O Globo, n.32005 , 23/03/2021. País, p.5

 

Congresso cobra mudança efetiva na Saúde

Natália Portinari

Bruno Goés

Paulo Cappelli

23/03/2021

 

 

Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM—MG), quer aproveitar reunião chamada por Bolsonaro para exigir ações concretas no combate à pandemia, enquanto Arthur Lira (PP-AL) segue insatisfeito com escolha de Queiroga

A indefinição sobre o Ministério da Saúde gerou cobranças da cúpula do Congresso Nacional sobre o Palácio do Planalto. Lideranças, já insatisfeitas com a escolha de Marcelo Queiroga, nome do presidente Jair Bolsonaro para o cargo, exigem que o governo oficialize logo a troca e exonere Eduardo Pazuello.

A demora, segundo fontes do Planalto, deve-se a pendências em empresas ligadas a Queiroga, das quais ele deve se desincompatibilizar. O ministro disse a interlocutores que na semana passada sondou potenciais membros de sua equipe. Ele planeja substituir os secretários de Pazuello.

Chamados para uma reunião com Bolsonaro amanhã para a criação de um comitê para tratar da pandemia, os presidentes de Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e Câmara, Arthur Lira (PP-AL), têm manifestado, cada um a seu estilo, incômodo com a condução do governo e esperam uma guinada na área. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, também deve participar do encontro.

Pacheco espera por medidas concretas. Segundo sua assessoria, o parlamentar deve “cobrar itens como medicamentos para sedação, inclusive adquiridos no exterior, abertura de novos leitos de UTI, cumprimento do cronograma de vacinação e realização de uma força-tarefa imediata junto a laboratórios, como a Pfizer e a Janssen, que possam fornecer imunizantes em quantidades suficientes e no menor tempo possível ao Brasil”.

ESCALADA DE CRÍTICAS

O presidente do Senado tem aumentado o tom das críticas públicas ao governo. Em publicação no Twitter ontem, pediu a “coordenação do presidente da República”. Em entrevista à TV Band no domingo, afirmou que “negacionismo se tornou uma brincadeira de mau gosto, macabra e medieval” e defendeu medidas tomadas por prefeitos e governadores.

Lira, por sua vez, permanece irritado com a escolha de Queiroga, anunciado após Bolsonaro descartar Ludhmila Hajjar, que havia sido elogiada publicamente por ele.

No Centrão, o preferido era Dr. Luizinho (PP-RJ) para o cargo. Aliados próximos de Lira se incomodaram com as declarações de Queiroga na última semana. Acreditam que ele terá uma posição submissa ao presidente, o que tornaria difícil qualquer mudança substancial na gestão da crise na Saúde.

O vice-presidente da Casa, Marcelo Ramos (PLAM), fez uma cobrança pública. Ao contrário de Lira, Ramos busca se opor explicitamente a Bolsonaro.

“A reunião de quarta entre presidente de Poderes e governadores não pode passar de uma conversa sem consequências. É preciso repor a ordem para que o país tenha vacina no braço e comida no prato. Convoco o povo brasileiro para que acompanhe a reunião e cobre resultados concretos”, postou nas redes sociais.

Cobrado pela instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a omissão do governo na pandemia, Pacheco disse que “há erros sucessivos, e os culpados serão apontados em algum momento”.

Ele também se pronunciou sobre a situação do ministro que ainda não tomou posse. “É surreal que durante o momento mais grave da pandemia tenhamos um ministro demitido que continue no cargo e um ministro escolhido que não assume. As pessoas morrendo e o país sem ministro”, protestou.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Bolsonaro diz que não mudará discurso sobre a Covid

Julia Lindner

23/03/2021

 

 

Em cerimônia no Planalto, presidente afirma que não foi convencido a mudar postura em relação a pandemia e critica Iockdown

Incomodado com as críticas ao governo no combate à pandemia da Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que ainda não foi convencido a mudar de postura em relação ao tema e que o Brasil tem tido um trabalho “excepcional” na disponibilização de vacinas. Em discurso no Palácio do Planalto para assinatura do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), o presidente aproveitou para fazer uma defesa da sua gestão na área econômica, da Saúde e da Educação:

—Devo mudar meu discurso? Me tornar mais maleável? Devo ceder, fazer iguala grande maioria está fazendo? Se me convencerem do contrário, eu faço. Mas não me convenceram ainda. Devemos lutar contra o vírus, e não contra o presidente.

Antes de discursar, o presidente reclamou da ausência  da imprensa à Secretaria Especial de Comunicação. Bolsonaro voltou a dizer que o Brasil é o quinto quem ais vacina contra a Covid-19 em valores absolutos. Proporcionalmente, no entanto, somente cerca de 5% da população brasileira foi vacinada até agora.

— Nós somos o quinto país que mais vacina em valores absolutos. A Fio cru zen trana segundas emana coma produção semanal de 5 milhões de doses. Está faltando vacina? Queríamos mais. (...) Qual país do mundo não tem problema com vacina? —disse.

O presidente também disse que setores da sociedade o pressionam a decretar lockdown e que, se houvesse comprovação de que a medida acabaria com o vírus, em 30 dias ele aceitaria:

—Se ficar em lockdown em 30 dias e acabar com vírus eu topo, mas sabemos que não vai acabar.

Bolsonaro citou o médico David Nabarro, da OMS, para dizer que o isolamento total não é eficaz. No entanto, retirou afalado especialista de contexto. Nabarro aconselhou a retomada da vida social e atividade econômica desde que ela não resulte em aumento de mortes pela Covid-19.