O Globo, n.32000 , 18/03/2021. Sociedade, p.10

 

Brasil ultrapassa média de 2 mil mortes diárias

Bruno Alfano

Constança Tatsch

Natália Portinari

18/03/2021

 

 

Pais também bateu novo recorde no registro de novos casos: 90.830, segundo boletim do consórcio da imprensa. A interlocutores, Queiroga diz ser essencial que O governo edite regras nacionais sobre distanciamento social para responder à pressão por lockdown

Depois de ter o dia mais letal da pandemia nesta terçafeira, com 2.798 mortes em 24 horas, o Brasil registrou ontem dois recordes: o de maior números de contágios em um dia (90.830 novos casos) e a maior média móvel de óbitos em uma semana (2.031 mortes na média móvel dos últimos sete dias). Isso significa que o país passou de 14 mil vítimas da doença em uma semana, marca nunca antes atingida. Agora, são 285.136 vidas perdidas para o novo coronavírus desde o começo da pandemia.

RESPOSTA A PRESSÕES

Agora soba gestão de Marcelo Queiroga, novo ministro da Saúde, o governo estuda emitir diretrizes nacionais sobre distanciamento social, com regras para o funcionamento de comércios e circulação de pessoas. A ideia é estipular protocolos sanitários para estabelecimentos comerciais, mas sem necessariamente dar endosso a lockdown ou a restrições mais rígidas do que as praticadas hoje por governadores e prefeitos. A interlocutores, Queiroga disse julgar as regras essenciais, ainda que sejam apenas orientações.

Queiroga já recebeu pedido de governadores para que coordene orientações de restrição a nível nacional. Os gestores estaduais solicitaram uma agenda para debater o tema com o ministro. Alguns defendem o lockdown, ou seja, uma proibição geral de circulação, o que no Brasil não chegou a existir.

A elaboração de protocolos nacionais sobre distanciamento foi discutida na reunião com o presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira.

O novo ministro demonstrou concordar com o argumento do presidente de que a atividade econômica não pode ser totalmente prejudicada por restrições de circulação. Ele acredita, porém, que é importante que o Ministério da Saúde dê alguma orientação sobre o assunto para os estados e municípios.

Em conversas com deputados, o ministro disse que, em sua gestão, quer trabalhar em conjunto com governadores e prefeitos para que não haja orientações dissonantes à população sobre o tratamento da Covid-19. Ele defende o uso de máscaras e medidas de distanciamento social para conter o vírus.

O governo foi pressionado, nas últimas semanas, a mudar a estratégia em relação à pandemia. O recorde de mortes, o ritmo lento da vacinação e a pressão do Congresso fizeram com que Bolsonaro decidisse demitir Eduardo Pazuello, ministro da Saúde que, formalmente, ainda está à frente da pasta. No seu lugar, escolheu o médico cardiologista Marcelo Queiroga, com um perfil mais técnico.

Ontem, Queiroga participou de sua primeira agenda pública: na Fiocruz, no Rio de Janeiro, acompanhou a entrega das primeiras 500 mil doses da vacina da AstraZeneca/Oxford produzidas no Brasil com insumos importados. No evento, o novo ministro afirmou enxergar dois caminhos de curto prazo para conter a pandemia: políticas de distanciamento social e melhora no atendimento hospitalar.

— Esse impacto dos óbitos vamos reduzir com dois pontos principais: primeiro com políticas de distanciamento social próprias que permitam diminuir circulação do vírus e, segundo, com melhora na capacidade assistencial dos nossos serviços hospitalares. A campanha da vacinação, o resultado nas internações e óbitos, vamos conseguir a médio prazo —afirmou Queiroga.

LULA PEDE VACINAS

Ontem, em entrevista à jornalista britânica Christiane Amanpour, da rede de TV americana CNN, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um pedido ao presidente Joe Biden para que as vacinas excedentes dos Estados Unidos sejam doadas aos países mais pobres. A informação foi publicada na coluna de Bela Megale, do GLOBO.

“Estou sabendo que os EU Atêm vacinas extra seque não vão usar toda essa vacina. E essa vacina, quem sabe, poderia ser doada ao Brasil ou a outros países, ainda mais pobres, que não poderiam pagar”, disse Lula, sugerindo que Biden convoque uma reunião do G20 para falar sobre o assunto.

