O Globo, n. 31982, 28/02/2021. País, p.7

 

Senadores resistem à PEC da Imunidade .

Para líderes partidários, proposta, que sofreu revés na Câmara, não deveria ser debatida no Senado

 

JULIA LINDNER

julia.lindner@bsb.oglobo.com.br

 

Em meio a dificuldades para conseguir votar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Imunidade na Câmara, senadores indicam que o caminho deve ser ainda mais difícil na outra Casa Legislativa. Líderes de diferentes correntes políticas argumentam que o momento não é apropriado e o assunto não é prioritário. Na Câmara, o assunto chegou a ser levado direto ao plenário, mas uma série de reações obrigou os defensores da aprovação a voltarem atrás, e o tema agora será direcionado para uma Comissão Especial.

O líder do PSD, Nelsinho Trad (MS), que representa a segunda maior bancada do Senado, avaliou que o tema não deve nem sequer ser pautado na Casa.

—Eu acho isso um absurdo na situação em que o Brasil está vivendo, de pandemia, com várias pautas mais importantes, gente morrendo por falta de oxigênio, e uma matéria como essa para poder privilegiar uma casta de privilegiados. Pelo amor de Deus, onde vamos parar desse jeito?

Depois falam mal dos políticos e não sabem o porquê. Eu vou ser contra pautar isso no Senado — declarou Trad ao GLOBO.

 

“TEXTO INAPROPRIADO”

Em linha semelhante, o líder do PSDB, Izalci Lucas (DF), afirmou que a proposta vai enfrentar “muita dificuldade” para ser aprovada. O senador tucano pondera que o assunto da PEC é relevante para impedir que um parlamentar possa ter o mandato cassado por meio de uma decisão judicial monocrática, mas que “o momento não é oportuno”:

— Isso tinha que ter sido discutido fora do momento que está aí. Acho que vai ter resistência no Senado. Com certeza no Senado não vai ter essa urgência urgentíssima. As coisas têm que ser debatidas no momento sereno.

O líder da oposição no Senado, Jean Paul Prates (PTPR), também avalia que o projeto será tratado de maneira distinta na Casa. — Tenho conversado com vários senadores, e eles consideram inapropriada a proposta. Por isso, não acredito que o Senado aprove essa maluquice. Como parlamentar, me sinto envergonhado ao ver uma PEC como essa tramitando no Congresso Nacional. O brasileiro sofre com a pandemia e o desemprego e alguém se preocupa neste momento em blindar deputados e senadores que ultrapassam a linha da legalidade? É vergonhoso. O líder do Podemos, Alvaro Dias (PR), também prometeu que o partido vai impor resistência à tramitação do texto. Na visão dele, o tema não é “nada relevante no momento” e por isso a matéria não deve ser apreciada de maneira apressada: — Isso está na contramão do que deseja a sociedade. É um retrocesso e não concordamos com essa manobra, especialmente da forma como se deu.

Nas redes sociais, a senadora Simone Tebet (MDBMS) comemorou que o texto foi retirado da pauta de votações da Câmara: “Imprensa vigilante, redes socais ativas e sociedade participativa impediram votação da PEC da impunidade”, escreveu no Twitter, fazendo referência à forma como a proposta passou a ser chamada pelos críticos. Na quinta-feira, antes de o projeto sofrer um revés na Câmara, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), já havia evitado se comprometer com o ritmo de tramitação da PEC.