O Globo, n.32001 , 19/03/2021. País, p.7

 

Morto por Covid, senador criticou negacionismo em seu último discurso

Paulo Cappelli

19/03/2021

 

 

Eleito com apoio de Jair Bolsonaro, rompeu com presidente e atacou a condução do combate à pandemia

Morreu ontem, aos 58 anos, Major Olimpio (PSL-SP), o terceiro senador vítima da Covid-19. Antes dele, Arolde de Oliveira (PSD-RJ) e José Maranhão (MDB-PB) haviam falecido em decorrência da doença. Eleito com nove milhões de votos, Olimpio foi internado no último dia 2 e intubado quatro dias depois. Ele deixa mulher e dois filhos.

Além do parlamentar, quatro assessores de seu gabinete foram diagnosticados com a doença — um deles está intubado. Na conta oficial de Olimpio, um amigo do senador escreveu ontem: “Com muita dor no coração, comunicamos a morte cerebral do grande pai, irmão e amigo, senador Major Olimpio. Por lei a família terá que aguardar 12 horas para confirmação do óbito e está verificando quais órgãos serão doados. Obrigado por tudo que fez por nós, pelo nosso Brasil”.

Olimpio foi eleito com 9 milhões de votos, em 2018. Disputou o pleito se associando ao presidente Jair Bolsonaro, que, à época, também integrava o PSL. No racha de Bolsonaro com o presidente nacional do partido, Luciano Bivar, Olimpio optou por romper com o chefe do Executivo.

A partir daí, ele se tornou um dos opositores mais ácidos a Bolsonaro no Congresso, fazendo duras críticas ao presidente e a seus três filhos que estão na vida política: o também senador Flávio (Republicanos-RJ), o deputado federal Eduardo (PSL-SP) e o vereador do Rio Carlos (Republicanos).

Olimpio era um dos poucos parlamentares do PS Las e opor abertamente ao regresso de Bolsonaro ao PS L. Seu é o empresário Carlos Giordano (PSL).

Batizado Sérgio Olimpio Gomes, Major Olimpio estava internado num hospital em São Paulo. Na semana anterior, ele circulava atuante pelos corredores do Congresso e pelo plenário do Senado.

Antes da intubação, na sessão que votou a PE C Emergencial, chegou a participar remotamente da sessão plenária fazendo uma transmissão por vídeo diretamente deu ml eito hospitalar. Ele estava coma respiração ofegante e, por contada quedado sinal do celular, não concluiu o discurso.

Também senadores, Arolde de Oliveira e José Maranhão morreram em decorrência de Covid-19, respectivamente aos 83 e 87 anos. Arolde morreu em 21 de outubro do ano passado, e José Maranhão, em 8 de fevereiro deste ano.

ÚLTIMO DISCURSO

Em seu último discurso antes da internação, em 11 de fevereiro, Major Olimpio questionou o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre a atuação do governo federal na pandemia, culpando o negacionismo pelo número de mortes pela doença. “Nossas orações de conforto aos familiares dos senadores Arolde de Oliveira e José Maranhão, que nós perdemos, e às mães dos senadores Renan Calheiros e Jayme Campos, que, de certa forma, são vítimas da irresponsabilidade, do negacionismo com que foi tratada a pandemia até então”.

O senador pleiteou a criação de uma CPI para investigar a atuação do governo federal no combate à Covid-19 e defendeu vacinação em massa. Criticou a recomendação de medicamentos sem eficácia comprovada em plataforma no site do Ministério da Saúde, destacou que veículos de imprensa tiveram de se organizar em consórcio quando o governo tentou ocultar dados da pandemia, e questionou a atuação da pasta na crise em Manaus, em janeiro, quando faltou oxigênio hospitalar. Perguntou ainda sobre negociações de compras de vacinas:

—Vossa excelência (Pazuello) também declarou: “Nós avaliaremos a demanda e, se houver demanda e houver preço, nós vamos comprar (vacinas)”. Meu questionamento: o senhor realmente acredita que poderia não haver demanda por compra de vacinas para nos tirar da pandemia? Quando o senhor afirmou isso, foi desconhecimento ou obediência hierárquica?

No entanto, duas semanas antes de ser internado, o senador participou de um ato contra o fechamento do comércio em Bauru (SP), conforme noticiou a colunista Bela Megale, em que houve aglomeração. No mesmo dia, o senador informouter testado positivo para Co vide disseque trabalharia remotamente por 14 dias, respeitando o isolamento.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEMMG), decretou luto oficial.

—É uma notícia que fez desolar diversos senadores com os quais conversei —afirmou

Após o anúncio da morte de Olimpio, Bolsonaro cancelou ida ao Congresso para a entrega da medida provisória de recriação do auxílio emergencial.

Diante do choque dos parlamentares coma morte do senador, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anunciou que irá impor restrições pelo período de duas semanas à circulação de pessoas na Casa. Mais cedo, em transmissão ao vivo ao lado do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, Lira defendeu a vacinação e o aumento do número de leitos:

—Os brasileiros precisam ter esse conforto, e nós precisamos evitar essa agonia e esse vexame internacional .