“Eu não poderia pedir isso ao Trump, mas Biden é um respiro para a democracia no mundo”, disse.

Enquanto isso, a Fiocruz anunciou ontem que começará, em abril, afazer entregas semanais de 6 milhões de doses ao SUS para distribuição nacional.

De acordo coma presidente da fundação, Nísia Trindade, será entregue um milhão de doses, no total ainda desta semana, completando 3,8 milhões até o fim de março. O objetivo é repassar 100 milhões de doses até julho, como contratado coma Astra Zen eca. Depois disso, no segundo semestre, devem ser entregues as doses feitas já com insumos nacionais.

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Idosos têm mais que dobro do risco de reinfecção por Covid-19

Rafael Garcia

18/03/2021

 

 

Apenas 47% dos já contagiados acima de 65 anos ficam protegidos, indica estudo

O maior estudo conduzido até agora para investigar o risco de reinfecção por Covid-19 mostrou que cerca de 80% das pessoas infectadas ficam protegidas do coronavírus por até seis meses depois de contraí-lo uma vez. Entre idosos, porém, a proteção foi bem mais baixa, com apenas 47% do grupo acima de 65 anos sendo capaz de evitar a doença ao ser reexposto.

A pesquisa, publicada em um estudo ontem na revista médica Lancet, foi feita com base em dados do sistema público de saúde da Dinamarca, que desde o início da pandemia realizou mais de 10 milhões de testes em 4 milhões de pessoas (algumas delas mais de uma vez).

Por ter uma política ampla de testagem, com exames gratuitos para pessoas com ou sem sintomas, o governo dinamarquês testou para Covid-19 quase 70% dos habitantes do país, ao menos uma vez. E, com essa política, criou um dos bancos dedados mais densos do mundo para investigar a questão da reinfecção.

O estudo foi liderado por Christian Holm Hansen e Daniela Michlmayr, do Statens Serum Institut. Os pesquisadores rastrearam a quantidade de pessoas que fizeram testes PCR-RT para Covid-19 durante a primeira onda da pandemia, de março a maio do ano passado, e também durante a segunda, de outubro a dezembro. Co mocada paciente tinha um número de identificação, os dados foram cruzados.

Enquanto naqueles previamente infectados, a taxa de infecção foi de 0,65% para a segunda onda, aqueles que não tinham contraído a doença antes tiveram uma prevalência relativamente alta, de 3,27%. A partir desses números é que os cientistas estimaram as taxas de proteção.

“Nossas descobertas podem subsidiar decisões sobre quais grupos devem ser vacinados e defendera vacinação de indivíduos previamente infectados porque a proteção natural não é confiável, especialmente entre pessoas mais velhas”, escreveram os pesquisadores.

Além de ser o primeiro estudo amostrar o tamanho da disparidade da resposta imunológica dos idosos, o grupo dinamarquês estimou uma proteção geral um pouco menor do que a que vinha sendo estimada em outros trabalhos. Um estudo com 43 mil pessoas no Catar estimava em 90% a taxa natural de proteção para os já infectados, enquanto no Reino Unido um estudo com 20 mil profissionais de saúde a estimou em 83%.

A taxa de proteção da infecção natural medida pelos cientistas foi menor que a média das vacinas disponíveis, quando os dados foram corrigidos para a faixa etária das populações.

“A qualidade, quantidade e durabilidade da imunidade protetiva desencadeada por infecção natural com o SarsCoV-2 é pobre comparada aos níveis bem maiores de anticorpos neutralizantes de vírus e células T induzidas pelas vacinas administradas atualmente”, afirmou Rosemary Boyton, infectologista do University College de Londres, ao comentar o estudo dinamarquês no Lancet.

Uma questão que ainda precisa ser respondida com mais precisão, porém, é o quanto as novas variantes do Sars-CoV-2, como as que emergiram no Brasil, Reino Unido e África do Sul, podem sabotar a imunidade por infecção natural. O estudo dinamarquês não foi projetado para responder a essa dúvida.

O trabalho de Hansen e Michlmayr, porém, é mais uma clara indicação de que “a esperança de uma imunidade protetiva por meio de infecções naturais não deve estar ao nosso alcance”, segundo Boyton, que ressalta que a introdução de vacinas eficazes continua sendo a única esperança de solução duradoura para debelar a pandemia.