Correio Braziliense, n.21122 , 24/03/2021. Brasil, p.11

 

Sem remédio de intubação

Fabio Grecchi

24/03/2021

 

 

Em audiência na Câmara, diretora da Anvisa alerta que os fabricantes de medicamentos estão no limite da capacidade de produção. E, por terem priorizado os insumos para quem está internado numa UTI, deixaram de fazer outros fármacos, que também começam a faltar

A capacidade da indústria nacional para a fabricação de medicamentos necessários para a intubação nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) está no limite e remédios para outras áreas podem faltar. Isso porque há fabricantes que voltaram sua produção totalmente para o "kit intubação", o que representa o desabastecimento de outros fármacos. O alerta foi dado ontem pela diretora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Meiruze Sousa Freitas, durante audiência na Comissão Externa da Câmara dos Deputados que acompanha as ações de combate à covid-19.

"As empresas estão no limite de produção (da capacidade produtiva). Algumas aumentaram (a produção) em quatro ou sete vezes e têm empresas que dedicaram toda a sua produção aos medicamentos de intubação orotraqueal. Isso também é um problema, porque há risco de desabastecimento de outros medicamentos", disse Meiruze.

Durante o depoimento, ela se emocionou ao relatar a ausência de anestésicos para intubar pacientes — motivo pelo qual a reunião foi convocada, pois, desde a semana passada, estados vêm avisando ao Ministério da Saúde que o aumento no número de internações nas UTIs voltadas para o atendimento à covid-19 causaram a redução nos estoques de medicamentos que compõem o kit intubação.

"Me emociono nesse processo. É dramático, é horrível saber que pessoas, nesse momento, nos hospitais, estão sem acesso à assistência básica. Porque ter acesso à analgesia é assistência básica. Peço desculpas pela emoção", reagiu.

Requisições

Por causa da iminência do desabastecimento, na semana passada, o Ministério da Saúde anunciou a requisição administrativa de remédios que estavam em estoque nas indústrias. Segundo Meiruze, para auxiliar nesse processo, a Anvisa também baixou medidas para aumentar o estoque disponível dos insumos para a intubação de infectados com o novo coronavírus — como a redução, de 15 dias para uma semana, do período de quarentena nos galpões das fábricas antes de os remédios serem liberados para uso.

Diante do quadro relatado por Meiruze, o vice-presidente da Câmara dos Deputados, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), criticou a omissão do ministério na coordenação do abastecimento de remédios para intubação de pacientes. A falta desses medicamentos, agravada por reajustes nos preços, tem provocado, segundo representantes de hospitais privados — que também participaram da audiência —, a diminuição da oferta de leitos para o tratamento da covid-19.

A Câmara deve remeter à pasta requerimento em que solicita a criação de uma central de demandas e de compras de medicamentos. "Nós temos uma corrida pela compra. Isso faz com que você tenha estados superabastecidos e estados sem nada, porque não há um controle nacional de demanda. O Ministério da Saúde precisa imediatamente tomar essa providência", cobrou Ramos.Nenhum representante do governo federal compareceu à audiência.