Correio Braziliense, n. 21110, 12/03/2021. Política, p. 2

 

Bolsonaro prevê caos social com lockdown...

Carinne Souza 

12/03/2021

 

 

Mesmo com as mais de 270 mil mortes pela covid-19 no país, o colapso no sistema de saúde e a vacinação lenta da população, o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar o lockdown adotado por estados e o Distrito Federal. Na visão dele, governadores e prefeitos estão "destruindo" a economia. "Até quando? Até quando nossa economia vai resistir? Se colapsar, vai ser uma desgraça. O que poderemos ter brevemente? Invasão a supermercado, fogo em ônibus, greves, piquetes, paralisações", enumerou. "Aonde vamos chegar? Será tarde para o sapo sair da panela", emendou, durante participação virtual em reunião da Frente Parlamentar Mista das Micro e Pequenas Empresas, do Congresso Nacional.

Bolsonaro disse que as medidas de contenção do novo coronavírus são irresponsáveis. "Ficamos praticamente um ano em lockdown e começamos este ano com novas medidas seriamente restritivas, até para cancelar o futebol", disse. "Eles (prefeitos e governadores) não querem salvar vidas, querem poder", enfatizou. Segundo o mandatário, as ações implementadas são para "prejudicar a economia e o presidente da República".

O toque de recolher, decretado em São Paulo (leia reportagem na página 5) e no Distrito Federal, também foi alvo de reprovação de Bolsonaro, que chamou a iniciativa de "estado de sítio". "De 22h às 5h da manhã ninguém pode andar. Só eu poderia tomar uma medida dessa e, assim mesmo, ouvindo o Congresso Nacional. Então, na verdade, medida extrema dessa, só o presidente da República e o Congresso Nacional poderiam tomar. E nós vamos deixando isso acontecer", disparou. A lei, porém, garante direito aos governadores de adotarem tais medidas em períodos de calamidade na saúde.

O chefe do Planalto rebateu críticas contra o governo e afirmou que a administração federal não tem ficado "à margem do que está acontecendo". Nesta semana, a atuação do Executivo na crise sanitária foi reprovada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo governador de São Paulo, João Doria, dois possíveis candidatos à eleição presidencial de 2022.

De acordo com Bolsonaro, o governo tomou medidas para combater o novo coronavírus desde o "primeiro momento". Por isso, segundo ressaltou, não pode ser acusado de negacionista, terraplanista ou genocida. "Estamos no caminho certo. Faremos de tudo possível para diminuir o número de mortes e, se Deus quiser, zerar o número de mortes no Brasil, no tocante à vacina, no tocante ao coronavírus", destacou.
O comandante do Planalto também negou que tenha se posicionado contra a saúde das pessoas, apesar de minimizar a covid-19 desde o início da pandemia, quando, por exemplo, chamou o vírus de "gripezinha". Ele reforçou que "emprego também é vida". "Você que está empregado, estamos trabalhando para manter seu emprego, não estamos fazendo política", afirmou.

O presidente disse "lamentar todas as mortes". "Lamento esta desgraça que se abateu sobre o mundo, mas nós temos que olhar para frente, buscar minimizar a dor dessas pessoas, buscar minimizá-la com vacina", afirmou. "Toma vacina. Abrimos para comprar praticamente de todos os laboratórios depois de aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)." O presidente sustentou que nunca foi contra imunizantes. Em dezembro, porém, garantiu que não tomaria vacina. (Com Agência Estado)

*Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa

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... E mourão diz que governo não pode causar pânico 

12/03/2021

 

 

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro prevê caos com o lockdown decretado por estados e o DF, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que o governo não pode fazer "um discurso de pânico". Ele afirmou que o pronunciamento mais taxativo da cúpula do Executivo federal não aconteceu antes porque isso é "um processo". Ontem, um ano depois da decretação da pandemia no Brasil e no mundo, Bolsonaro e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, classificaram a situação da pandemia como "grave".

"Na nossa forma de pensar, não compete ao governo causar pânico. Compete ao governo tomar as medidas necessárias para que se resguarde a saúde da população e também a sua capacidade de gerar renda", enfatizou Mourão.

Questionado sobre a possibilidade de acontecer no Brasil o que vem ocorrendo nos Estados Unidos, onde planos de saúde e até mesmo o governo têm sido processados por conta do uso da cloroquina, Mourão disse não acreditar que o caso possa se repetir no país.
"Eu tomei 'esse troço' e 'tô' aqui. Então, faça uma enquete para valer com todas as pessoas que se curaram, qual foi o remédio que foi utilizado", disse. O vice, porém, fez uma ressalva, frisando que a prescrição é sempre do médico: "Cada médico escolhe um protocolo no sentido de tentar curar um paciente", argumentou.

Apuração
Na quarta-feira, o procurador-geral da República, Augusto Aras, encaminhou manifestação ao Supremo Tribunal Federal (STF), informando que tramitam na instituição, para apuração disciplinar, quatro notícias de fato contra Bolsonaro e ministros do governo em razão da defesa da uso de cloroquina, azitromicina e ivermectina no tratamento da covid-19, sem comprovação científica.

A indicação foi feita à ministra Rosa Weber, que encaminhou à PGR uma notícia-crime do PDT contra o presidente. Aras indicou que a instituição já estava a par das questões levantadas pelo partido e pediu que a queixa-crime fosse negada, em razão das apurações preliminares já abertas.

"Os fatos narrados pelo noticiante já são de conhecimento da Procuradoria-Geral da República, no âmbito da qual tramitam, para apuração preliminar, a Notícia de Fato 1.00.000 014993/2020-01, instaurada em desfavor do noticiado, bem como outros procedimentos instaurados em desfavor de ministros de Estado em tese envolvidos nos fatos. Caso surjam indícios mais robustos da possível prática de ilícitos pelo requerido, serão adotadas as medidas cabíveis", registrou o PGR no documento.

Na notícia-crime apresentada ao Supremo, o PDT acusou Bolsonaro de expor a vida ou a saúde de pessoas a perigo direto e iminente. "Houve excessiva difusão da cloroquina, com prováveis ilegalidades no gasto do dinheiro público, quando não há sequer estudo científico que comprove a eficácia do medicamento no combate e prevenção ao novo coronavírus", alegou a legenda.