O Globo, n.31988 , 06/03/2021. Sociedade p.8

 

Guerra ao vírus

Ana Letícia Leão

Giuliana de Toledo

06/03/2021

 

 

Governo de SP anuncia novos hospitais de campanha e convoca voluntários

 

A disparada de casos e internações pela Covid-19 no estado fez o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciar ontem que vai reabrir hospitais de campanha para atendimento a pacientes. O estado teve nesta sexta-feira o sétimo dia seguido de recorde na ocupação de leitos de UTI, registrando a taxa de 78,5%. E, para ajudar no que chamou de “guerra” contra o vírus, o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, convocou o trabalho voluntário de profissionais da saúde do estado, que entrou hoje na fase vermelha, de alerta máximo e com várias atividades suspensas desde ameia-noite.

— Precisamos agora do apoio dos conselhos de classe, do Conselho Regional de Medicina, do Conselho Regional de Fisioterapia, do Conselho Regional de Enfermagem, para que nos ajudem com voluntários. Nós precisamos de ajuda, porque estamos em guerra — disse Gorinchteyn. O secretário chegou a afirmar que, caso as pessoas precisassem de atendimento, não deixariam de ser atendidas no estado, “nem que agente coloque em qualquer local cilindros de oxigênio e distribua as pessoas até mesmo nos corredores”. Doria, no entanto, ao detalhar os planos, afirmou que a implementação das novas estruturas terá o intuito de evitar esse tipo de situação:

—Entendo a preocupação e até o sentimento de um médico infectologista como o doutor Jean, mas não queremos atender pacientes em corredores, queremos atender pacientes em quartos e de forma digna. E é o que nós vamos fazer aqui. Assim, informou que , diferentemente das estruturas montadas no início da pandemia, voltadas ao atendimento primário e menos grave, desta vez serão viabilizados mais leitos de UTI nos hospitais de campanha.

A ideia é que sejam montadas estruturas dentro das próprias unidades hospitalares já existentes.

— Não imaginem que vamos montar tendas, seja onde for. Esse procedimento não vamos adotar. Sem critica roque foi feito, porque foi feito o que precisava ser feito. Mas nós estaremos dentro de uma unidade hospitalar, será um hospital —explicou o governador. Durante o anúncio, ele chegou a afirmar que o Brasil está na iminência de um colapso diante do avanço da Covid-19.

—A saúde pública no Brasil está na iminência de sofrer um completo colapso. Nosso país virou uma ameaça sanitária não apenas aos brasileiros, mas ao mundo. O Brasil hoje é o epicentro da pandemia, com 17% dos casos de Covid no planeta. Os dados são da Organização Mundial da Saúde —disse Doria.

RISCO PARA AMÉRICA LATINA

Depois de alertar, na semana passada, que o “Brasil vive uma tragédia”, diretores da Organização Mundial da Saúde (OMS) cobraram ontem medidas mais rígidas e disseram que o aumento dos casos de Covid-19 no Brasil pode impactar toda a América Latina.

— Se o Brasil não for sério, vai continuar a afetar toda a vizinhança lá e além. Não é só sobre o Brasil — afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da organização, que fez um apelo:

— A situação é muito séria, muito preocupante. As medidas de saúde pública a serem adotadas pelo Brasil deveriam ser agressivas, enquanto, ao mesmo tempo, distribui vacinas.

O país vive seu pior momento na pandemia, que já dura um ano. Dados do consórcio de veículos de imprensa desta sexta mostraram que o Brasil bateu, pelo sétimo dia consecutivo, o recorde de média móvel de mortes :1.423. O país também contabilizou 1.760 óbitos em apenas 24 horas, elevando para 262.948 o total de vidas perdidas para o novo coronavírus.

A situação vem pressionando a rede hospitalar em todo o país: a taxa de ocupação nas unidades intensivas da rede pública supera os 80% em 17 estados e no Distrito Federal (veja mapa ao lado).

TRÊS MIL MORTES POR DIA

Integrantes da cúpula do Ministério da Saúde avaliam que o Brasil vai viver nas próximas duas semanas o pior momento da pandemia de Covid-19, com os registros de mortes por dia passando de 3 mil, de acordo com reportagem do jornal Valor Econômico publicada ontem. Na última semana, o país registrou um pico de 1.840 óbitos na quarta-feira. Segundo o jornal, o governo federal cogita construir hospitais de campanha nos próximos dia sevai estimular que estados reabram estruturas do tipo que foram fechadas. Tirando isso, de acordo coma reportagem, o Ministério da Saúde aval iaque não há muito o que fazer. A decretação de um lockdown nacional estaria descartada.

As preocupações da pasta estão direcionadas para a Região Sul, onde os três estados estão à beira do colapso. Também há apreensão pela falta de leitos na Região Norte, apesar de um número menor de casos. A situação de Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Goiás também gera alerta. No médio prazo, a equipe do ministro Eduardo Pazuello acredita que a vacinação começará a acelerara partir deste mês, com uma maior produção do Instituto Butantan e da Fiocruz. (Colaboraram Raphaela Ramos e Jan Niklas, do Rio)

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Vacina de Oxford pode ser eficaz contra variante brasileira, indica estudo

06/03/2021

 

 

Dados preliminares de um estudo feito pela Universidade de Oxford e pela AstraZeneca indicam que a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela farmacêutica com a universidade britânica induz resposta adequada contra a chamada variante brasileira do coronavírus, disse à Reuters, sob condição de anonimato, nesta sextafeira uma fonte com conhecimento sobre o assunto.

Dados preliminares do estudo, realizado com amostras da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), indicam que, por ora, não será necessário fazer adaptações à vacina para que ela proteja contra avariante brasileira (P1), que tem se mostrado mais transmissível. Procurada pelo GLOBO, a Fio cruz não se pronunciou. A fonte ouvida pela Reuters acrescentou ainda que os resultados definitivos do estudo devem sair “muito em breve”, possivelmente ainda este mês.

Em nota ao GLOBO, a AstraZeneca confirmou que “atualmente, há estudos em andamento para avaliar a resposta imune da vacina à variante P1 (brasileira). Esses dados serão publicados tão logo estejam disponíveis”. A variante do coronavírus descoberta inicialmente em Manaus vem sendo apontada como um dos possíveis fatores que levaram ao recrudescimento da pandemia no Brasil. A doença já matou mais de 262 mil pessoas no país. A Fiocruz firmou parceria com a AstraZeneca para o envase e a futura produção da vacina no Brasil e é a maior aposta do governo federal.