Correio Braziliense, n.21121 , 23/03/2021. Política, p.2

 

Meta é pressão total sobre Planalto

Augusto Fernandes

Israel Medeiros

Jorge Vasconcellos

23/03/2021

 

 

Parlamentares frisam caráter duro da carta de banqueiros e economistas cobrando eficácia do governo no combate à covid e acreditam que texto terá resposta incisiva do Congresso. Amanhã, Bolsonaro participa de instalação de gabinete para seguir ações do Executivo

A carta elaborada por mais de 500 economistas, banqueiros e empresários, que sugere ao go  verno uma série de medidas  para o  combate à pandemia da covid19, colocou ainda mais pressão sobreo presidente Jair Bolsonaro, já  cobrado por governadores, prefeitos e Congresso por mais eficácia do Planalto nas ações de  enfrentamento ao novo coronavírus. O manifesto, divulgado no fim de semana, encontrou eco entre  parlamentares, que prometeram reforçar as exigências ao mandatário. Inclusive, questionando a posse de Marcelo Queiroga no Ministério da Saúde.

Segundo o deputado João Carlos Bacelar (PodemosBA), a carta deve ter repercussão expressiva  dentro do Congresso nos próximos dias. Os signatários do texto pedem uma “atuação competente” do  Executivo, apontam a demora na vacinação como o principal gargalo da economia, pedem máscaras gratuitas para a população e defendem um lockdown em nível  nacional.

“É uma carta dura com o governo, isso é um sinal. Mas essas coisas nem sempre têm efeito  imediato. Porém à medida que a sociedade começa a perder a paciência e ver que o Legislativo está  conivente com as ações do governo, isso pode mudar rapidamente”, frisou. “As bancadas começam  a sentir a pressão nas redes sociais, e isso reflete na postura do Congresso. Eu espero que meus  colegas leiam a carta, e os deputados que apoiam o governo se conscientizem.” O deputado entende que a hora é de pressionar Bolsonaro. Mas, segundo ele, isso deve ser feito não  apenas por economistas e banqueiros, mas, também, pela sociedade civil e por partidos. “A hora é  de colocar o governo na parede. Ele cometeu negligência e omissão na gerência de recursos”,  disse.

O senador Humberto Costa (PT-PE), ex-ministro da Saúde, afirmou, nas redes sociais, que a carta  mostra que “a desorganização do governo Bolsonaro no combate ao vírus gera mortes, desemprego e recessão econômica”. Ele lembrou que a situação do país é gravíssima e demonstra que o governo perdeu o controle da crise.  “O Ministério da Saúde é incapaz de coordenar qualquer coisa.” A economista Elena Landau assinou o documento e disse que os principais problemas do país são a  falta de união dos governantes na adoção de estratégias para o combate ao vírus e um visível  atraso na compra de imunizantes. “O que falta é vacina, falta planejamento. E falta uma coordenação  diplomática para apurar quais são os países onde as vacinas estão sobrando porque o Brasil se  tornou um epicentro do novo coronavírus. Estamos colocando outros países em risco”, enfatizou. “A  gente     espera que essa carta seja um     alerta, dado o nível de adesão    que  recebeu. É uma carta da sociedade civil preocupada com a pandemia.”      O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PPPR), disse que o texto reflete a   situação difícil que o país enfrenta, mas frisou que o go   verno tem trabalhado para    vacinar a população e vencer          a crise. “A carta contextualiza uma situação que está ocorrendo. Não vou fazer  juízo de valor, mas o presidente Bolsonaro assinou, no ano passado, uma medida provisória  destinando R$ 20 bilhões para a compra de vacinas, portanto, um recurso suficiente para vacinar  todos os brasileiros”, destacou. “O ministro Eduardo Pazuello (da Saúde) tomou as providências  possíveis, viáveis. O governo anunciou que tem 560 milhões de doses de vacinas contratadas, e nosso  esforço, agora, é para que haja o cumprimento dos prazos contratuais, porque estão sendo anunciados  atrasos nas entregas.” Oficialmente, o governo não se pronunciou sobreo texto, mas, ontem,  Bolsonaro se defendeu das alegações de eventual omissão em meio à crise sanitária (leia na página  3). Amanhã, está previsto um encontro dele com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco  (DEM-MG); da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, que deve  marcar a instalação de um gabinete de acompanhamento das ações do Executivo contra a covid-19.