Correio Braziliense, n.21118 , 20/03/2021. Política, p.4

 

Efeito político limitado do auxílio

Luiz Calcagno

Jorge Vasconcelos

20/03/2021

 

 

PODER » Ajuda financeira a ser dada pelo governo, para diminuir a dificuldade das famílias durante a pandemia, pode não trazer o impacto positivo que Bolsonaro espera para a imagem. Afinal, o valor é menor, o tempo de concessão é mais curto e muitos ficarão de fora

O presidente Jair Bolsonaro tem, na nova rodada de pagamento do auxílio emergencial, chances de melhorar a popularidade, em queda com o aumento vertiginoso de mortes pela pandemia da covid-19 — que ontem chegou a 290.314 vidas perdidas. Mas, com menos beneficiados e um valor inferior ao de 2020, são muitas as dúvidas entre políticos e analistas de como a distribuição da ajuda do governo melhorará a imagem do chefe do Poder Executivo junto à população.

O novo socorro terá valor médio de R$ 250, contra os R$ 600 de parte do ano passado, e deve chegar a 45,6 milhões de pessoas. No período anterior, os repasses atingiram 68,2 milhões. Enquanto isso, segundo pesquisa do Datafolha, a reprovação do governo foi de 40% para 44% em janeiro, similar ao índice alcançado em junho de 2020.

Na avaliação do líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF), o dinheiro na mão da população será bem-visto. Mas adverte: não só o valor do auxílio caiu, como os preços de produtos básicos, como arroz e óleo de soja, além de combustível (que impacta no transporte), aumentaram. "Quem já vinha recebendo vai sentir o impacto. Muitos estão desesperados, passando fome, pois não têm o que comer. Pagar R$ 150 para uma pessoa, para o mês todo, ou R$ 250 para a família, é difícil. Por outro lado, o Brasil tem uma dívida grande, deficit, orçamento comprometido. Não temos onde cortar", avaliou.

O líder da minoria no Senado, senador Jean Paul Prates (PT-RN), acredita que a redução nos valores e no atendimento tem potencial para provocar um efeito contrário ao de 2020. Isso porque quem receber o auxílio tenderá a pensar que o governo não faz mais que a obrigação. E quem ficou de fora estará insatisfeito. "Em três meses, teremos que discutir outra PEC. É o segredo do insucesso", sentenciou.

Na Câmara, um dos vice-líderes do Centrão, o deputado Cacá Leão (PP-BA), afirmou que a preocupação não é com a popularidade do presidente. E lamentou que o valor tenha vindo mais baixo. "Gostariamos da continuidade dos R$ 600, mas sabemos que seria muito alto. Esperamos que consiga o principal: levar alimento para as famílias e ajudar a melhorar a economia", afirmou. O líder da oposição, André Figueiredo (PDT-CE), é tachativo. "O auxílio que o governo encaminha por meio de medida provisória é completamente insuficiente. É insignificante", disparou.

Para o cientista político André Pereira César, a retomada ao auxílio emergencial poderá ajudar a recuperar a popularidade de Bolsonaro, mas em um grau menor que o verificado no ano passado. "Milhões de pessoas ficaram sem receber nada durante três meses (janeiro a março de 2021), então, qualquer dinheiro que entra está valendo. Isso pode causar um efeito positivo na avaliação do presidente. Mas o trabalhador que recebeu no ano passado, e não vai ter agora, ficará frustrado. Considero que o impacto favorável na avaliação do presidente será muito menor do que em 2020", salientou.