O Globo, n.31989 , 07/03/2021. País p.5

 

Pisando em ovos para manter boa relação com Bolsonaro

Marcelo Remigio

07/03/2021

 

 

Alvo de ataques de Carlos, mas aliado de Flávio, Eduardo Paes busca equilíbrio em troca de apoio do Palácio do Planalto

À frente de uma prefeitura com sérios problemas de caixa, Eduardo Paes (DEM-RJ) chega ao terceiro mês de governo se equilibrando para manter um bom relacionamento com o presidente Jair Bolsonaro, mas sem abandonar pautas como medidas restritivas para conter o avanço da Covid-19. O tema tem irritado a família do titular do Palácio do Planalto.

A fim de equalizar essa relação, Paes conta com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), articulador político da família, como principal aliado. Foi numa ligação por vídeo com o parlamentar que o prefeito do Rio falou com o presidente pela primeira vez após ser eleito.

No início deste mês, Paes reencontrou Flávio durante cerimônia de aniversário de 456 anos da cidade, no Cristo Redentor. Segundo uma fonte que acompanha de perto a relação, o encontro serviu para o prefeito mandar um recado ao presidente e fazer um pedido ao senador.

De acordo com o interlocutor, Paes pediu a Flávio que não acreditasse em supostas críticas feitas por ele à família Bolsonaro. O prefeito ainda teria sugerido que a mensagem chegasse até o presidente.

DIVERGÊNCIA NAS REDES

Mas se com Flávio a relação é amistosa, o mesmo não acontece em relação ao seu irmão, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Por meio das redes sociais, Carlos tem feito ataques à gestão de Paes e à sua equipe de trabalho. O prefeito do Rio rebate as críticas, mas procura evitar grandes embates.

Uma briga com a família poderia respingar na relação com o Palácio do Planalto, o que não seria bom para a prefeitura do Rio. “Prefeito Eduardo Paes, é desta maneira que quer manter boas relações para reconstruir nossa cidade? Com nomeações em cargo na estrutura da sua Prefeitura apoiando abertamente o ódio ao Presidente da República?”, escreveu recentemente no Twitter Carlos Bolsonaro, sobre o ator Marcelo Serrado no cargo de diretor artístico da Fundação Cidade de Artes. O ator desejou numa rede social “energias ruins” para o presidente, numa alusão à sua saída do Planalto.

Em outra postagem crítica a Paes, Carlos afirmou: “(...) assessor especial da Presidência da Cidade ‘Elefante Branco Milionário’ da Música e funcionário de Paes promete obras ‘melhorias’! As mesmas obras ignoradas pela atual gestão nos 8 anos anteriores.” Ao se defender do primeiro ataque de Carlos, Paes publicou nas redes sociais: “Opa. Tô precisando de uma ajudinha lá em Brasília: derrubada do veto ao art. 26 da LC178/21. Permite refinanciar parcelas da dívida externa do Rio em R$ 500 mi esse ano. Estamos precisando.

O antecessor (lembra dele?) [o ex-prefeito Marcelo Crivella] deixou um rombo enorme. Já solicitei ao presidente, com quem estive ontem, aliás tendo sido muito bem recebido. Quanto a cercear a opinião dos outros na minha administração, não vai rolar. Não concordo com tudo que todos dizem, mas faz tempo que já aprendi a respeitar opiniões diferentes. Abs”. Enquanto impõe medidas restritivas para conter a pandemia, o prefeito coloca em discussão o projeto para armar a Guarda Municipal da capital. Ao apresentar a proposta a vereadores durante um almoço, Paes mostrou empenho e interesse em levar à frente a ideia, que agrada aos bolsonaristas.

O projeto para armar a GM não foi uma das principais promessas da campanha eleitoral de Paes. Aliás, durante o pleito, o então candidato evitou polarizar com a família Bolsonaro —que apoiou a reeleição de Crivella —e pregou um entendimento com a União (Colaborou João Paulo Saconi)