O Globo, n.31992 , 10/03/2021. País, p.09

 

Câmara: Bolsonaristas e Aécio assumem comissões

Renato Góes

Natália Portinari

10/03/2021

 

 

Acordo costurado por Lira vai entregar a defensoras radicais do governo comando dos colegiados de Constituição e Justiça, com Bia Kicis (PSL-DF), e do Meio Ambiente, com Carla Zambelli (PSL-SP); tucano presidirá Relações Exteriores

Líderes partidários ratificaram ontem o acordo costurado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para a distribuição das comissões temáticas da Casa entre as siglas. Dois dos colegiados que caberão ao PSL serão presididos por deputadas eleitas na onda bolsonarista de 2018 e de atuação política de defesa radical do governo. Bia Kicis (PSL-DF) comandará a principal comissão, a de Constituição e Justiça (CCJ), responsável por analisar a constitucionalidade dos projetos. Seu nome sofreu resistência inicial porque Kicis é investigada nos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos, que correm no Supremo Tribunal Federal (STF).

Carla Zambelli (PSL-SP) deverá presidir a comissão de Meio Ambiente. Já o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), ex-candidato a presidente e réu depois que foram reveladas conversas suas pedindo R$ 2 milhões emprestados ao empresário Joesley Batista, assumirá a de Relações Exteriores. As indicações precisam ser confirmadas por eleição entre os membros de cada comissão, mas Lira avisou ontem na reunião de líderes que vai retaliar qualquer partido que fizer manobras para desfazer o acordo.

Ao final de divergências sobre o acordo, o PP, partido de Lira, teve de ceder a presidência da Relações Exteriores para Aécio, sob o argumento de que o compromisso de dar ao tucano um comando de comissão foi feito pessoalmente pelo presidente da Câmara, sem outras lideranças.

Após costura entre diversos partidos, o PSL, que também tinha interesse no colegiado, cedeu e ficará com a Comissão de Agricultura. A indicada para esse grupo deve ser a deputada Aline Sleutjes (PSL-RR). Houve acordo para pelo menos cinco trocas desde o arranjo inicial.

Na tarde de ontem, Lira disse que a tramitação das propostas voltará a ser feita de acordo com regras anteriores à pandemia. Isso significa que Propostas de Emenda à Constituição, por exemplo, não poderão ir diretamente ao plenário. Antes, terão que passar, obrigatoriamente, pela CCJ. A PEC Emergencial, portanto, deve ser a última a ser analisada pelo modelo atual.

— Amanhã (hoje) teremos eleições, mesmo para que haja um funcionamento remoto, por enquanto. A eleição também será virtual para que todos os partidos tenham as comissões temáticas resolvidas e que matérias possam ter o ritmo normal a partir de amanhã —disse Lira.