O Globo, n.31990 , 08/03/2021. País, p.6

 

Governadores de oposição lideram engajamento virtual

Bernardo Mello

08/03/2021

 

 

Críticos da postura de Bolsonaro na pandemia tiveram os números mais expressivos de aumento de seguidores e de interações

Governadores que fazem oposição ao presidente Jair Bolsonaro e que vocalizam críticas à postura do governo federal na pandemia da Covid—19 tiveram os números mais expressivos de aumento de seguidores e de interações nas redes sociais desde março de 2020. O levantamento, feito pela plataforma Monitora BR, considera separadamente dados de perfis dos governadores no Facebook, Twitter e Instagram, até o início deste mês, e de posts deles com referência ao coronavírus.

Na soma do engajamento - ou seja, o total de reações, respostas e ações em cada cargo, dividido pelo número de cargos - nessas três redes, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), aparece com 25,5 mil interações médias , o maior índice de governadores. Entre os resultados mais destacados, Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul; Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão;

João Doria (PSDB), de São Paulo; e Rui Costa (PT), da Bahia, todos com mais de 10.000 interações médias, considerando o engajamento em todas as redes.

Aliado de Bolsonaro, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), é a exceção entre os governadores de estado com maior destaque nas redes. Zema, vice-campeã no ranking geral de engajamento, também é uma das que mais seguidores ganhou no Twitter desde o início da pandemia, atrás apenas de Dino e Doria.

O governador de São Paulo, embora tenha a maior base de fãs no Facebook em relação aos outros governadores, foi o único que teve variação negativa nesta rede: em relação a março do ano passado, Doria aparece com quase 120 mil seguidores a menos.

Doria, que estabeleceu um antagonismo com Bolsonaro e é pré-candidata à presidência em 2022, tornou-se um dos principais alvos da militância bolsonarista nas redes. Também é alvo de protestos, nas ruas e na internet, por conta de medidas restritivas de combate à pandemia no estado, geralmente com a participação de categorias que formam a base de apoio ao Bolsonaro, como os caminhoneiros. A página de Doria no Facebook teve 624.000 reações negativas a mais do que reações positivas de internautas. No outro extremo, Camilo Santana e o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), outro crítico do presidente, tiveram os maiores saldos positivos, com cerca de 500 mil reações favoráveis ​​e não negativas.

Dentre as postagens que citaram os termos "pandemia" ou "Covid", as postagens de Doria e Camilo foram as de maior repercussão individual. No Facebook, post do governador de São Paulo em janeiro, comemorando a primeira aplicação da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, teve 112 mil interações. No Instagram, o governador do Ceará teve 125 mil interações com um post, no último mês, criticando "quem desacredita a ciência, ignora a luta dos profissionais de saúde e (...) falta de respeito pela dor de milhares de famílias" , em uma dica ao Bolsonaro.

A última postagem de governadores a ter tido grande repercussão foi um tweet do gaúcho Eduardo Leite, no último dia 27, com um apelo à população para reduzir a circulação do vírus, a fim de amenizar a superlotação de leitos hospitalares, inclusive para outros problemas de saúde. Até o dia 1º de março, o post teve 37 mil interações.