Correio Braziliense, n.21115 , 17/03/2021. Economia, p.6

 

Emprego formal em janeiro bate recorde

Rosana Hessel

17/03/2021

 

 

CONJUNTURA » De acordo com o Caged, foram criadas 260.353 vagas de trabalho formal no primeiro mês do ano. Mas especialistas alertam que, devido ao recrudescimento da pandemia de covid-19, os bons números não devem se repetir a partir de fevereiro

O governo federal registrou, em janeiro, volume recorde de criação de empregos formais. Conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, divulgados ontem, foram criadas 260.353 vagas de trabalho com carteira assinada no primeiro mês de 2021, revertendo o saldo negativo de dezembro, nos dados com ajustes. O salário médio de admissão ficou em R$ 1.760,14 — 1,15% acima dos R$ 1.740,08 de dezembro.

O número contabilizando em janeiro foi o maior para o mês desde o início da série histórica, iniciada em 1992, e ficou 121% acima dos 117.793 no mesmo intervalo de 2020. Mas analistas ouvidos pelo Correio afirmam que é preciso cautela ao analisar tais números, pois, com o agravamento da pandemia do novo coronavírus, não se verá números tão positivos pelo menos até junho.

Um dos motivos é que a atividade econômica não decolará tão facilmente, devido ao atraso na vacinação e ao aumento expressivo de casos e de mortes pela covid-19. Isso tem feito as projeções indicarem queda do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro e no segundo trimestres deste ano — ou seja, uma recessão técnica em um cenário de inflação crescente.

Bons efeitos

Analistas destacam que o aumento de vagas formais em janeiro está relacionado mais aos efeitos do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) do que à retomada da economia. O empregador que aderiu ao plano para redução de jornada e salário não poderá demitir o funcionário até agosto, dependendo do mês em que o acordo foi celebrado. Conforme dados do Ministério da Economia, 3,5 milhões de trabalhadores não puderam ser mandados embora em janeiro porque estavam protegidos pelo BEm.

Não à toa, o saldo computado pelo Caged ficou bem acima das projeções do mercado. "O número veio mais forte do que imaginávamos e tem os efeitos do BEm. Mas haverá uma boa desaceleração na abertura de empregos formais até a junho, porque a atividade econômica ainda não deve se recuperar no cenário de agravamento da pandemia e com estados adotando medidas de distanciamento", avaliou a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, que previa 170 mil vagas formais em janeiro. Segundo ela, mesmo com a prorrogação do BEm e de programas de crédito com o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), o volume de geração de emprego não deve se elevar devido ao agravamento da pandemia.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, salientou que, apesar de janeiro, "é provável que em fevereiro e em março tenhamos reversão de parte desse crescimento. O BEm foi um programa que funcionou e deveria ser pensado em como ser mantido na pandemia. Se voltar, pode manter as pessoas protegidas".

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, reforçou que o bom resultado do Caged de janeiro não é capaz de reverter a perspectiva ruim para o trabalho nos próximos meses. "O recrudescimento da pandemia rouba a perspectiva sobre os cenários positivos", observou.

Ao apresentar os dados do Caged, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, criticou as medidas de distanciamento social adotadas por vários estados. "O fechamento generalizado traz problemas significativos para a economia. Preservar emprego e renda é preservar a segurança alimentar", afirmou.

A indústria liderou o ranking das contratações, respondendo por 90.431 vagas, e o setor de serviços registrou o segundo maior volume de admissões, 83.686. O comércio foi o que menos empregou: 9.848. Os dados mostram que São Paulo foi o estado onde apareceram mais novos postos: 75.203. Na contramão, Alagoas, Paraíba e Rio de Janeiro registraram fechamento de vagas.

Melhor da história

Em janeiro, foram geradas 260,3 mil vagas formais no mercado de trabalho, maior volume da série histórica do Caged, segundo o Ministério da Economia.

Evolução mensal

Mês Saldo da diferença entre admissões e demissões
jan20 117.793
fev20 225.414
mar20 -274.091
abr20 -954.571
mai20 -368.800
jun20 -27.054
jul20 138.135
ago20 243.012
set20 317.509
out20 391.144
nov20 397.575
dez20 -93.726
jan21 260.353

Setores que mais criaram vagas em janeiro

Segmento Vagas criadas
Indústria 90.431
Serviços 83.686
Construção 43.498
Agropecuária 32.986
Comércio 9.848

» Estoque de vagas no mercado de trabalho – 39.623.321
» Salário médio das admissões em janeiro – R$ 1.760,14

*Fonte: Caged/Ministério da Economia