Rollemberg (PSB). Antes, Flávia trabalhava como apresentadora de TV. Em 2018, foi a deputada mais votada do DF.

Ligada ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PPAL), Flávia é integrante do PL, presidido por Valdemar Costa Neto, condenado a sete anos e dez meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e um dos principais líderes do Centrão. Valdemar vem liderando a aproximação do partido com Bolsonaro —a sigla emplacou nomes na presidência do Banco do Nordeste e na diretoria do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O PL ainda cobrava, no entanto, o comando de um ministério. Valdemar expressou insatisfação após o Republicanos indicar o ministro da Cidadania, João Roma, mesmo tendo bancada menor.

O PL também ficou insatisfeito com a articulação de Ramos na aprovação do Orçamento de 2021 e ameaçou obstruir a votação. Nos bastidores, lideranças do partido acusaram a Secretaria de Governo de privilegiar senadores na distribuição de emendas.

No início do ano, Flávia assumiu a presidência da Comissão Mista de Orçamento com apoio de Arthur Lira, seu aliado. Agora, ela também teve seu aval para assumir um assento no Planalto. Ontem pela manhã, Lira esteve no Palácio da Alvorada com Bolsonaro.

Há cerca de uma semana, o presidente da Câmara subiu o tom contra o governo e disse que a condução da pandemia poderia resultar em “remédios políticos amargos” a serem usados pelo Congresso. No dia seguinte, Bolsonaro e Lira tiveram uma reunião para tentar afastar o mal-estar.

REAÇÕES OPOSTAS

Nas redes sociais, parlamentares da oposição comentaram a ligação de Flávia com Lira. O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) disse que a indicação foi um “agrado” ao presidente da Câmara.

Aliada de Lira, Margarete Coelho (PP-PI) elogiou a escolha.

— O nome de Flávia é um sopro de ar fresco no governo. Ela é muito habilidosa politicamente. Pelo fato de ser mulher, paciente, centrada, competente. Estou muito esperançosa de que agora vamos melhorar a interlocução com classe política —disse.

Bolsonaro resistiu a colocar um nome político na Secretaria de Governo, por sentir mais confiança em militares, mas acabou cedendo à pressão do Congresso. Na sua gestão, a pasta foi comandada pelos generais Alberto Santos Cruz e Luiz Eduardo Ramos.