Correio Braziliense, n.21121 , 23/03/2021. Brasil, p.5

 

Saúde acéfala desnorteia os governadores

Bruna Lima

23/03/2021

 

 

O Ministério da Saúde está acéfalo no momento mais agudo da pandemia de covid-19. O diagnóstico é de governadores e secretários de estados e municípios que buscaram a pasta nos últimos dias principalmente para tratar da falta de medicamentos de intubação e de oxigênio. Anunciado há uma semana como novo ministro, o médico Marcelo Queiroga ainda não teve sua nomeação oficializada e não responde pela pasta. Enquanto isso, o general Eduardo Pazuello segue ministro, mas cumprindo uma espécie de "aviso-prévio" no cargo.

O vácuo de liderança impacta o prosseguimento de novas negociações e elaboração de estratégias, bem como as investigações sobre a atuação do Ministério da Saúde no enfrentamento da covid-19. A posse de Queiroga estava prevista para a próxima quinta-feira, 10 dias após o presidente Jair Bolsonaro anunciar o cardiologista como sucessor de Pazuello. No entanto, o Planalto não define a data, que já foi atualizada duas vezes.

Segundo os secretários de saúde de estados e municípios, o porta-voz do ministério é o secretário-executivo da Saúde, Elcio Franco, que deve deixar a pasta junto de Pazuello. A equipe que Queiroga levará à Saúde ainda é desconhecida pelos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS). Sem a oficialização do novo titular do ministério, secretários, governadores e prefeitos aguardam para deliberar sobre as estratégias de enfrentamento, como novos acordos de aquisição de vacinas e medidas que vão além das urgências para que não faltem medicamentos e oxigênio nas UTIs.

A demora para troca de ministro também incomoda lideranças do Centrão. "Um país que se aproxima de 3 mil mortos por dia não pode se dar ao luxo de esperar um indicado para ministro da Saúde passar dias para se desincompatibilizar da empresa da qual é sócio-administrador (Queiroga também é réu em uma ação penal, de 2006, que trata do não recolhimento de contribuições previdenciárias devidas pelo Hospital Prontocor, do qual era administrador). Isso é uma provocação com famílias enlutadas e com gente que luta pela vida em UTIs", escreveu o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), no Twitter, no último domingo.

Apesar de preparar o terreno para deixar o cargo — concluiu a negociação de compra de vacinas com a Pfizer e Moderna antes de ter a demissão confirmada —, Pazuello aguarda o sinal verde para passar o bastão. Novas tratativas estão suspensas até o novo ministro assumir a função.

O atraso também confunde os encaminhamentos para as apurações do Ministério Público Federal (MPF) mirando a pasta e a atuação na condução da crise. Sem um gestor oficial, os novos pedidos de informação para avançar nas investigações deverão ficar para depois da posse.