Correio Braziliense, n.21123 , 25/03/2021. País, p.6

 

Ministro quer vacinar 1 milhão

Bruna Lima

Maria Eduarda Cardim

Sarah Teófilo

25/03/2021

 

 

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, participou, ontem, da sua primeira entrevista coletiva, na qual frisou a importância da vacinação para frear o aumento de mortes pela covid-19, assumindo o compromisso de, em um curto prazo, aumentar em pelo menos três vezes a velocidade atual de imunização e atingir 1 milhão de aplicações diárias. "É uma meta plausível. Temos condições de até ampliar ainda mais, mas não quero me comprometer, porque precisamos buscar mais vacinas", disse.

Citando a Revolta da Vacina — revolta popular no Rio de Janeiro, em 1904, causada pela campanha de imunização obrigatória contra a varíola —, o ministro disse que, ao contrário do passado, hoje 95% da população brasileira deseja receber as doses contra a covid-19. Um discurso bem diferente daquele que vinha sendo difundido por Jair Bolsonaro durante a pandemia, quando atacou várias vezes a aplicação do medicamento e disse que não se vacinaria.

Queiroga, entretanto, ressaltou a importância da imunização, dizendo ser ordem do presidente da República dar prioridade total na implementação de uma forte campanha de aplicação de doses. "Precisamos vacinar a população para reduzir a circulação do vírus. Com ela, a gente consegue evitar casos graves. Fazer política de saúde, e não política na saúde. Fazer com que as pessoas acreditem nas autoridades sanitárias", garantiu.

Além disso, o ministro falou sobre alinhamento com a ciência e boa relação com a imprensa, mas evitou comentar as ações tomadas pelo governo federal até agora. "Vamos deixar de gerar calor, vamos gerar luz", disse, falando sempre em "seguir em frente" no dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 300 mil mortos pela covid-19, e evitando responder a questionamentos mais polêmicos em relação à forma como o ministério que agora dirige lidou com a pandemia até o momento.

Queiroga buscou ressaltar a ciência, dizendo ter compromisso com "práticas científicas de boa qualidade". E quando questionado sobre indicação de remédios contra covid-19 — tais como os do "tratamento precoce" que vinha sendo defendido por Bolsonaro e por seu antecessor, Eduardo Pazuello —, disse que não há medicamentos com eficácia comprovada contra o novo coronavírus.

"É uma doença que não tem tratamento específico para bloquear a replicação viral. A minha opinião é de que temos que olhar para frente e buscar o que existe de comprovado, e é isso que o Ministério da Saúde vai fazer", garantiu.

Questionado sobre a mudança na forma de notificar mortes por covid-19, alteração que o ministério abandonou depois da crítica de gestores da saúde, o ministro ressaltou que não pretende criar mais desavenças entre os Três Poderes, as instâncias do Executivo e a imprensa. "Não sou maquiador, sou médico. Minha função não é maquiar, é salvar vidas. Vamos criar um ambiente novo, de harmonia, vamos trabalhar juntos", afirmou.