O globo, n. 31973, 19/02/2021. Sociedade, p. 14

 

Governo acusa Butantan de atrasar vacinação

Paula Ferreira

19/02/2021

 

 

Ministério divulga nota avisando que não cumprirá cronograma porque instituto não entregará doses previstas; governo paulista rebate dizendo que “desgaste diplomático em relação à China' atrapalhou chegada de matéria-prima

O Ministério da Saúde anunciou ontem que não cumprirá o cronograma divulgado pela própria pasta anteontem. Segundo o ministério, o Instituto Butantan fornecerá apenas 2,7 milhões de doses em fevereiro, o que corresponde a 30% das 9,3 milhões de doses anunciadas inicialmente pelo governo federal. Em resposta, o Butantan afirmou que o órgão “ignora fatos”, disse que entregará 3,6 milhões de doses neste mês e citou “desgaste diplomático causado pelo governo brasileiro em relação à China” como causa de atraso da matéria-prima para produção de vacina.

Segundo nota do Ministério da Saúde, o órgão foi informado sobre a mudança no ritmo de entregas na tarde de ontem, por meio de um ofício. O comunicado afirma que a “redução no número de vacinas quebra a expectativa do Ministério da Saúde de cumprir o cronograma divulgado ontem (anteontem) pelo ministro Eduardo Pazuello”.

Na quarta-feira, após reunião com governadores, a pasta prometeu o fornecimento de cerca de 220 milhões de novas doses de vacina contra Covid-19 até julho. A expectativa era de que já em fevereiro fossem fornecidas 11,3 milhões de doses, das quais 9,3 seriam CoronaVac e 2 milhões da vacina de Oxford.

“A dificuldade em manter o cronograma inicial, neste momento, está em o Butantan conseguir cumprir as entregas das doses previstas em contrato. Diante da situação, o Ministério da Saúde precisará rever a distribuição das doses das vacinas relativas ao mês de fevereiro, divulgada aos secretários de saúde dos estados e Distrito Federal”, diz o texto divulgado ontem.

Em resposta ao comunicado divulgado pelo Ministério da Saúde, o Instituto Butantan disse que, em todo o mês de fevereiro, vai entregar 3,6 milhões de doses da CoronaVac. Desse total, 1,1 milhão de vacinas foram entregues no último dia 5 e outras 2,5 milhões serão disponibilizadas entre os dias 23 e 28. Há outras 852 mil doses que devem ficar prontas na primeira semana de março. O número é menor que o previsto no acordo com o Ministério da Saúde.

O governo paulista alega que a diferença ocorre por causa do atraso na liberação de insumos que vêm da China. A matéria-prima da CoronaVac deveria chegar na primeira quinzena de janeiro, mas só desembarcou no Brasil nos dias 3 e 10 de fevereiro. Segundo nota do Butantan, o governo federal foi responsável pelo atraso ao provocar um “desgaste diplomático” com os chineses.

Em janeiro, o Ministério da Saúde assinou um contrato para comprar 46 milhões de doses da CoronaVac. O Butantan afirma que, em janeiro, cumpriu o acordo e entregou ao Ministério da Saúde, as 8,7 milhões de doses previstas.

Em vídeo, o secretário executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, cobrou o cumprimento do cronograma por parte do Butantan. De acordo com ele, diante do atraso, a pasta vai ter que rever os grupos prioritários e suspender a planilha com previsão de distribuição que havia sido repassada aos secretários estaduais de Saúde.