Título: Abertura de arquivos da ditadura adiada para janeiro
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/12/2008, País, p. A10

Ministro admite que sua atitude deixa presidente Lula insatisfeito.

São Paulo

Previsto para acontecer já no próximo mês, o lançamento do programa Memória Viva do governo federal --que dará acesso público aos arquivos do período militar no país (1964-1985)-- ficará para janeiro, informou nesta segunda-feira o ministro Paulo Vannuchi (Direitos Humanos). O adiamento, segundo ele, foi acertado com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).

A orientação da ministra é que, embora esteja tudo pronto para que os arquivos possam ser disponibilizados, a proximidade com o fim do ano e o período de recesso atrapalharia uma maior divulgação do tema.

¿ Temos 17 Estados que já aderiram colocar seus arquivos sobre a repressão política em conexão com arquivos da repressão política da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) ¿ afirmou Vannuchi, que ontem participou de ato em favor da abertura dos arquivos na Alesp (Assembléia Legislativa de São Paulo).

Insatisfação

O ministro chegou a admitir que seu engajamento em rever as questões ligadas a ditadura desagradou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em 2005 expressou sua insatisfação com a maneira como o tema estava sendo tratado.

Além de defender a abertura dos arquivos da ditadura, Vannuchi apóia a punição dos torturadores da ditadura por entender que a Lei de Anistia não os beneficiaria. Para o ministro, essa defesa tem de ser feita para honrar a biografia do presidente Lula. Nos últimos meses, o presidente deu diversas declarações desautorizando o ministro e defendendo a tese de que a questão permaneça restrita a seus desdobramentos judiciais.

¿ Estou mexendo, vou continuar mexendo ¿ disse, se referindo ao polêmico assunto. ¿ Ao fazê-lo, estou observando também pela sua própria biografia. O senhor não pode terminar oito anos (de mandato) sem ter uma solução para esse tema. Pode não ser a ideal, pode não ser a desejada por todos nós, mas que seja pelo menos uma solução.

O ministro ainda falou que esta não é uma luta que trava apenas ao lado do ministro Tarso Genro (Justiça). Ele diz ter apoio de vários outros ministros, embora tenha preferido não nomeá-los.

Impessoalidade

¿ É importante levarmos a questão de forma mais "impessoalizada" possível ¿ avaliou. ¿ Temos que trabalhar a idéia de dever de Estado, dever do governo federal, dever do Judiciário. Não é uma posição do Tarso e minha, como na imprensa fica caracterizado.

Tanto Vannuchi quanto Tarso já expressaram publicamente a vontade de rever a lei que concedeu anistia aos militares que praticaram atos de tortura durante a ditadura. Eles alegam que os atos cometidos não podem ser enquadrados como crimes políticos, devendo ser julgados como criminosos comum. (Folhapress)