Correio Braziliense, n.21121 , 23/03/2021. Cidades, p.14

 

Atenção integral à covid

Ana Maria Campos

23/03/2021

 

 

CORONA VÍRUS » GDF estuda suspender cirurgias para evitar contaminação e remanejar servidores da saúde para o tratamento de pacientes infectados

A Secretaria de Saúde do DF pretende reformular toda a rede pública e remanejar profissionais, equipamentos, logística e infraestrutura para o tratamento dos pacientes contaminados e sob suspeita de covid-19.

Entre as medidas a serem adotadas, estão a suspensão de todas as cirurgias cardiovasculares, oncológicas e transplantes na rede pública e nas unidades administradas pelo IGES-DF. O problema é o risco de contaminação desses pacientes pelo novo coronavírus.

No plano desenvolvido para superar a escalada das contaminações e mortes, está também o fechamento de todos os ambulatórios da Atenção Secundária — exceto os voltados à saúde mental ou situações excepcionais — e remanejamento dos profissionais para atendimento dos pacientes com covid-19.

Até mesmo dentistas da rede pública serão destacados para atuar no esforço de combater a pandemia. Eles vão ajudar no atendimento aos cuidados dos pacientes sob ventilação mecânica nas unidades hospitalares.

Os anestesistas também serão designados para atuarem nos casos de covid-19. Da mesma forma, os médicos residentes que serão aproveitados para apoio ao atendimento do paciente portador de covid nas unidades hospitalares ou na regulação médica no Complexo Regulador em Saúde do DF, 24 horas semanais.

Em ofício distribuído aos gestores da Secretaria de Saúde, o secretário-adjunto de Assistência à Saúde, Petrus Leonardo Barrón Sanchez, explica que uma reunião, ocorrida no domingo à tarde com dirigentes de hospitais e especialistas analisou o cenário crítico provocado pela pandemia.

Ficou evidente ser necessário unir todos os esforços para combater a contaminação. "Estamos vivenciando período crítico com imensa sobrecarga dos serviços, principalmente hospitalares, em função dos atendimentos aos pacientes portadores de covid-19 no Distrito Federal", explica Petrus.

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Situação se agrava no entorno

Ana Isabel Mansur

Jéssica Moura

23/03/2021

 

 

A situação da covid-19 no Entorno do Distrito Federal segue alarmante. Até a tarde de ontem, segundo dados da Secretaria de Saúde de Goiás (SES-GO), das 18 regiões consideradas, 17 estavam em situação de calamidade, e uma em alerta crítico. No Entorno Sul — formado por Águas Lindas, Cidade Ocidental, Cristalina, Luziânia, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso — a taxa de transmissão do vírus está em 1,69 — cada 100 pessoas podem contaminar, em média, outras 169. Além disso, a mortalidade por covid-19 nessa área aumentou 19,23%, e a ocupação de leitos em unidades de terapia intensiva (UTIs) públicas e privadas para pacientes com a doença chegou a 99,67% (leia Raio-X).

No Hospital de Campanha de Luziânia, visitado pelo Correio ontem, não havia vagas disponíveis para tratamento da doença. Temendo o agravamento da situação, os prefeitos de Águas Lindas, Cidade Ocidental, Luziânia, Valparaíso e do Novo Gama resolveram aderir ao lockdown estadual. Algumas delas adotaram as medidas restritivas na semana passada, com validade inicial até 30 de março. As demais começaram a seguir novas normas ontem.

Antes da publicação do decreto que detalha as restrições, a reportagem havia percorrido alguns desses municípios. Na Cidade Ocidental, apesar do movimento menos intenso, as lojas estavam abertas. No Hospital Municipal, porém, uma fila se formava à porta da unidade de saúde, e os pacientes chegavam a esperar por mais de uma hora pela triagem. Na iminência do fechamento das atividades não essenciais, o comércio no Novo Gama e em Luziânia funcionou de maneira praticamente normal: lojas abertas, transporte público em operação, moradores nas praças e pessoas sem máscaras ou usando-as de modo incorreto.

Em Santo Antônio do Descoberto, as atividades não essenciais funcionavam de forma restrita desde 17 de março — das 5h às 18h e só durante a semana. Entregas em domicílio podem ocorrer até meia-noite, inclusive aos fins de semana. Mas a venda de bebidas alcoólicas está liberada só de segunda a quinta-feira, das 8h às 18h. Já os serviços essenciais podem funcionar todos os dias, porém, das 5h às 20h. No Novo Gama, filas se formavam na calçada da principal avenida comercial da cidade, à entrada de da casa lotérica. Contudo, muitas lojas não estavam abertas e tinham os toldos abaixados.

Colapso

Mesmo com o comércio funcionando com ressalvas, o movimento nas ruas de Valparaíso era intenso, ontem. As medidas restritivas estavam em vigor e, no fim de semana, os estabelecimentos tiveram de manter as portas fechadas. Valdenir Rodrigues, 40 anos, é gerente de uma loja de colchões e teme que as medidas restritivas se prolonguem por mais do que duas semanas. "É difícil. Precisamos trabalhar, tenho dois filhos para criar. Se fecharem, vou ter de voltar a fazer serviço de moto para conseguir uma renda extra. Tento segurar (o dinheiro) o máximo possível", afirma.

Em Luziânia, à porta do hospital inaugurado em maio do ano passado para atender infectados pela covid-19, acumulavam-se pacientes em busca de atendimento. O hospital conta com 40 leitos de UTI, 20 de enfermaria e dois na sala vermelha. Contudo, todos estavam ocupados, segundo uma funcionária da unidade de saúde que preferiu não se identificar.

Depois de apresentar sintomas da infecção pelo coronavírus, a estudante Bruna de Oliveira, 16, visitou o hospital da cidade com o pai, o técnico administrativo Cleiton de Oliveira, 36. "Os comerciantes acham ruim (o fechamento das atividades). Entendo o lado deles, mas é necessário, para diminuir o contágio. Falta um equilíbrio, uma medida que dê certo para todo mundo. Tenho medo de chegar em nossa casa. E acabou de chegar uma pessoa intubada (no hospital, ontem). Dá uma aflição", diz Bruna.