O Globo, n.32007 , 25/03/2021. Sociedade, p.11

 

Novo ministro defende vacinas e máscaras e pede harmonia

Julia Lindner

Renata Mariz

25/03/2021

 

 

No primeiro discurso após a posse, Marcelo Queiroga promete acelerar imunização em “curto espaço de tempo'

No dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 300 mil mortos pela Covid-19, o quarto ministro da Saúde à frente do combate à pandemia fez o seu primeiro pronunciamento após tomar posse e afirmou que sua função, como médico, é “salvar vidas”. Em referência a uma mudança de critérios para a notificação dos óbitos que derrubou ontem dados de estados como São Paulo, Marcelo Queiroga afirmou que a ordem não partiu dele e pediu um “ambiente de harmonia”. Ele prometeu ainda aumentar em três vezes o ritmo da campanha de vacinação contra a Covid-19 no país.

De acordo com Queiroga, é “plausível” passar de 300 mil imunizados por dia para 1 milhão em um curto espaço de tempo, porque “o Brasil tem condições de vacinar muitas pessoas”. Ele também se posicionou contra o lockdown, mas defendeu o uso de máscara e regras para garantir o distanciamento social.

Queiroga afirmou que o primeiro compromisso do governo é garantir uma “forte campanha de vacinação” contra a Covid-19. Ele defendeu que houve um esforço do Executivo nos últimos meses para garantir doses dos imunizantes, mas admitiu que é preciso avançar mais.

O ministro disse, ainda, que o Brasil vive uma “emergência sanitária de importância internacional” há mais de um ano, que a situação é grave e que o presidente Jair Bolsonaro entendeu que deveria haver um médico no comando do Ministério da Saúde. Na mesma fala, pediu um voto de confiança da população.

Sobre a modificação dos critérios para contabilização de mortes no país, Queiroga afirmou que não partiu dele a ordem para a implementação de novas exigências, já suspensas pelo ministério.

— Eu não sou maquiador, eu sou médico. Minha função nãoé maquiagem, é salvar vidas.Pre cisamos criar um ambiente novo, de harmonia.

Após a entrevista, o ministério divulgou uma nota dizendo que, após solicitação do Conass e Conasems (entidades que reúnem secretários estaduais e municipais de Saúde), “foi suspenso o preenchimento obrigatório de alguns campos de identificação” para a notificação de mortes.

Queiroga também garantiu que tem autonomia par afazer indicações na pasta, coma criação de uma secretaria especial para cuidar da pandemia. Ele aproveitou para anunciar os nomes da nova equipe. Queiroga disse que o secretário-executivo será Rodrigo Castro, apresentado como funcionário de carreira do Ministério da Economia. O nome correto é Rodrigo Cruz, oriundo da pasta da Infraestrutura, não da Economia.

A Secretaria de Atenção à Saúde Especializada, segundo o ministro, será comandada por Sérgio Okane, diretor do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).

O novo ministro da Saúde se posicionou contra o lockdown, em sinal de alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro. Ele demonstrou uma mudança de discurso em relação ao uso de equipamentos de proteção, como máscaras, e ações que disciplinem o distanciamento social.

—Quem quer o lockdown? Ninguém quer lockdown. O que temos que fazer é adotar medidas sanitárias eficientes. Até porque a população não adere ao lockdown. Vacina, por exemplo, é fundamental. Mas precisamos usar máscara. M ás caraéf undam ental.É preciso adotar medidas que disciplinem a circulação.

Queiroga destacou que o Brasil enfrenta o pico de óbitos eque asi tuaçãoé grave, inclusive com aumento de pessoas mais jovens entre as vítimas fatais.

Questionado se o Ministério da Saúde vai manter a orientação sobre cloroquina e hidroxicloroquina, remédios sem comprovação de eficácia para aC ovid-19,Qu eiroga disseque não há“protocolo” da pasta eque compete ao médico, dentro de sua autonomia, receitar os medicamentos que julgar necessários, ainda que off-label (fora da indicação da bula). Ele afirmou, no entanto, que a pasta irá “buscar o que existe de comprovado”.

—É uma relação médico paciente e caso acaso deve ser decidida. Masa minha opinião em relação a essa questão é que temos que olhar para afrente e buscar oque existe de comprovado. Eéis soque o Ministério da Saúde vai fazer.