Correio Braziliense, n.21124 , 26/03/2021. Política, p.4

 

Entrevista – Fernando Azevedo e Silva: "Prioridade agora é a vacina"

Fernanda Strickland*

26/03/2021

 

 

General ressalta comprometimento das Forças contra a pandemia e as coloca como fundamentais para superar o difícil momento do país

As Forças Armadas têm sido um importante fator de combate à pandemia de covid-19 nos mais distantes pontos do Brasil. A avaliação é do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que assegurou que os militares estão totalmente engajados no combate ao novo coronavírus. Em entrevista, ontem, ao CB.Poder — uma parceria entre o Correio Braziliense e a TV Brasília —, apesar de o Brasil ter ultrapassado a marca de mais de 300 mil mortes, o general assegurou que todos os esforços têm sido empenhados para que o país supere a atual condição o quanto antes. Para isso, a vacinação em massa é vital. Ele ressaltou a importância de que as Forças estejam bem equipadas e isso passa pela preservação do orçamento para a modernização do sistema. Azevedo e Silva afirmou, ainda, a relevância da indústria nacional de defesa, que responde por 4% do Produto Interno Bruto (PIB).

Estamos em um momento dramático do país devido à pandemia, com mais de 300 mil mortes. Qual a mensagem que o senhor passa à população brasileira?

A situação é realmente dramática. Penso que, na história do mundo, não ocorreu uma situação como essa que estamos passando, desde o ano passado. Porém, compete aos governantes passarem uma mensagem de esperança e de otimismo ao povo dentro desse quadro. Eu tenho participado dos esforços que o governo faz em relação à covid-19. O foco principal é a vacina. O governo esforçou-se muito para tentar viabilizar, até o final do ano, cerca de 500 milhões de vacinas, além de outras coisas que ajudem nesse quadro ruim. As Forças Armadas estão inseridas nesse esforço; temos apoiado e trabalhado muito dentro de uma máxima de emprego e eficiência possível.

A Operação Covid-19, das Forças Armadas, está completando um ano. O que é essa operação e qual o objetivo dela?

O objetivo é apoiar a população, os estados, os municípios e o povo brasileiro no combate à covid-19. Nós completamos um ano de operação, mas ela não começou no dia 20 de março do ano passado. Em fevereiro de 2020, as Forças Armadas, por meio da Força Aérea Brasileira, foram resgatar os brasileiros em Wuhan, na China. Adaptamos uma base aérea em Anápolis e fizemos o primeiro período de quarentena no Brasil com sucesso, isolando os brasileiros ali. Desde março do ano passado, por diretriz do presidente da República, para apoiar a população brasileira, instituímos 10 comandos conjuntos. Comando conjunto é a Marinha, Exército e Força Aérea com outros órgãos, também do Brasil inteiro, para apoiar a população em relação à covid-19, e para transporte de material de saúde, insumos, respiradores, oxigênio. A FAB já deu o equivalente a 55 voltas no planeta, e muita coisa com os meios que temos. Estamos empregando o máximo de esforço possível como: descontaminação, distribuição de cesta básica, formação de profissionais de saúde e, agora, a distribuição das vacinas, inclusive em áreas remotas, sobretudo indígenas.

O senhor participou da reunião dos chefes de Poderes e ficou muito claro, ali, a importância da vacinação. Essa é a prioridade do governo agora?

A prioridade é a vacina, mas o governo não pode deixar de se preocupar com a parte econômica — desemprego e famílias que estão passando necessidade. Serviço essencial também passa a ser levar um prato de comida para casa. Isso é essencial também. Mas penso que a vacina vai dar um alento à economia, as pessoas vão se sentir mais seguras, o emprego vai voltar, as coisas vão ser abertas, a tempo e a hora, para que não tenha um quadro econômico ruim com efeitos sociais.

Como fica o orçamento para a defesa este ano? Qual o amanho e qual a prioridade?

As prioridades do Ministério da Defesa são os projetos estratégicos, que visam recuperar a capacidade operacional das Forças Armadas, que, atualmente, contam com equipamentos antigos, muitos com mais de 50 anos, 60 anos. Investir nos projetos de defesa é movimentar a base industrial nacional e manter milhares de empregos no país. Os contratos foram firmados no passado e, a cada corte no Orçamento, geram aumento de custo. São projetos com alta complexidade tecnológica, como, por exemplo, desenvolvimento de submarinos, do cargueiro tático militar e do sistema integrado de monitoramento de fronteiras — investimentos estruturantes que induzem o crescimento, geram tecnologias e empregos. Além disso, os projetos geram divisas ao país, com as exportações dos produtos de defesa. Considero positivo que, num período de baixo crescimento econômico, os recursos orçamentários para investimentos no país tenham sido preservados. No combate à covid-19, as Forças Armadas vêm sendo empregadas em todo o território, no limite de suas capacidades. Aeronaves KC-390, por exemplo, foram fundamentais para o transporte de oxigênio líquido para Manaus, permitindo salvar as vidas de milhares de pessoas.

Nós vimos um processo de desindustrialização grande do país, na área da saúde e em outros segmentos. Vocês têm trabalhado muito na questão da indústria a defesa. O que é essa indústria a defesa?

Temos uma base industrial de defesa, que é compatível e sólida, que tem um mercado interno que são basicamente as Forças Armadas. Ela responde a uma base estratégica, que garante cerca de 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos — representa 4% do PIB. Temos 130 países que importam da gente materiais de defesa. Nós exportamos, em 2019, mais de US$ 1,2 bilhão em material de defesa. Nossa base de defesa emprega muita gente. Temos exemplos no mundo: a Internet nasceu por uma necessidade de segurança e defesa que ajuda o mundo inteiro hoje. Nossa indústria se adaptou para ajudar contra a covid-19. Fabricou respiradores, fabricou álcool em gel, equipamento de proteção individual.

Qual o potencial dessa indústria da defesa? Ela representa 4% do PIB e quanto pode chegar em termos de geração de emprego e vendas?

Apesar da pandemia no mundo inteiro, a transação de material de defesa até aumentou — ela tem uma capacidade muito boa de exportação. O mercado está sendo promissor. Em 2020, nós, apesar da pandemia, tivemos quase o mesmo resultado de 2019. Fizemos cerca de US$ 1 bilhão em exportação de materiais de defesa. Nós temos matérias e equipamentos de primeira linha. Em termos de emprego, é um misto: temos a parte de formação que ajudamos, como o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e o Instituto Militar de Engenharia (IME).

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi